quinta-feira, 20 de outubro de 2016

BANCO CENTRAL MANTÉM ALTA TAXA DE JUROS



O BC insiste no erro

José Antônio Bicalho 





A hiperinflação foi vencida no início dos anos 90 por um plano originalíssimo: a criação de uma moeda paralela indexada à inflação, a URV, que quebrou a lógica da inflação inercial e fez a transição para uma moeda estável, o real. O problema é que a inflação foi vencida, mas seu fantasma ficou. E por nunca ter caído a níveis verdadeiramente baixos, representa, desde então, uma ameaça latente.
Para manter os preços sob controle, os juros brasileiros, a partir do Plano Real, sempre estiveram entre os mais altos do mundo. Mas inflação nunca recuou para abaixo da meta. Alguns teóricos da economia apontam aí um enorme erro do Banco Central, responsável por prejuízo no acumulado dos últimos 22 anos (o Plano Real é de 1994) contado na casa de trilhões.
Segundo um importante grupo de estudiosos da macroeconomia, sendo o mais destacado deles o francês Olivier Blanchard, atualmente economista chefe do FMI, o pecado original estaria no equilíbrio irreal construído pelo BC brasileiro entre juros e inflação. Blanchard, que nada tem de esquerdista, defende o mesmo que uma série de economistas brasileiros de esquerda. Que o ponto de equilíbrio entre juro e inflação estaria bem abaixo da taxa básica que se pratica no país. Concluem que sua redução não traria qualquer prejuízo para a política de controle dos preços, e que o rigor do BC em sua política de juro é perverso para as contas públicas.
O BC mantém a taxa básica de juros fora do ponto de equilíbrio há mais de duas décadas
O raciocínio é o seguinte: a altíssima taxa básica do Brasil levaria o governo a gastar além da sua capacidade de caixa com a rolagem da dívida, causando desequilíbrio fiscal. Esse desequilíbrio aumentaria a percepção de risco dos títulos públicos por parte dos investidores, obrigando o Banco Central a aumentar ainda mais as taxas.
Um perfeito círculo vicioso, causado pela insistência no falso equilíbrio entre juros e inflação. Esse erro ficou evidente com o início da atual crise, já que toda a pressão de demanda sobre os preços se dissipou e mesmo assim a inflação se manteve relativamente alta (para o acumulado dos últimos 12 meses).
Teoria e prática
Na teoria, o juro alto contribui para controlar a inflação de três maneiras: encarecendo o crédito para o consumidor e, consequentemente, reduzindo o consumo; tornando a economia menos líquida e concentrando o dinheiro nos bancos; e pressionando a valorização cambial por meio da atração de capital estrangeiro especulativo, o que barateia os produtos importados.
A teoria vale para países que praticam taxas de juros decentes, mas não para o Brasil, onde os juros bancários são imorais. Além do erro do BC em relação ao ponto de equilíbrio entre juro e inflação, nossa autoridade monetária se faz de cega ao que é evidente: o juro do cheque especial na casa dos 300% ao ano ou do cartão de crédito em quase 500% ao ano perderam por completo sua conexão com a taxa básica de juro. Ou seja, a Selic a muito deixou de ser instrumento de controle da demanda e da liquidez na economia.
Mas, se não controla a demanda, ainda influencia diretamente o câmbio. E aí está um enorme problema. Estamos atravessando a pior crise econômica da história recente do país. Se está difícil para as empresas sobreviverem com o mercado interno em queda livre, imagine então com a importação facilitada. E é isso o que acontece hoje.
Se o BC vem insistindo num erro estrutural nas últimas duas décadas, ontem voltou a errar ao cortar a Selic em apenas 0,25 ponto percentual, dando início a uma redução lenta e gradual dos juros. O momento pede ousadia. Abrir crédito barato para consumo e investimentos e promover uma forte desvalorização cambial é urgente e imprescindível para que o país retorne à rota do crescimento. Mas o BC insistirá arrogantemente no erro enquanto seu presidente for Ilan Goldfajn e sua diretoria composta exclusivamente por representantes dos bancos privados.

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