Adeus a um capitão digno do
apelido
Rodrigo Gini
Hoje em Dia - Belo
Horizonte
A seleção do andar de cima ganhou um reforço e tanto, e o mundo do
futebol perdeu um símbolo, figurinha carimbada no álbum das lendas do esporte.
Alguém que encarnou tão bem o espírito de liderança que se espera de um capitão
que foi capaz de se impor num grupo de craques – a Seleção Brasileira tricampeã
mundial no México'1970 – merecendo o privilégio de um apelido que não mais o
abandonaria (e que outros monstros sagrados como Mauro e Bellini não tiveram
direito). O capita Carlos Alberto Torres poderia ser "apenas" o
melhor lateral-direito do mundo em sua geração, para muitos o maior da posição
em todos os tempos, um dos primeiros a não se limitar às funções defensivas e
se aventurar no ataque. Mas foi bem mais do que isso.
Sorriso no rosto na maior parte do tempo, opiniões firmes e diretas de
quem tinha personalidade forte, coragem para seguir o companheiro Pelé rumo ao
futebol norte-americano; passagens vitoriosas como jogador pelo Fluminense, que
o revelou (mais tarde integraria a máquina tricolor, ao lado de Rivellino e
Edinho); o Santos, onde marcou 40 gols; o Botafogo, clube do coração e o
Flamengo. No New York Cosmos, integrou o time dos sonhos de qualquer amante do
futebol do fim da década de 1970, com o Rei, o alemão Beckenbauer, o holandês
Neeskens e o italiano Chinaglia.
A combinação entre o talento único e a visão privilegiada, de líder,
fizeram da carreira de treinador um caminho obrigatório. Já em 1983, seu
primeiro ano, o título brasileiro com o Flamengo, comandando um grupo com
vários ex-companheiros de time, como Zico e Júnior. No ano seguinte, levou o
Fluminense, de Assis e Washington, ao bicampeonato carioca e, em 1993, levou o
Botafogo à conquista da Copa Conmebol. Passou ainda por Corinthians, Náutico e Paysandu,
no Brasil; Miami Freedom (EUA), Monterrey,Tijuana e Querétaro (México), Unión
Magdalena (Venezuela), Once Caldas (Colômbia) e as seleções de Omã e
Azerbaijão.
NO GALO
O currículo ficou marcado ainda pela passagem no comando do Atlético em
1998 – foram apenas três meses e 26 jogos pelo Campeonato Brasileiro, com 12
vitórias e oito empates. Sem estrelismo, sempre disposto à resenha com os
jornalistas e preocupado em tirar o melhor de cada jogador – a trajetória
acabou interrompida devido a um desentendimento com o então gerente de futebol
Toninho Cerezo. Desiludido com os rumos do futebol e sem muitas oportunidades,
acabou deixando a função em 2005 – ultimamente era comentarista do Sportv, onde
fez sua última aparição pública domingo, falando sobre a 32ª rodada do
Brasileirão no programa Troca de Passes.
Entre os vários casos envolvendo Carlos Alberto, um emblemático é do
começo da carreira, contado por um colega de Fluminense que à época já era um
zagueiro consagrado. Procópio atuou três anos ao lado do lateral, promovido do
juvenil para substituir o campeão mundial Jair Marinho, contundido.
"Lateral na época não subia, mas eu dizia a ele que podia avançar que nós
segurávamos lá atrás. Fizemos uma excursão à Rússia e depois de quatro jogos
invictos, nos colocaram para enfrentar a seleção deles, com Yashin e tudo,
representando o Brasil, diante de um estádio lotado. Pois o Carlos Alberto
marcou o melhor atacante russo, empatamos sem gols – tínhamos também o Castilho
no gol – e ainda ganhamos uma semana de folga em Roma como prêmio."
"Ele não era capitão porque alguém disse que seria, mas porque nós,
jogadores, o elegemos. E era o capitão da Seleção tricampeã do mundo, que para
muitos é a mais forte da história das copas"
Gérson, companheiro de Carlos Alberto na Seleção do tri
Gérson, companheiro de Carlos Alberto na Seleção do tri
"Fico triste com a morte do meu amigo irmão Carlos Alberto, nosso
querido Capita, lembrando dos tempos que estivemos juntos no Santos, na Seleção
e no Cosmos, formando uma parceria vencedora. Infelizmente a gente tem que
entender isso e que a vida continua"
Pelé
Pelé
"O grande privilégio de um homem é reverenciar quem se destaca na
sua atividade, e eu posso dizer com certeza que joguei ao lado do maior
lateral-direito da história"
Procópio, que atuou ao lado do Capita entre 1963 e 66 no Fluminense
Procópio, que atuou ao lado do Capita entre 1963 e 66 no Fluminense
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