Além da esfera financeira
Manoel Hygino
Incontestavelmente,
nosso país atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história. Os
responsáveis pelos destinos nacionais, pela condução do barco no mar
encapelado, não encontram os imprescindíveis meios para levá-lo ao bom porto. A
situação econômica não é grave, porque já se fez gravíssima, e Meireles faz
propostas, defendidas pelo presidente, para amenizar a situação.
Encontra, porém, uma
oposição severa. O brasileiro não gosta de aperturas, não é capaz de suportar a
adversidade, como a enfrentam povos de outras nações. Continua vendo só bondade
na afirmação de Pero Vaz de Caminha, de que aqui, em se plantando, tudo se
dará. Mas não apreciamos muito o difícil plantar para colher frutos lá à
frente. Talvez influência do clima, que convida à preguiça.
A ninguém escapa a
dura hora que vivemos, em que faltam alimentos à mesa e remédios nos hospitais
públicos. Reclama-se, procura-se culpados e protesta-se contra os altos níveis
dos impostos, só pagos porque são impostos. Não se abre mão das coisas que nos
deleitam, ignorando-se que o consumido no prazer nos faltará em casa.
O mundo inteirinho
conhece nossas deficiências e enormes dificuldades, embora a colheita de grãos
atenue drama em nossa balança comercial e responde a Saint-Hilaire, ao afirmar
que ou o Brasil acabava com a saúva, poderosa, ou a saúva com o Brasil. A nossa
agricultura demonstra pujança, a despeito da inclemência do tempo e da penosa
empreitada em que se transformou o transporte de safras por estradas horríveis.
Aliás, a televisão tem mostrado a odisseia das carretas e caminhões para levar
a bela produção aos portos, mesmo ao consumidor interno.
Não escapa ao
escriba a notícia, requentada, da manifestação de Francisco, o pontífice
romano, sobre o convite que lhe foi feito pelo presidente Michel Temer para
voltar ao país para conhecer de perto a situação da população carente. A
correspondência respondia à mensagem que lhe enviaria para as celebrações aqui
dos 300 anos da aparição de Nossa Senhora Aparecida, neste 2017.
Argentino, torcedor
do San Lorenzo, o papa, como de costume, não enrolou, nem tergiversou. Foi logo
avisando:
“Sei bem que a crise
que o país enfrenta não é de simples solução, uma vez que tem raízes
sócio-político-econômicas, e não corresponde à Igreja nem ao papa dar uma
receita concreta para resolver algo tão complexo”.
Tem plena razão o
sucessor de Pedro. Nós é que temos de dar solução aos nossos problemas, em sua
maioria criados ou praticados por nossos administradores nestes oito milhões e
500 mil quilômetros quadrados de território.
Não significa dizer
que o papa ignorou ou vai ignorar o nosso grande desafio, justamente ele que
tanto se preocupa com a situação que se atravessa. Mas, não se vê em condições
de propor caminhos:
“Não posso deixar de
pensar em tantas pessoas, sobretudo nos mais pobres, que muitas vezes se veem
completamente abandonados e costumam ser aqueles que pagam o preço mais amargo
e dilacerante de algumas soluções fáceis, as superficiais, para uma crise que vai
muito além da esfera meramente financeira”.
Da Praça de São Pedro, Francisco define: “crise que vai muito além da esfera meramente financeira”.
Da Praça de São Pedro, Francisco define: “crise que vai muito além da esfera meramente financeira”.
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