segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

O PATRIMÔNIO DA PAMPULHA EM BELO HORIZONTE CORRE O RISCO DE PERDER O TÍTULO DE PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE



Pampulha tem desafios para manter título de patrimônio da humanidade

Alessandra Mendes 







O Complexo Moderno da Pampulha, eleito pela Unesco patrimônio cultural da humanidade, ainda tem muitos desafios pela frente para garantir a manutenção do título. Até dezembro, um dossiê deve ser entregue ao órgão relatando a situação de cada uma das intervenções previstas no documento aprovado durante a reunião realizada em julho do ano passado em Istambul, na Turquia.
Entre as alterações solicitadas, estão a restauração do museu, a desapropriação do Iate, a reforma na Igrejinha da Pampulha, a melhora na qualidade da água da lagoa e a revitalização de praças.
Um dos itens pegou a todos de surpresa. No documento aprovado pela Unesco consta que a Praça Dino Barbieri, que fica atrás da Igrejinha, faz parte da área tombada. Para os especialistas que cuidavam do dossiê para o título, a ideia era de que a praça estaria apenas dentro da área de amortecimento.
“A Unesco incluiu ela  e agora quer que restauremos o projeto do Burle Marx. Nós temos que apresentar em março, em Paris, o projeto de readequação do espaço. Então estamos fazendo um dossiê com um anti-projeto, pegando o projeto original como base para a obra”, explica a superintendente do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Minas, Célia Corsino.
Alterações
A previsão é que, sendo aprovado pela Unesco, o projeto seja executado em 2018. Ainda não se sabe ao certo quais serão as exigências, mas as mudanças serão inevitáveis. “Eu estou tentando minimizar ao máximo, mas, com certeza aquele quiosque que tem lá no meio da praça será demolido. E não é a gente que quer, tem que ser feito”, ressalta Célia.
Para a superintendente do Iphan em Minas, apesar de esta ser uma intervenção que não estava prevista, o maior desafio será a desapropriação do Iate Tênis Clube. “A situação é tão complexa que eu não posso dizer nada sem conversar pessoalmente com o prefeito, porque houve uma desapropriação por parte da prefeitura. A gente pode ajudar no projeto, correr atrás de um parceiro, mas a definição é com a prefeitura”, afirma.
Um prédio com academia, salão de festas, salão de belezas e estacionamento foi construído na década de 1970 como anexo ao clube. De acordo com orientações da Unesco, a demolição desse anexo é uma das condicionantes para manter o título.
Em nota, a Fundação Municipal de Cultura confirmou que precisa apresentar um relatório atualizado sobre as questões do patrimônio da Pampulha até o fim do ano, mas esclareceu que tem o prazo de 3 anos, a partir da concessão do título, para serem apresentadas as soluções, não a conclusão de obras
Espelho d’água
Outra condicionante é a limpeza da água da lagoa. Segundo consta no documento do título de patrimônio cultural da humanidade, a água deve estar em condições para a prática de esportes náuticos. Isso significa que deve estar dentro dos padrões estabelecidos para a classe 3, definida pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).
Uma empresa contratada pela prefeitura de BH trabalha na limpeza da água da lagoa desde o ano passado. O contrato prevê que a qualidade deveria estar nos padrões classe 3 até 31 de dezembro do ano passado. Entretanto, a prefeitura informou que só irá divulgar os índices, e se o objetivo foi alcançado, no mês que vem porque precisa fazer seus próprios testes.
O desafio da melhora da qualidade da água interfere ainda na condição dos animais que vivem na região da lagoa. “Uma das recomendações é implementar o plano de manejo dos animais. Hoje são mais de dez jacarés, e não dá para ter esportes náuticos com jacarés. Outra questão são as capivaras. No meu ponto de vista de patrimônio, eu não posso ter jardim de Burle Marx e capivaras no mesmo espaço”, avalia Célia Corsino.
As obras do local que está sendo construído para abrigar as capivaras, perto do Parque ecológico da Pampulha, devem ficar prontas até o fim do mês. A retirada dos animais foi determinada por decisão da Justiça no ano passado.
Apesar de acordo, reforma da Igrejinha ainda preocupa
Outra condicionante para a manutenção do título de patrimônio cultural  da humanidade, a reforma da Igrejinha da Pampulha também preocupa. Mesmo que tenha sido assinado um acordo entre as partes para que o local esteja liberado para obras em novembro deste ano, o repasse do recurso federal para custeio das intervenções ainda é motivo de dor de cabeça.
“Eu espero que haja o dinheiro no fim do ano, que ele não seja contingenciado, mas nós estamos em um momento político e econômico difícil. O dinheiro existe? Existe, existem bilhões para o PAC, mas está tudo contingenciado. Não cortou o PAC, contingenciou. Então nós vamos ter que ter força política grande para vir recursos para Minas. O meu desespero é que o dinheiro estava na mão”, afirma a superintendente do Iphan em Minas, Célia Corsino.
Minas tem outros três patrimônios da humanidade: os centros históricos de Ouro Preto e Diamantina e o Santuário de Bom Jesus de Matozinhos (Congonhas)
Até o imbróglio envolvendo a Arquidiocese de BH, que marcou casamentos para a Igrejinha da Pampulha até outubro deste ano, ela confessa que acreditava que seria o item mais avançado dos pedidos previstos pela Unesco para melhoria no Complexo Moderno da Pampulha.
“Acho que faltou acreditar que a gente ia conseguir, faltou acreditar que a gente ia fazer o projeto, faltou acreditar que a gente ia ter o dinheiro para fazer. Tem que ter o dinheiro em novembro porque isso é um compromisso internacional. Mas gora corremos risco, quando não corríamos nenhum”, diz Célia.
Mesmo que não estejam prontas até dezembro deste ano, quando um dossiê deve ser entregue pela Unesco com a situação de todo o conjunto arquitetônico, as melhorias devem estar ao menos encaminhadas para evitar que o título seja revisto. Todas as mudanças previstas devem ser finalizadas em até três anos.


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