Rivalidade entre irmãos
Simone
Demolinari
Ser irmão de sangue
não é garantia de laços de afetividade. E não é de hoje. Até mesmo o mais
antigo de todos os livros, a Bíblia, já trazia a trágica história entre Caim e
Abel, mostrando que, de fato, é possível existir sentimentos negativos entre
irmãos.
A primeira
experiência negativa que pode ser observada é o ciúme. A chegada de um novo
irmão é sempre algo incômodo para aquele que perde exclusividade. A partir daí
inicia-se uma disputa pela atenção dos pais. Se esse sentimento não for bem
trabalhado e atenuado pode evoluir da infância para adolescência e para a vida
adulta. A chave para estimular o bom relacionamento entre irmãos está sempre
nas mãos dos pais. É a partir deles que a relação familiar se estabelece.
Muitas vezes, sem nem perceber, são os pais que estimulam a rivalidade. Algumas
formas disso acontecer:
- Dando autoridade a
um irmão e tirando do outro: num passado recente, era comum em algumas famílias
elegerem um filho para cuidar dos pais até o fim da vida. Era o mais velho ou o
que mais tinha afinidade, ficando os demais liberados para sair de casa e
cuidar da própria vida. Apesar de essa dinâmica ter mudado, algo parecido ainda
ocorre. Alguns pais costumam dar mais poderes a determinado filho e até
escolhê-lo como sucessor nos negócios. Se essa decisão não for bem acordada
pode ser o ponto crucial de eterna rivalidade.
- Punindo igualmente
erros distintos: esse é um exemplo clássico. Alguns pais quando apartam brigas
entre irmãos não têm interesse em entender motivações e nem ouvir as versões.
Preferem distribuir penalidades iguais independentemente do erro cometido. Isso
não só provoca sensação de injustiça como estimula a raiva do causador do
problema.
- Privilegiando de
forma diferente: é comum ouvir dos pais explicações como “protegi fulano porque
ele sempre foi mais fraco”. Esse privilégio sem meritocracia e de forma
deliberada gera revolta. Quando se compensa o “fraco”, passa-se a ideia de que
o “forte” está sendo penalizado. Essa quebra da isonomia pode contribuir de
forma significativa para formação tão díspar na personalidade dos filhos.
- Fazendo
comparações: um dos erros mais nocivos para bom relacionamento entre irmãos.
Alguns pais exaltam as qualidades de um filho em detrimento dos demais. As
vezes fazem pior: sugerem que um irmão siga os passos daquele que entendem ser
o mais inteligente. Esse tipo de comparação é desastrosa. Além de não
funcionar, um irmão acaba tomando raiva daquele citado como modelo.
- Síndrome do filho
do meio: o mais velho recebe maior atenção, cuidado e tem expectativas
especiais. O mais novo é tratado com mais docilidade em função de ser caçula.
Assim, o filho do meio, é espremido tendendo a se sentir rejeitado.
Ter filhos vai além
de criá-los e educá-los. É preciso ir além, para que a tão almejada união não
se transforme em rivalidade ou até em desafeto eterno.
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