Dois presídios, muitas
histórias
Manoel Hygino
No princípio, é o verbo, isto é, a palavra. Assim procuro conduzir-me.
Quando ocorreu o levante em Alcaçuz, investiguei. Trata-se de uma planta
medicinal da família das leguminosas. O vocábulo vem do árabe – ark as sus.
Outro vocábulo é alkatraz, também do árabe, alkadruz, o vaso de barro com que
se tira água de algum depósito, poço ou cisterna.
De qualquer modo, Alcaçuz e Alcatraz são duas prisões, existentes na
América, uma nos Estados Unidos, na região de São Francisco, e a outra no Rio
Grande do Norte, em que se registram violências neste agitado janeiro. Tio Sam
se sente realizado com Alcatraz, situada na estratégica e minguada ilha do
Pacífico, sede de uma das prisões mais seguras do planeta e que inspirou
seriados para a tevê, e teve a honra de abrigar nada menos que Al Capone.
Quem se der ao cuidado de pesquisar a história, descobrirá muita coisa
interessante naquele monte de terra que brota das águas, a ilha de Alcatraz,
permitindo visualizar a bela cidade da costa Oeste. Arsenal dos confederados na
sangrenta Guerra de Secessão e prisão militar, Alcatraz é uma fonte imensa de
lendas, inclusive da existência de um espaço subterrâneo onde os presos sofriam
terríveis torturas. Depois, submetiam-se a um programa de regeneração com uso
de trabalho. Mas havia uma séria rotina de restrições, não se lhes permitindo
cantar, ouvir rádio e só tomando banho duas vezes por semana.
Desativada em 1963 como presídio, transformou-se em Distrito do Registro
Nacional de Lugares Históricos e Marco Histórico Nacional em 1965, um
enigmático ponto turístico que conta sobre crimes e repressões de um período da
história norte-americana.
No Brasil, mais exatamente em Alcaçuz, em Nísia Floresta, na capital do
RN, os atos de violência contra o sistema e entre organizações criminosas se
estenderam por onze dias. Vários túneis foram localizados e apreendidos muitos
instrumentos usados nos conflitos.
Perspectivas de destinação da área para atividades turísticas, se a prisão for desativada, inexistem. Nas ruas da capital potiguar, a frota de coletivos, reduzida numericamente por incendiários, refletia horas de angústia e perturbava a população trabalhadora.
Perspectivas de destinação da área para atividades turísticas, se a prisão for desativada, inexistem. Nas ruas da capital potiguar, a frota de coletivos, reduzida numericamente por incendiários, refletia horas de angústia e perturbava a população trabalhadora.
Alcatraz (Antenor Nascentes identifica o vocábulo no Brasil como
identificador de joão grande (Rio de Janeiro), guapirá, ou tesoura, ave da
família Fregatidae (fragata aquila), transformou-se em fábula, com ajuda de
Hollywood. Durante 29 anos de existência, a prisão federal jamais registrou
oficialmente fugas bem sucedidas. Nas tentativas, os presos foram mortos ou se
afogaram nas águas da baía de São Francisco.
Nem tudo foi assim. Três fugitivos, Frank Morris e os irmãos John e
Clarence Anglin desapareceram de suas celas, em 1962, não se descobrindo o
paradeiro. Listados como desaparecidos e possivelmente afogados, inspiraram o
filme com Clint Eastwood, Escape from Alcatraz.
Terminando: documentário de canal de televisão, em 2015, revelou novas
evidências indicando que os irmãos Anglin sobreviveram e mantiveram contato com
a família. E teriam fugido, sabe para onde? Para o Brasil.
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