Vale a pena calar para
evitar conflitos?
Simone Demolinari
Muitas pessoas se deparam com o seguinte impasse: devo falar o que penso
ou devo calar para evitar o conflito?
Nessa hora, muitas questões são levadas em consideração. Uma delas é o
número de vezes que já se discutiu sobre o mesmo tema.
Há situações onde já se falou tanto sobre o assunto que a opção de se
calar vem mais por desânimo do que para evitar o conflito. O indivíduo sabe que
tudo que for dito não surtirá efeito, serão palavras em vão.
Esta é uma situação muito comum nas relações conjugais. É curioso
perceber que o parceiro afetivo, mesmo sabendo onde dói o calo do outro, não se
preocupa em poupá-lo. Ao contrário, alguns são taxativos em afirmar que não
irão mudar. E não me refiro a questões complexas que necessitam de grandes
concessões. Geralmente são situações simples, como por exemplo esquecimento de
datas. Um, sabendo que o outro faz questão que uma determinada data seja
lembrada, não se preocupa em anotar para atender o pleito do(a) parceiro(a).
Situações simples que poderiam ser evitadas com um pouco de boa vontade.
Ninguém tem o direito de exigir nada de ninguém. Muito menos de quem
ama. Porém temos a responsabilidade de expor, com clareza, aquilo que nos
incomoda. Se o outro quiser nos agradar, de certo evitará tais comportamentos
que nos entristece. Numa relação saudável há um acordo tácito, onde um, sem
perder sua essência, se esforça ao máximo para zelar pela integridade emocional
do outro. Se isso não ocorre, fica claro o descaso com o bem estar do par
amoroso.
Outro motivo pelo qual as pessoas evitam falar o que estão sentindo
deriva do medo. Temem se posicionar e perder a relação. Alguns percebem
nitidamente essa dificuldade, já outros acabam por mentirem para si. Usam como
justificativa o fato de não querer magoar o outro ou se dizem “sem graça” para
tocar no assunto. O que não é verdade. Se calam por temerem as consequências de
uma conversa franca. Preferem engolir a seco o que lhes incomodam a correr o
risco de não ser mais desejado. Dessa forma acabam se tornando permissivos
demais, passam por cima de valores primários, convivem com situações
aviltantes, prisioneiros do próprio medo. Eurípides, um poeta grego, tem uma
frase clássica que ilustra bem isso: “Não dizer o que pensa. Essa é a condição
de um escravo”.
Muitas vezes nos calamos frente ao problema e fazemos muitas concessões
para não ter que arcar com a consequência do enfrentamento. Tememos o abandono.
Preferimos abrir mão daquilo que consideramos menor, em prol de algo maior.
Entretanto, após um período, a soma dessas concessões forma um conjunto de
revolta e mágoa que torna insustentável a relação.
Mais cedo ou mais tarde a fatura chega. Nossa natureza fala mais alto e
a voz do inconsciente não silencia até ser ouvida.
É preciso refletir com muita responsabilidade se vale a pena afastarmos de nós mesmos para nos aproximarmos do outro.
É preciso refletir com muita responsabilidade se vale a pena afastarmos de nós mesmos para nos aproximarmos do outro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário