'Lava Jato' completa três
anos de investigações com 260 acusados criminalmente
Agência Brasil
Polícia Federal chega à sede da Construtora Odebrecht, na 23ª fase da
Operação "Lava Jato"
Nesta sexta-feira (17), a maior operação de combate à corrupção e à
lavagem de dinheiro do país completa três anos. Tudo começou com quatro
investigações da Polícia Federal: Dolce Vita, Bidone, Casablanca e "Lava
Jato". As três primeiras são nomes de filmes clássicos, escolhidos de
acordo com o perfil de cada doleiro investigado. A última fazia referência a
uma lavanderia e a um posto de combustíveis em Brasília, que eram usados
pelas organizações criminosas. Desde então, já se foram 38 fases da Operação
"Lava Jato". Nesse período, os investigadores apuraram fatos
relacionados a empreiteiras, doleiros, funcionários da Petrobras e políticos.
De acordo com dados do Ministério Público Federal no Paraná atualizados
em fevereiro, foram 57 acusações criminais contra 260 pessoas, sendo que em 25
já houve sentença por crimes como lavagem de dinheiro, corrupção, organização
criminosa e tráfico transnacional de drogas. Até agora, a "Lava Jato"
conseguiu recuperar R$ 10 bilhões aos cofres públicos, entre valores que já
foram devolvidos ou estão em processo de recuperação.
Para o procurador da República Diogo Castor, que faz parte da
força-tarefa, a operação começou a mudar a ideia de que crimes do colarinho
branco ficam impunes. “A 'Lava Jato' democratizou a Justiça Criminal,
demonstrou como deve ser uma Justiça Criminal eficiente, uma coisa que o
brasileiro não está acostumado. O povo está acostumado ao setor público
ineficiente em todas as esferas, desde o Judiciário, Legislativo, Ministério
Público. A "Lava Jato" é a única coisa que deu certo no sistema de
Justiça Criminal no Brasil”, avalia.
Prisões em Curitiba
Nesse período, importantes políticos e empresários foram condenados
pelos crimes apurados na operação. No Complexo Médico Penal de Pinhais (CMP),
na região metropolitana de Curitiba, estão presos nove réus da "Lava
Jato", entre eles o ex-ministro José Dirceu, o deputado cassado Eduardo
Cunha, o ex-senador Gim Argello, o ex-diretor da área Internacional da
Petrobras, Jorge Zelada, e o ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto.
O diretor do Departamento Penitenciário do Paraná, Luiz Alberto Cartaxo,
garante que não há nenhuma regalia para esses presos. Ele explica que o CMP foi
criado como uma unidade de saúde para abrigar presos com problemas mentais, mas
hoje reúne também servidores públicos e policiais condenados por diversos
crimes, além dos internos da "Lava Jato". O local abriga cerca de 670
presos que ficam em celas de 12 metros quadrados.
Cartaxo diz que há apenas algumas diferenças no CMP em relação às outras
unidades prisionais. O uniforme, por exemplo, é formado por calça cinza e
camiseta branca - nas outras unidades a roupa é alaranjada. No complexo, os
internos têm acesso à água quente, mas as visitas íntimas são proibidas, já que
se trata de uma unidade de saúde.
“A rotina deles é o seguinte: às 6h, alvorada e café-da-manhã. São dois
pães, café com leite ou só café. Após isso, eles saem das celas, têm banho e
banho de sol. Às 11h30 é o almoço, quando é servida uma alimentação composta
por carboidrato e proteína, que varia entre 850 e 900 gramas, que envolve uma
carne, arroz e feijão ou macarrão, verduras e legumes”, diz.
O diretor também diz que cada preso, inclusive os da "Lava
Jato", tem direito a uma sacola com peças íntimas e produtos de higiene
pessoal. “Não há nenhuma diferenciação. Uma vez por semana, todos os presos do
Sistema Penitenciário do Paraná podem receber uma sacola que envolve comidas
não- perecíveis, produtos de higiene pessoal e algumas roupas íntimas, que o
sistema não fornece. Mas é evidente que existe uma diferença entre a sacola do
então preso, que já saiu da lá, Marcelo Odebrecht, para a sacola do 'João
Antônio das Neves', que é um ladrão de varal”, compara.
Além do CMP, também há presos da "Lava Jato" na carceragem da
Polícia Federal em Curitiba e até em outras cidades, como o Rio de Janeiro. Na
carceragem estão, por exemplo, o empresário Marcelo Odebrecht, o ex-ministro
Antônio Palocci, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e o
ex-presidente da OAS Léo Pinheiro.
Agência Brasil
Perfil diferente
Alguns presos da "Lava Jato" estão remindo a pena por meio do
trabalho ou da leitura. José Dirceu, por exemplo, trabalha na distribuição de
livros. A cada três dias exercendo a função, reduz a sentença em um dia. Outros
fazem a remissão a partir da leitura: a cada exemplar lido – que é escolhido
pelo professor de acordo com o perfil do preso – o detento faz uma resenha e
uma apresentação oral e, se aprovado, consegue diminuir a pena em quatro dias.
O juiz Eduardo Lino, da Vara de Execuções Penais do Paraná, explica que
recebe com frequência atestados de trabalho ou leitura de presos da "Lava
Jato" para reduzir a pena. E diz que o perfil dos detentos de crimes do
colarinho branco destoa do restante da população carcerária.
“É uma coisa nova esse perfil de sentenciados. Geralmente o espectro
econômico é muito ruim, são pessoas pobres. E agora tem essa situação nova com
pessoas de melhor condição econômica, mas estão condenadas e têm que se
submeter a penas privativas de liberdade. E estão encontrando uma forma de que
isso possa ser feito sem riscos para ninguém. Que eles possam cumprir essa
pena, com dignidade como todos devem e, passado esse período, ganharão a
liberdade e que parem de praticar novas atividades criminosas de todo o tipo.”


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