Apesar de
indicadores favoráveis, retomada da economia ainda patina
Felipe Boutros
O discurso do
presidente Michel Temer (PMDB), de que a economia está em recuperação, afunda
como pedra quando são apresentados números tímidos da economia nacional. E a
crise política, que coloca o próprio chefe do Executivo no centro do furacão
por suspeita de corrupção, é a principal responsável pelo pífio resultado do
país.
Na avaliação do
coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato, não há motivos
concretos para comemorar. “Na melhor das hipóteses, paramos de cair”, lamenta.
Como reflexo deste
emaranhado cenário político, Salvato afirma que o empresário está receoso em
fazer novos investimentos. E é aí que está o problema. Se eles não investem,
não há contratações. Com o desemprego em alta, e a insegurança do trabalhador a
reboque, a renda disponível para fazer compras é minada. E o dinheiro não
circula.
A Confederação
Nacional das Indústrias (CNI), por exemplo, por meio do Informe Conjuntural, já
revisou para baixo as estimativas para o desempenho da economia e da indústria
neste ano.
A previsão para o
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do país caiu de 0,5%, estimado no
primeiro trimestre, para 0,3% agora. A estimativa de crescimento do PIB
industrial baixou de 1,3% para 0,5%. Caso a previsão se confirme, será o
primeiro resultado positivo da indústria desde 2013, mas em percentual menor
que o previsto inicialmente.
“O escândalo
envolvendo o presidente Michel Temer (PMDB) afetou os indicadores de confiança.
O dos empresários, que estava acima de 50 pontos (50,7), pela primeira vez no
trimestre, desde outubro de 2015, caiu para 43,5 pontos no segundo trimestre
deste ano”, explica a economista da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Belo
Horizonte (CDL-BH), Ana Paula Bastos.
“A inflação está
caindo. O juro também, o que pode atrair investimento que gerem empregos. A
balança superavitária também é uma coisa boa, gera divisas. Mas ainda estamos
sob influência política e a economia fica contaminada. Mesmo com juros baixos,
os agentes econômicos vão investir?”, questiona a economista, que ainda alerta
para o fato de que os números apresentados têm uma base de comparação fraca.
A economista da
Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Annelise Fonseca,
acredita ser precipitado falar em retomada. Para ela, o crescimento registrado
em maio foi pontual.
“Na verdade, quem
puxou o crescimento foram os setores de veículos e alimentos. Percebeu-se
aumento de vendas, tanto no mercado interno quanto externo, mas, mesmo com a
expansão, o faturamento não voltou aos níveis pré-crise”, diz Annelise.
A economista
ressalta que muitos setores da indústria ainda estão em dificuldade e destaca
que o índice de confiança teve queda em junho. “Foi influenciado pelo quadro
político, que paralisa investimentos”, completa.
Controvérsia
Já o economista e coordenador sindical do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado (Sinduscon-MG), Daniel Furletti, faz uma leitura diferente. Para ele, o cenário macroeconômico está descolado da crise.
Controvérsia
Já o economista e coordenador sindical do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado (Sinduscon-MG), Daniel Furletti, faz uma leitura diferente. Para ele, o cenário macroeconômico está descolado da crise.
“Há dois anos,
vivíamos o pior cenário macroeconômico. Hoje estamos com inflação civilizada. A
taxa de crescimento é pequena, mas sobre dois anos consecutivos de queda. O
ambiente macroeconômico está descolado da crise política e proporciona uma
situação mais favorável para os negócios”, diz Furletti.
O índice de
atividade da Indústria da Construção de Minas Gerais recuou em maio. Com 39,3
pontos, o índice do mês apresentou um decréscimo de 8,4 pontos se comparado a
abril com 47,7 pontos. O resultado deixou o indicador mais distante da linha
dos 50 pontos, que separa a queda do crescimento.
Mas, apesar de
continuar demonstrando recuo na atividade do setor, o índice acumulou alta de
6,1 pontos nos primeiros cinco meses de 2017 e foi 2,3 pontos superior ao
apurado em maio do ano passado.
Agronegócio e setor
automotivo reagem à recessão
Um dos poucos setores que vem atravessando a crise sem sobressaltos é o agronegócio. Neste ano, por exemplo, a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de uma supersafra de quase 240 milhões de toneladas de grãos.
Um dos poucos setores que vem atravessando a crise sem sobressaltos é o agronegócio. Neste ano, por exemplo, a previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de uma supersafra de quase 240 milhões de toneladas de grãos.
A coordenadora da
assessoria técnica da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais
(Faemg), Aline Veloso, destaca que esse ganho de produtividade se deve,
principalmente, ao uso de tecnologia. Mas ela ressalta que a crise também afeta
o setor. “Alguns desdobramentos são negativos para o setor. O cenário
macroeconômico desfavorável afeta a logística e o fornecimento de energia, por
exemplo”, explica Aline.
Veículos
A produção e venda de automóveis também apresentam resultados melhores que os do ano passado, mas os números têm sido impulsionados principalmente pelas exportações.
A produção e venda de automóveis também apresentam resultados melhores que os do ano passado, mas os números têm sido impulsionados principalmente pelas exportações.
A Anfavea,
associação das montadoras que produzem no país, revisou a projeção do
crescimento das vendas para o mercado externo. As novas expectativas da
entidade apontam um crescimento de 35,6% nas exportações, o que significa
chegar ao fim deste ano com 705 mil unidades enviadas para outros países,
sobretudo para mercado latino-americanos – a projeção anterior era de
crescimento de 7,2%.
“Nossa previsão
inicial para as exportações já era bastante relevante, mas com o aumento mês a
mês do resultado foi preciso rever nossos números para cima, o que é
extremamente importante para o setor automotivo, por impactar diretamente na
produção. Entretanto, o resultado do mercado interno ainda apresenta
estabilidade e não é suficiente para ocupar a capacidade ociosa que a indústria
apresenta”, declarou o presidente da Anfavea, Antonio Megale.
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