Dois erros fundamentais de
Temer
José Antônio Bicalho
1 - As reformas
Venho insistindo nesta coluna que é preciso legitimidade do voto para
tocar as reformas estruturais. Propostas de mudanças profundas, que atingem os
direitos dos cidadãos e a estrutura do Estado, precisam ser debatidas em
campanha e ratificadas por eleições. Pois o presidente Michel Temer não tem nem
voto nem apoio da população. Vejam os principais números da pesquisa CNI/Ibope
divulgada ontem.
Apenas 14% dos brasileiros afirmam que o governo de Temer é ótimo ou
bom. Os que dizem ser ruim ou péssimo somam 39%. Os que não confiam
pessoalmente no presidente correspondem a 68% da população. Os que acreditam
que o governo Temer é melhor que o de Dilma são 23%, contra 31% que consideram
que o governo Dilma foi melhor do que está sendo o de Temer (para 38%, as duas
gestões são iguais).
Não se tira direitos de uma massa de insatisfeitos impunemente
Se tivesse amplo apoio popular, mesmo assim o presidente não poderia
tratar de questões estruturais como as reformas trabalhista, previdenciária,
política, tributária e educacional. Mas, sem apoio popular, tratar desses
assuntos é quase suicídio político. Não se tira direitos de uma massa de
insatisfeitos impunemente. E Temer tem vivência política suficiente para saber
que uma reação das ruas é inevitável e poderá ser violenta.
2 - O câmbio
Desde Fernando Henrique Cardoso, o controle da inflação se dá por meio da sobrevalorização do câmbio. Entendam que o Banco Central, quando joga os juros nas alturas, não tem por objetivo principal o combate à inflação via encarecimento do crédito e controle da liquidez, mas sim atrair mais dólares para o país e, dessa forma, valorizar o real. Com o real valorizado, os produtos importados ficam mais baratos, pressionando para baixo os preços dos similares produzidos no país.
Desde Fernando Henrique Cardoso, o controle da inflação se dá por meio da sobrevalorização do câmbio. Entendam que o Banco Central, quando joga os juros nas alturas, não tem por objetivo principal o combate à inflação via encarecimento do crédito e controle da liquidez, mas sim atrair mais dólares para o país e, dessa forma, valorizar o real. Com o real valorizado, os produtos importados ficam mais baratos, pressionando para baixo os preços dos similares produzidos no país.
O problema é que essa política, se mantida no longo prazo, mata a
indústria. Choques cambiais pontuais podem até ser positivos para que a
indústria nacional não se acomode com um mercado cativo e invista em inovação e
na busca de eficiência. Mas, mantidos por muito tempo, matam as empresas por
inanição. E estamos vivendo sob um câmbio artificialmente valorizado há pelo
menos 20 anos. Um ligeiro abrandamento foi experimentado no final do segundo
semestre do ano passado e primeiro deste, mas de maneira não estruturada.
O resultado é que a indústria, que já não havia aproveitado como poderia
o boom econômico da era Lula, agora, na depressão, sofre o maior tombo de sua
história. Ontem, o IBGE divulgou os números da produção industrial física de
agosto. A queda frente a agosto de 2015 foi de 5,2%. No acumulado do ano, o
tombo é de 8,2%. Na comparação do acumulado em 12 meses até agosto com o mesmo
período anterior, o recuo é de 9,3%
E o mais preocupante: na comparação de agosto com o mês imediatamente
anterior, a produção industrial caiu 3,8%, interrompendo cinco meses de
resultados positivos consecutivos neste tipo de comparação, o que dava
esperança de que o pior já havia passado. Agora, a esperança foi trocada pelo
temor de que o soluço dos últimos meses tenha desembocado em nova queda livre.
E enquanto as indústrias fecham as portas, o governo e sua equipe
econômica de cegos e arrogantes insistem no “velho e bom tripé macroeconômico”.
E assim vamos enterrando a indústria brasileira.
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