Bob Dylan inclui Nobel em
lista de prêmios e divide opiniões
Paulo Henrique Silva
(*)
Contra – Para escocês Irvine Welsh, prêmio é “nostalgia deslocada, saída
das próstatas antiquadas de grupo de hippies senis”
Não há quem questione a importância de Bob Dylan na história da música.
No currículo, ele tem Oscar, Globo de Ouro, vários Grammy e até Pulitzer. Mas
bastou o artista ser anunciado como vencedor Prêmio Nobel da Literatura para um
antigo debate ganhar força nas redes sociais: as palavras cantadas têm o mesmo
valor de um texto escrito?
No Facebook, o diretor de TV Gabriel Priolli resume a discussão
levantando “uma questão estética interessante: poesia oral é menor do que a
poesia escrita? Trazendo a sardinha para a nossa brasa, Chico Buarque e Caetano
Veloso são menos poetas do que (Carlos) Drummond) e (Mário) Quintana?”.
Na justificativa para o Prêmio, a Academia Sueca observou que o cantor
norte-americano de folk de 75 anos criou “modos de expressão poética no quadro
da tradição da música americana”. Argumento que não foi muito bem aceito por
escritores e especialistas em literatura.
“Gosto de Dylan, mas não tem uma obra. A Academia se ridiculariza. É
degradante para os escritores”. Pierre Assouline, escritor
Poeta do Século 20
O autor de “The Like a Rolling Stone”, considerada uma das maiores canções de todos os tempos, só escreveu um romance, “Tarântula”, de 1966. Em 2005, lançou livro de crônicas muito bem vendido. Para muitos admiradores, Dylan é o “grande poeta vivo norte-americano do século 20”. Essa é a opinião do romancista Philippe Margotin, autor da biografia “Bob Dylan, Total”.
“Entre as 500 canções que compõem sua obra, algumas podem ser consideradas menos importantes musicalmente, mas em todas há um texto absolutamente sublime”, destaca o biógrafo.
O autor de “The Like a Rolling Stone”, considerada uma das maiores canções de todos os tempos, só escreveu um romance, “Tarântula”, de 1966. Em 2005, lançou livro de crônicas muito bem vendido. Para muitos admiradores, Dylan é o “grande poeta vivo norte-americano do século 20”. Essa é a opinião do romancista Philippe Margotin, autor da biografia “Bob Dylan, Total”.
“Entre as 500 canções que compõem sua obra, algumas podem ser consideradas menos importantes musicalmente, mas em todas há um texto absolutamente sublime”, destaca o biógrafo.
Poeta com 23 livros publicados, crítica, contista, tradutora, professora
e editora, Lucila Nogueira registra que não tem nada contra o cantor, mas
relativiza o lado “poético” de Dylan. “A poesia, da forma como falam, está em
tudo em nossa vida. Até mesma nessa conversa que estamos tendo. Teríamos que
premiar todas as pessoas do mundo”. Lucila lamenta ainda que são poucos os
espaços de visibilidade para os escritores, ao contrário dos compositores, que
teriam os discos e os shows. “Os escritores só têm o espaço literário, os
prêmios literários. Considero que é uma invasão de gênero. Confesso que estou
chocada”, registra.
O Som da Literatura
Indagada sobre o processo inverso, quando um cantor dá forma de música a um texto conhecido, como recorrentemente faz Adriana Calcanhoto, Lucila salienta que o incômodo é o mesmo. Explica que existe uma transformação, em que o texto deixa de ter o sentido original.
Indagada sobre o processo inverso, quando um cantor dá forma de música a um texto conhecido, como recorrentemente faz Adriana Calcanhoto, Lucila salienta que o incômodo é o mesmo. Explica que existe uma transformação, em que o texto deixa de ter o sentido original.
“Não é mais a mesma coisa. As características mudam. O som que ouviremos
não é da literatura, mas o da música num sentido estrito. A poesia tem uma
série de características para você formatar. Estamos vivendo uma época que não
se respeita a essência das coisas. Nem tudo é variável”, argumenta.
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