Delator diz
que JBS pagou R$ 43 milhões a partidos para apoiarem Aécio em 2014
Janaína Oliveira e
Paula Coura
Ao menos 12 partidos
políticos receberam dinheiro da JBS em troco de apoio à candidatura de Aécio
Neves (PSDB) à Presidência da República, em 2014. A holding dos irmãos Joesley
e Wesley Batista repassou às legendas R$ 43,170 milhões a pedido do então
candidato.
A informação consta
no acordo de delação premiada do diretor de Relações Institucionais do grupo
J&F, Ricardo Suad.
No documento da Procuradoria Geral da República (PGR), a que o Hoje em Dia teve acesso, Saud diz que “Aécio orientou que a propina fosse distribuída para a compra de partidos políticos que integrassem a coligação (de Aécio) à Presidência da República”.
No documento da Procuradoria Geral da República (PGR), a que o Hoje em Dia teve acesso, Saud diz que “Aécio orientou que a propina fosse distribuída para a compra de partidos políticos que integrassem a coligação (de Aécio) à Presidência da República”.
Assim, atendendo ao
pedido do tucano, Saud conta aos procuradores que o PTB foi o que mais recebeu:
R$ 20 milhões. Do montante, segundo o delator, R$ 17,950 milhões se referem a
doações oficiais aos diretórios dos estados. Os repasses foram feitos entre
23/6/2014 a 14/04/2014. Outros R$ 2,050 milhões em espécie foram entregues a um
interlocutor da legenda.
Com R$ 15,270
milhões, o Solidariedade foi o segundo que mais embolsou recursos no esquema.
Do total, R$ 11 milhões foram doados oficialmente ao diretório nacional,
presidido pelo deputado federal Paulinho da Força.
De acordo com o
executivo da JBS, “orientado por Aécio, Paulinho da Força procurou Joesley
Batista no antigo escritório da J&F e ajustou os pagamentos”. Assim,
Paulinho teria recebido “R$ 4 milhões por meio de liquidação de notas fiscais”.
O restante do dinheiro destinado ao Solidariedade foi distribuído para
representantes de empresas dos ramos de transporte, material de construção e
elétrica.
Para o PMDB, partido
que compunha chapa com a então candidata Dilma Rousseff (PT), rival de Aécio,
foram R$ 1,5 milhão, em doação oficial em 24/10/2014.
Já o DEM foi
destinatário de R$ 2 milhões. Conforme a delação de Ricardo Saud, inicialmente
a quantia acordada por Aécio para a direção do partido teria sido de R$ 10
milhões. Mas o tucano mudou de ideia e “autorizou a redistribuição”, o que
deixou o representante do DEM “indignado”.
Ao diretório
nacional do antigo PTdoB, rebatizado de Avante mas ainda presidido pelo
deputado Luis Tibé, foram repassados R$ 1 milhão, em doação oficial em
11/9/2014. Menos de uma semana mais tarde, o PMN foi agraciado com R$ 1,3
milhão, de forma oficial.
PSC, PSL e PEN
receberam, respectivamente, R$ 100 mil, R$ 150 mil e R$ 500 mil, todas de forma
oficial. Já para o PTC foram dois repasses: R$ 400 mil para o diretório
nacional, em doação oficial em 11/9/2014, e R$ 250 mil para o comitê financeiro
regional de Minas, também em doação oficial feita quatro dias depois.
O PTN também foi
contemplado em dose dupla. Foram R$ 250 mil para o diretório de Minas e R$ 400
mil para o nacional, ambas registradas. Ainda segundo o delator, R$ 50 mil
foram doados ao PSDC.
Danilo de Castro
Homem forte nos
governos do PSDB em Minas, o ex-deputado Danilo de Castro também foi citado na
delação de Ricardo Saud.
Ainda no anexo dedicado a Aécio Neves, o delator contou aos procuradores que Danilo de Castro foi indicado pelo tucano para interceder a favor dos interesses do grupo em Minas.
De acordo com Saud, “Aécio prometeu a Joesley Batista” liberar créditos de ICMS de duas empresas do grupo no valor total de R$ 24 milhões.
Ainda no anexo dedicado a Aécio Neves, o delator contou aos procuradores que Danilo de Castro foi indicado pelo tucano para interceder a favor dos interesses do grupo em Minas.
De acordo com Saud, “Aécio prometeu a Joesley Batista” liberar créditos de ICMS de duas empresas do grupo no valor total de R$ 24 milhões.
Segundo o delator,
cinco ou quatro reuniões para agilizar a liberação dos recursos foram
realizadas entre o executivo e Danilo, “que telefonava para a SEFAZ-MG
(Secretaria de Estado de Fazenda de Minas) e pedia a liberação dos créditos”.
Apesar das tratativas, os recursos não foram liberados.
Em nota, Danilo
disse que recebia os executivos da JBS enquanto estava na secretaria de Governo
da mesma maneira que recebia diversas pessoas que me procuravam. “Eles me
apresentaram as demandas relativas à empresa e encaminhei para a área técnica.
Como a resposta foi de que não era possível atender o pleito, dei a eles esse
retorno”, disse.
Segundo a defesa de Aécio, a solicitação de apoio de partidos aliados à candidatura à Presidência em 2014 ocorreu de acordo com a lei. “Os recursos não envolveram qualquer contrapartida ou uso de dinheiro público”
Legendas afirmam que
doações foram legais e estão declaradas na Justiça Eleitoral
Todos os partidos
políticos citados na delação de Ricardo Saud como receptores de dinheiro a
pedido de Aécio, então candidato à Presidência da República, foram procurados
pela reportagem.
O PTB confirmou que
Aécio intermediou as doações recebidas pela legenda, mas reiterou que os
valores estão “dentro das normas legais, declarados à Justiça Eleitoral”.
Quem falou pelo PMDB
foi o governador do Rio Grande do Sul, José Ivo Sartori, destinatário dos R$
1,5 milhão. Segundo ele, os valores repassados à sua campanha em 2014 foram
“declarados e com recibo”.
A assessoria de
imprensa do PSL disse o envolvimento da sigla em possível esquema de propina
não tem nenhuma referência com a atual administração.
O diretório do PSC
em Belo Horizonte declarou que não vai se pronunciar sobre o assunto.
Em nota, o PSDC
declarou que recebeu R$ 50 mil de forma espontânea da JBS por meio de doação oficial
e que o recurso foi disponibilizado a diversos candidatos do partido. “Em
momento algum houve condicionamento a apoio de quaisquer candidatos, nem da
candidatura de Aécio Neves”, disse o presidente do PSDC em Minas, Alessandro
Marques.
Segundo a assessoria
do Solidariedade, as doações recebidas em campanha foram declaradas na
prestação de contas, entregues ao TSE, tais como às destinadas a Paulinho da
Força.
De acordo com o
presidente do PEN, Adilson Barroso, os valores recebidos da JBS foram declarados
na prestação de contas ao TSE. “Não tivemos o intermédio de Aécio Neves para
nada. Foi uma doação direta da empresa ao partido”, disse.
Os escritórios de
DEM, PMN e PTN não retornaram as ligações nem responderam aos e-mails.
O PTdoB disse que os
valores destinados “à campanha presidencial do partido” foram declarados ao
TSE. O diretório do PTC não quis se pronunciar.

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