Pampulha tem desafios para
manter título de patrimônio da humanidade
Alessandra Mendes
O Complexo Moderno da Pampulha, eleito pela Unesco patrimônio cultural
da humanidade, ainda tem muitos desafios pela frente para garantir a manutenção
do título. Até dezembro, um dossiê deve ser entregue ao órgão relatando a
situação de cada uma das intervenções previstas no documento aprovado durante a
reunião realizada em julho do ano passado em Istambul, na Turquia.
Entre as alterações solicitadas, estão a restauração do museu, a
desapropriação do Iate, a reforma na Igrejinha da Pampulha, a melhora na
qualidade da água da lagoa e a revitalização de praças.
Um dos itens pegou a todos de surpresa. No documento aprovado pela
Unesco consta que a Praça Dino Barbieri, que fica atrás da Igrejinha, faz parte
da área tombada. Para os especialistas que cuidavam do dossiê para o título, a
ideia era de que a praça estaria apenas dentro da área de amortecimento.
“A Unesco incluiu ela e agora quer que restauremos o projeto do
Burle Marx. Nós temos que apresentar em março, em Paris, o projeto de
readequação do espaço. Então estamos fazendo um dossiê com um anti-projeto,
pegando o projeto original como base para a obra”, explica a superintendente do
Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Minas, Célia
Corsino.
Alterações
A previsão é que, sendo aprovado pela Unesco, o projeto seja executado em 2018. Ainda não se sabe ao certo quais serão as exigências, mas as mudanças serão inevitáveis. “Eu estou tentando minimizar ao máximo, mas, com certeza aquele quiosque que tem lá no meio da praça será demolido. E não é a gente que quer, tem que ser feito”, ressalta Célia.
A previsão é que, sendo aprovado pela Unesco, o projeto seja executado em 2018. Ainda não se sabe ao certo quais serão as exigências, mas as mudanças serão inevitáveis. “Eu estou tentando minimizar ao máximo, mas, com certeza aquele quiosque que tem lá no meio da praça será demolido. E não é a gente que quer, tem que ser feito”, ressalta Célia.
Para a superintendente do Iphan em Minas, apesar de esta ser uma
intervenção que não estava prevista, o maior desafio será a desapropriação do
Iate Tênis Clube. “A situação é tão complexa que eu não posso dizer nada sem
conversar pessoalmente com o prefeito, porque houve uma desapropriação por
parte da prefeitura. A gente pode ajudar no projeto, correr atrás de um parceiro,
mas a definição é com a prefeitura”, afirma.
Um prédio com academia, salão de festas, salão de belezas e
estacionamento foi construído na década de 1970 como anexo ao clube. De acordo
com orientações da Unesco, a demolição desse anexo é uma das condicionantes
para manter o título.
Em nota, a Fundação Municipal de Cultura confirmou que precisa
apresentar um relatório atualizado sobre as questões do patrimônio da Pampulha
até o fim do ano, mas esclareceu que tem o prazo de 3 anos, a partir da
concessão do título, para serem apresentadas as soluções, não a conclusão de
obras
Espelho d’água
Outra condicionante é a limpeza da água da lagoa. Segundo consta no documento do título de patrimônio cultural da humanidade, a água deve estar em condições para a prática de esportes náuticos. Isso significa que deve estar dentro dos padrões estabelecidos para a classe 3, definida pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).
Outra condicionante é a limpeza da água da lagoa. Segundo consta no documento do título de patrimônio cultural da humanidade, a água deve estar em condições para a prática de esportes náuticos. Isso significa que deve estar dentro dos padrões estabelecidos para a classe 3, definida pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).
Uma empresa contratada pela prefeitura de BH trabalha na limpeza da água
da lagoa desde o ano passado. O contrato prevê que a qualidade deveria estar
nos padrões classe 3 até 31 de dezembro do ano passado. Entretanto, a
prefeitura informou que só irá divulgar os índices, e se o objetivo foi
alcançado, no mês que vem porque precisa fazer seus próprios testes.
O desafio da melhora da qualidade da água interfere ainda na condição
dos animais que vivem na região da lagoa. “Uma das recomendações é implementar
o plano de manejo dos animais. Hoje são mais de dez jacarés, e não dá para ter
esportes náuticos com jacarés. Outra questão são as capivaras. No meu ponto de
vista de patrimônio, eu não posso ter jardim de Burle Marx e capivaras no mesmo
espaço”, avalia Célia Corsino.
As obras do local que está sendo construído para abrigar as capivaras,
perto do Parque ecológico da Pampulha, devem ficar prontas até o fim do mês. A
retirada dos animais foi determinada por decisão da Justiça no ano passado.
Apesar de acordo, reforma da Igrejinha ainda preocupa
Outra condicionante para a
manutenção do título de patrimônio cultural da humanidade, a reforma da
Igrejinha da Pampulha também preocupa. Mesmo que tenha sido assinado um acordo
entre as partes para que o local esteja liberado para obras em novembro deste
ano, o repasse do recurso federal para custeio das intervenções ainda é motivo
de dor de cabeça.
“Eu espero que haja o dinheiro no fim do ano, que ele não seja
contingenciado, mas nós estamos em um momento político e econômico difícil. O
dinheiro existe? Existe, existem bilhões para o PAC, mas está tudo
contingenciado. Não cortou o PAC, contingenciou. Então nós vamos ter que ter
força política grande para vir recursos para Minas. O meu desespero é que o
dinheiro estava na mão”, afirma a superintendente do Iphan em Minas, Célia
Corsino.
Minas tem outros três patrimônios da humanidade: os centros históricos
de Ouro Preto e Diamantina e o Santuário de Bom Jesus de Matozinhos (Congonhas)
Até o imbróglio envolvendo a Arquidiocese de BH, que marcou casamentos
para a Igrejinha da Pampulha até outubro deste ano, ela confessa que acreditava
que seria o item mais avançado dos pedidos previstos pela Unesco para melhoria
no Complexo Moderno da Pampulha.
“Acho que faltou acreditar que a gente ia conseguir, faltou acreditar
que a gente ia fazer o projeto, faltou acreditar que a gente ia ter o dinheiro
para fazer. Tem que ter o dinheiro em novembro porque isso é um compromisso
internacional. Mas gora corremos risco, quando não corríamos nenhum”, diz
Célia.
Mesmo que não estejam prontas até dezembro deste ano, quando um dossiê
deve ser entregue pela Unesco com a situação de todo o conjunto arquitetônico,
as melhorias devem estar ao menos encaminhadas para evitar que o título seja
revisto. Todas as mudanças previstas devem ser finalizadas em até três anos.
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