Cumprir alterações no
ensino médio em curto prazo será desafio para Minas
Raul Mariano (*)
A oferta de itinerários formativos (uma seleção de que áreas serão
lecionadas) também é desafiante e onerosa
A polêmica reforma do ensino médio, sancionada ontem pelo presidente
Michel Temer, vai impor a todos os estados brasileiros o desafio da readequação
do modelo educacional para uma carga horária que deve aumentar pelo menos 25%
em cinco anos. Em Minas, autoridades garantem que será difícil cumprir a meta
nos 853 municípios em um período tão curto.
Para a Superintendente de Desenvolvimento do Ensino Médio no Estado,
Cecília Alves, Minas não conseguirá executar as medidas propostas pela reforma
sem um investimento direto do governo federal. Ela explica que, antes de
iniciar as mudanças, o Estado irá discutir a reforma com a sociedade, ao
contrário do que foi feito pela União.
“A readequação vai demandar inclusive a construção de novas escolas.
Esses recursos têm que vir de um fundo nacional, com uma linha de crédito
específica. Hoje, para implantar totalmente a reforma, oferecendo o ensino
médio integral com os nove horários (7 horas diárias), o custo para o Estado
aumenta em quase 80%. Se tivéssemos que aplicar a lei imediatamente ela seria
inexequível”, pondera.
Custos
A oferta de itinerários formativos (uma seleção de que áreas serão
lecionadas) também é desafiante e onerosa. “A lei diz que o estudante pode
escolher seu itinerário. Mas, para isso, é preciso ofertá-los. Qual vai ser a
nossa condição de oferecer, em 853 municípios, todos os campos? Não acredito
que seja possível fazer isso em cinco anos. Vamos precisar criar pólos
regionais, com arranjos territoriais que atendam essas demandas”, observa
Cecília.
Para o pedagogo e professor da PUC Minas Carlos Roberto Jamil Cury, o
custo que a reforma trará para os Estados já é um dos primeiros problemas a
serem discutidos.
“Como os Estados, praticamente falidos, vão fazer para bancar essas
1.400 horas de carga horária depois que o governo federal se retirar? Minha
comparação é com o legado da Olimpíada. Depois que o governo federal entregou
as manutenções para os Estados, as obras viraram grandes elefantes brancos”,
critica.
Estratégia
Estratégia
O presidente Michel Temer declarou, durante a solenidade de aprovação da
lei, que a proposta é fruto de uma “ousadia responsável” do governo, que
continuará defendendo a aprovação das “grandes reformas”.
Temer tem buscado, nos eventos oficiais, criar agendas positivas para
tentar reverter a baixa popularidade do governo.
O ministro da Educação, Mendonça Filho, declarou que a reforma do ensino
médio é a “mudança mais estrutural” e “relevante” na educação pública e privada
do Brasil que ocorreu nas últimas duas décadas. Ele afirmou que a medida
promoverá uma “ação transformadora” no país.
O governo federal prevê investimentos de R$ 1,5 bilhão até 2018, o que
corresponde a R$ 2 mil por aluno/ano e 500 mil novas matrículas de tempo
integral.
(*) Com agências
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