Homens, mulheres e a
vaidade
Simone Demolinari
A vaidade estética sempre se expressou com mais naturalidade nas
mulheres que nos homens. Eram elas as responsáveis por lotar os salões de
beleza, dermatologia cosmética e clínicas de estética. Já os homens não se
preocupavam em nada com a aparência. Aliás, quanto mais rústicos e largados,
melhor. A vaidade deles se manifestava na área material através de aquisições
de bens, carros, obtenção de status, conquistas amorosas com intuito de
exibicionismo, etc. Entretanto, a vaidade masculina, que jamais deixou o palco,
retorna à cena, ainda mais forte.
Cada vez mais os homens aderem à indústria da beleza. Frequentam mais a
academia, consomem produtos de beleza específico para eles, frequentam spa,
fazem lipoaspiração, depilação, sobrancelha, aderem a cortes de cabelo mais
ousados, aplicam botox, colocam lentes de contato nos dentes, submetem a
ginecomastia (correção de mamas masculinas), aplicam prótese de silicone nas
pernas, peito, braços, fazem peeling, lifting facial e inúmeros outros procedimentos
antes usados majoritariamente por mulheres.
Essa semana, o assunto mais comentado nos sites de notícia foi o
implante capilar de Eike Batista. Vaidoso assumido, o empresário teve sua
peruca arrancada ao ser conduzido à penitenciária no Rio de Janeiro.
Rapidamente a imagem tomou a internet e aguçou a curiosidade de muitos. A farta
cabeleira era falsa. O rei ficou nu. Mas a cena parece que só fez atiçar o
desejo. Clínicas de implantes impulsionaram os links patrocinados nas redes
sociais e a busca pelo procedimento aumentou.
Dados confirmam que, de fato, a vaidade masculina está aquecendo a
economia no Brasil. Segundo estimativa da empresa de pesquisa Euromonitor
International, em 2015, os brasileiros gastaram cerca de US$ 5 bilhões com
xampu, sabonete, produtos de barbear e cremes. Ainda de acordo com os dados, em
2014, os Estados Unidos lideravam o ranking de vendas no segmento de produtos
de beleza masculina, seguido pelo Brasil e Alemanha. Mas a previsão é a de que
em 2019 este ranking seja liderado pelo Brasil.
O potencial para ocupar o pódio deriva do fato de o Brasil ter uma forte
cultura de erotização e exibicionismo. Quanto menos avançado é o aspecto
sociocultural de um país, mais há uma valorização do “ter” em detrimento do
“ser”. Com isso, a aparência física ganha mais notoriedade. Ter um corpo
sarado, um rosto jovem e uma farta cabeleira ganha mais atenção que ser
educado, inteligente, bom caráter e equilibrado emocionalmente.
Não é à toa que a procura por cirurgia plástica é infinitamente maior
que a busca pela psicoterapia. Cuidar da casca tornou-se mais importante que
cuidar do conteúdo.
Vale a reflexão à luz do escritor Eduardo Galeano: “Vivemos em plena
cultura da aparência: o contrato de casamento importa mais que o amor, o
funeral mais que o morto, as roupas mais do que o corpo e a missa mais do que
Deus”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário