Ressaca emocional
Simone Demolinari
O termo “ressaca” é originalmente usado para indicar o movimento de
queda e recuo das ondas quando o mar está muito agitado. Uma espécie de fluxo e
refluxo. Mas, de forma coloquial, o termo é popularmente usado para designar um
estado de mal-estar pós bebida. Passado o torpor alcoólico, o corpo entra em
declínio físico – a ressaca.
Assim como acontece com o mar e com o corpo, com o estado emocional não
é diferente. Quando vivenciamos experiências de sofrimento, ruptura, mudança,
situações traumáticas, perdas (tanto simbólicas quanto concretas), doenças,
conflitos e outras dores emocionais, nosso psiquismo cria mecanismos de defesa
para suportar o insuportável, reprimindo a dor. Um artifício inconsciente que
busca preservar um estado de equilíbrio que não nos deixa “cair”. Porém,
passado o problema, vem a ressaca emocional.
Não raramente ouvimos histórias de pessoas que, enquanto permanecia lutando
contra um problema, mantinha-se firme. Porém, após a solução, esmorecem,
apresentando forte queda emocional. Isso explica também os indivíduos que ao
perderem um ente querido mostram-se firmes emocionalmente, como se não tivessem
sentido o baque, mas, passado um tempo, caem em depressão. Outro exemplo são
aqueles que, após um término de relacionamento, sentem-se fortalecidos e
animados. Participam de festas mostram-se bastante felizes, porém, após um
período, quando em tese a dor deveria estar menor, há uma considerável queda
emocional.
A ressaca emocional é algo comum, contudo, é importante ressaltar que
ela não ocorre com todas as pessoas. A queda emocional desencontrada do fato
que gerou o sofrimento, somente acontece quando o indivíduo não consegue
“elaborar” a dor. Entende-se por “elaborar” uma capacidade de perceber,
compreender e assumir internamente o problema no ato em que ele acontece.
“Elaborar” não é fácil. É sempre uma vivência perturbadora. Por isso, o
que mais ocorre, é deixarmos aliviar através da negação, tapando o sol com a
peneira, evitando pensar no problema.
Contudo, esse estado de evitação não se sustenta para sempre. Muitos
gostam de usar a expressão “agora que a ficha caiu”, mas essa ficha nada mais é
que a ressaca emocional.
Experiências emocionais são tão impactantes que podem inclusive induzir
estados fisiológicos cerebrais. Um estudo feito pela universidade de NYC
apontou que a ressaca emocional pode influenciar a forma de como lidamos com
nossas experiências futuras.
Funciona mais ou menos assim: cada vez que vivenciamos uma experiência
emocionalmente negativa, essa memória é arquivada e nos tornamos indivíduos
mais prudentes, medrosos ou até fóbicos. A se ver o pavor de relacionamento que
algumas pessoas adquirem após um casamento ruim.
Não é à toa que os adolescente se arriscam muito mais que os adulto. Com
menos experiências emocionais negativas na bagagem psíquica, eles não dispõem
de memórias afetivas ruins. Já os adultos...
Vivenciar a dor, na medida que ela acontece, com honestidade emocional,
evita o prolongamento do sofrimento.
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