Carlos Velloso, novo
ministro da Justiça, joga a favor da opinião pública
Filipe Motta
DEFESA – Para Michel Temer, Carlos Velloso tem “perfil jurídico forte”
adequado ao cargo
Escolhido pelo presidente Michel Temer (PMDB) para suceder Alexandre de
Moraes no Ministério da Justiça, o mineiro da pequena Entre Rios de Minas,
Carlos Velloso, tem dito tudo o que a opinião pública quer ouvir. É a favor da
autonomia do Ministério Público e da Polícia Federal, critica o foro
privilegiado e afirma que a operação “Lava Jato” é “intocável”. Ao mesmo tempo,
vem advogando em favor d o senador Aécio Neves (PSDB-MG) em desdobramentos da
operação. De graça.
“Ficamos com aquela vergonha de ter a maior corrupção da administração
pública do mundo, mas os brasileiros estão aí, reagindo, com a Polícia Federal
e o Ministério Público, sob a supervisão judicial”, disse em entrevista à rádio
Jovem Pan, na manhã de ontem, em relação à operação.
“Quando me perguntam a forma de travar, de prender a Lava Jato, eu digo
que a Constituição de 1988, uma constituição democrática, deu uma nova feição
às instituições, à polícia, ao MP e ao Judiciário. Nenhum ministro da Justiça,
nenhuma autoridade dos poderes Executivo ou do Legislativo tem condições de
interferir na operação”, completou. Em 2008, porém, havia criticado a atuação
da PF no contexto da operação “Pasárgada”.
Velloso também é contrário ao foro privilegiado, que vê como
“excres-cência” por, na visão dele, privilegiar um grupo de pessoas em
detrimento do restante da população, e sobrecarregar o Supremo Tribunal Federal
(STF) no julgamento de ações penais originárias.
Defensor de Aécio
Defensor de Aécio
Velloso defende Aécio em dois inquéritos que tramitam no STF sob os
cuidados do ministro Gilmar Mendes como desdobramentos da “Lava Jato”. As
investigações partem da delação do ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT e
ex-PSDB). Petista afirmou que Aécio atuou para maquiar dados do Banco Rural na
CPMI dos Correios (presidida por Delcídio) que poderiam atingir membros do
PSDB, e também de ter recebido propina em um esquema em Furnas. O senador tem
negado qualquer envolvimento com os casos.
Velloso reforça, contudo, que as duas investigações não estão
relacionadas à “Lava Jato”. “Fui amigo de Tancredo Neves, avô de Aécio, e de
Aécio Cunha, pai de Aécio. E sou amigo de Aécio desde os seus 22 anos, quando o
conheci, em Belo Horizonte. Sou o seu advogado nesses dois casos em razão dessa
amizade. Mais até como conselheiro”, disse, por e-mail, ao Estado de S. Paulo,
confirmando que atua de graça para o tucano.
Perfil
Perfil
Com 81 anos, ex-integrante do STF (1990-2006) e professor de Direito,
Velloso é o primeiro ministro mineiro do atual governo. Temer buscou um nome de
perfil jurídico forte para repelir hipóteses de tentativas de interferência na
“Lava Jato”.
Indiretamente, tentou acalmar os ânimos da bancada mineira, incomodada com a falta de representação do Estado no atual governo. Velloso deve tomar posse após a sabatina do atual ministro, Alexandre de Moraes, para o STF.
Indiretamente, tentou acalmar os ânimos da bancada mineira, incomodada com a falta de representação do Estado no atual governo. Velloso deve tomar posse após a sabatina do atual ministro, Alexandre de Moraes, para o STF.
“Fui amigo de Tancredo Neves, avô de Aécio, e de Aécio Cunha, o pai. E
sou amigo de Aécio desde os seus 22 anos, quando o conheci”
Indicação divide parlamentares do PMDB de Minas, que querem emplacar
ministérios
Parlamentares mineiros consideram que a escolha de Carlos Velloso para o
Ministério da Justiça supera, em parte, o que apontam como lacuna da gestão
atual. “Tem se falado que há quase meio século não tínhamos uma situação desse
tipo, em que não havia um mineiro no primeiro escalão do governo federal”,
afirma o deputado federal Domingos Sávio (PSDB), que aprovou a escolha do
mineiro para a pasta antes ocupada por Alexandre de Moraes.
O PMDB estadual vinha trabalhando pela nomeação do ex-candidato à
Prefeitura de BH e deputado federal Rodrigo Pacheco para a pasta da Justiça.
Porém, foi descartado por Temer devido a críticas feitas no passado à atuação
do Ministério Público.Deputados federais do PMDB mineiro avaliam que têm feito
muito por Temer, inclusive nos momentos de maior dificuldade.
“Temos apresentado ao presidente uma lista de prioridades de
investimentos, principalmente com relação às obras de infraestrutura e também à
questão da melhor partilha dos royalties do minério. Esperamos que a entrega
que a bancada tem feito seja revertida em investimentos no Estado”, afirma o
vice-presidente da Câmara dos Deputados, Fábio Ramalho (PMDB-MG), que
considerou ótima a escolha de Velloso.
Newton Cardoso Jr. (PMDB-MG) vai na mesma direção. “Minas precisa de
apoio para dinamizar investimentos, acelerar obras de infraestrutura, rodovias
e saneamento”.
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