Mecanismos mentais de
proteção ao sofrimento
Simone Demolinari
Sempre que nos deparamos com algo que nos causa dor emocional usamos
artimanhas psicológicas no intuito de atenuá-la. São artimanhas psicológicas a
qual Freud denominou mecanismos de defesa. Quanto maior o sofrimento, mais o
psiquismo usa esses mecanismos em prol de seu conforto emocional.
Esse conforto nos dá uma pseudo sensação de proteção, contudo, ele nos
impede o real acesso a nós mesmos. Vejamos alguns.
– Racionalização: trata-se da substituição da verdade por uma explicação
aparentemente lógica que conforte a ansiedade. Uma espécie de fuga de si mesmo
para não ter que se deparar com a realidade. Um bom exemplo é alguém que
promete parar de fumar, mas não consegue manter sua promessa. A partir daí, ele
passa a contar uma bonita história de uma bisavó que fumou até seus 98 anos e
nunca apresentou nenhum problema pulmonar. O sujeito apoia-se numa verdade
parcial para aliviar a promessa quebrada e não ter que assumir seu fracasso.
– Repressão: significa reprimir um desejo que não está de acordo com o
código moral interno, fingindo que ele não existe. Este mecanismo é muito comum
em pessoas com uma rígida educação religiosa ou pais extremamente severos.
Neste caso, optam por reprimir emoções, ao invés de expressá-las. Na repressão
há uma falsa crença de que o desejo irá desaparecer, mas isso não ocorre.
Muitas vezes, o que é reprimido pode surgir em sonhos, atos falhos ou em
comportamento que foge do controle. Alguém com fortes desejos reprimidos também
pode apresentar alta irritabilidade, somatização ou até quadro depressivo.
– Fantasia: aqui a pessoa imagina uma situação que, na realidade, é
quase impossível de se concretizar. Um teatro mental onde a história é bem
diferente da realidade. Um exemplo desse mecanismo é alguém que foi abandonado
pelo par amoroso e passa horas imaginando mentalmente uma vingança contra ele,
ou se imagina ganhando na loteria e esnobando quem o largou. São chamados de
sonhos diurnos ou fantasias conscientes.
– Negação: considerado um dos mecanismos de defesa mais comuns e menos
eficazes, baseia-se em negar a existência da dor. Um exemplo clássico de
negação são pessoas que ao receber um diagnóstico de uma doença grave
acreditam, que no seu caso específico, seu corpo reagirá de forma especial para
eliminar aquele problema. Marcam compromissos ignorando a existência de
qualquer enfermidade.
– Projeção: é o deslocamento de um impulso interno para outra pessoa. Ao
invés de assumir o problema, projeta-o no outro. Um exemplo é alguém egoísta
que atribui egoísmo ao outro, ou um indivíduo ciumento que culpa o parceiro de
sentir ciúmes.
Estes são apenas alguns dos muitos mecanismos que usamos para lidar com
emoções desagradáveis. É preciso conhecê-los para entender o que eles podem e
não podem fazer por nós.
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