Síndrome de ‘bonzinho’
Simone Demolinari
Algumas pessoas carregam consigo o seguinte lema: “sou feliz fazendo o
outro feliz”. Empenham seu tempo em ajudar, cuidar e resolver problemas do
outro. Dedicar-se ao próximo é, sem dúvida, uma característica positiva,
sobretudo nos dias de hoje onde grande parte das pessoas está cada vez mais
preocupada consigo. Contudo, existe outro ponto a ser observado. Muitas vezes,
o nobre ato da bondade pode esconder uma carência afetiva, vaidade e desejo de
manipulação.
“Tal qual as questões físicas, as psíquicas não são necessariamente
aquilo que parecem ser na realidade”, disse Freud. É preciso enxergar além do
óbvio.
Não podemos desprezar as pessoas cujo o dom genuíno é o altruísmo.
Estes, dedicam-se à alguma causa, abnegando suas necessidades e abstendo-se de
qualquer benefício. Não há contra partida. A doação é o próprio retroalimento
da reciprocidade.
Já na dinâmica que rege a maioria das relações interpessoais, o “dar sem
pensar em receber” é inconscientemente falso. A doação vem sempre acompanhada
de uma expectativa de retribuição – nem que seja a gratidão ou o
reconhecimento. Porém, sem se dar conta disso, muitos tornam-se exímios
doadores acreditando ser despretensiosos. É aquele que na família se oferece
para organizar a festa, para dormir no hospital, para buscar e trazer alguém,
para cuidar do que precisar.
Viram motoristas, babás, arrumadores. Doam-se excessivamente, muitas vezes em detrimento de si. São pro-ativos na solução do problema alheio – ajudam até quem não quer ser ajudado. Sentem-se responsáveis por levantar o astral dos demais. São, além de tudo, provedores do bem estar e da alegria.
Viram motoristas, babás, arrumadores. Doam-se excessivamente, muitas vezes em detrimento de si. São pro-ativos na solução do problema alheio – ajudam até quem não quer ser ajudado. Sentem-se responsáveis por levantar o astral dos demais. São, além de tudo, provedores do bem estar e da alegria.
Tamanha bondade e generosidade pode ser muito bem vista socialmente,
contudo, psicologicamente a história é outra. Geralmente, os “bonzinhos” são vítimas
de suas próprias fraquezas. São elas:
– Carência afetiva: O tamanho da carência é proporcional à doação.
Quanto mais carente, mais doador. A oferta é uma tentativa inconsciente de ser
retribuído.
– Baixa autoestima: Um “self” fraco tende a se completar no outro. Isso
explica a necessidade de ser útil, prestativo, assim como a dificuldade em
falar “não”.
– Vaidade: Apesar de parecer contraditório, o “bonzinho” é vaidoso. Ser
visto como “salvador da pátria” o faz sentir especial, uma competência que lhe
confere status. Gabam-se de sua tolerância excessiva e de ser o provedor da
felicidade alheia.
– Vitimismo: De forma sutil, faz o claro papel da vítima, ora se
mostrando cansado de ser o ponto de apoio: “faço tudo pelos outros, mas ninguém
faz por mim”; ora se colocando como o único responsável pelo bem estar comum:
“se eu não fizer, ninguém faz”.
– Passionais: Quando algo não tem a resposta esperada ficam magoados e
ressentidos. Passam a tratar o outro como indigno do seu amor. Muitas vezes,
tem pensamentos vingativos e torcem para algo dar errado só para sentirem o
doce gosto de serem solicitados.
A autoanálise é árdua. A anomalia se desenvolve à espreita: despoja o
afetado de lucidez deixando-o acreditar que todos estão errados, menos ele.
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