quinta-feira, 22 de junho de 2017

OS IRMÃOS DE SANGUE NEM SEMPRE SÃO UNIDOS



Rivalidade entre irmãos

Simone Demolinari 







Ser irmão de sangue não é garantia de laços de afetividade. E não é de hoje. Até mesmo o mais antigo de todos os livros, a Bíblia, já trazia a trágica história entre Caim e Abel, mostrando que, de fato, é possível existir sentimentos negativos entre irmãos.
A primeira experiência negativa que pode ser observada é o ciúme. A chegada de um novo irmão é sempre algo incômodo para aquele que perde exclusividade. A partir daí inicia-se uma disputa pela atenção dos pais. Se esse sentimento não for bem trabalhado e atenuado pode evoluir da infância para adolescência e para a vida adulta. A chave para estimular o bom relacionamento entre irmãos está sempre nas mãos dos pais. É a partir deles que a relação familiar se estabelece. Muitas vezes, sem nem perceber, são os pais que estimulam a rivalidade. Algumas formas disso acontecer:
- Dando autoridade a um irmão e tirando do outro: num passado recente, era comum em algumas famílias elegerem um filho para cuidar dos pais até o fim da vida. Era o mais velho ou o que mais tinha afinidade, ficando os demais liberados para sair de casa e cuidar da própria vida. Apesar de essa dinâmica ter mudado, algo parecido ainda ocorre. Alguns pais costumam dar mais poderes a determinado filho e até escolhê-lo como sucessor nos negócios. Se essa decisão não for bem acordada pode ser o ponto crucial de eterna rivalidade.
- Punindo igualmente erros distintos: esse é um exemplo clássico. Alguns pais quando apartam brigas entre irmãos não têm interesse em entender motivações e nem ouvir as versões. Preferem distribuir penalidades iguais independentemente do erro cometido. Isso não só provoca sensação de injustiça como estimula a raiva do causador do problema.
- Privilegiando de forma diferente: é comum ouvir dos pais explicações como “protegi fulano porque ele sempre foi mais fraco”. Esse privilégio sem meritocracia e de forma deliberada gera revolta. Quando se compensa o “fraco”, passa-se a ideia de que o “forte” está sendo penalizado. Essa quebra da isonomia pode contribuir de forma significativa para formação tão díspar na personalidade dos filhos.
- Fazendo comparações: um dos erros mais nocivos para bom relacionamento entre irmãos. Alguns pais exaltam as qualidades de um filho em detrimento dos demais. As vezes fazem pior: sugerem que um irmão siga os passos daquele que entendem ser o mais inteligente. Esse tipo de comparação é desastrosa. Além de não funcionar, um irmão acaba tomando raiva daquele citado como modelo.
- Síndrome do filho do meio: o mais velho recebe maior atenção, cuidado e tem expectativas especiais. O mais novo é tratado com mais docilidade em função de ser caçula. Assim, o filho do meio, é espremido tendendo a se sentir rejeitado.
Ter filhos vai além de criá-los e educá-los. É preciso ir além, para que a tão almejada união não se transforme em rivalidade ou até em desafeto eterno.


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