Suspense na Colômbia
Manoel Hygino
O governo de Bogotá chegou a acordo de paz com as Forças Armadas
Revolucionárias da Colômbia (Farc) para encerrar uma luta feroz de mais de
cinquenta anos, mediante intermediação do presidente de Cuba, Raúl Castro.
Quando os colonizadores espanhóis ali desembarcaram, em fim do século XV, o
país era habitado por índios e se iniciou uma história de conflito e dor. Com a
sucessão de épocas, o país foi dividido entre os partidos Liberal e
Conservador, cuja rivalidade conduziu às guerras civis.
São fatos relativamente recentes: num meio-dia de sol quente, em 9 de
abril de 1948, um político liberal – Jorge Eliécer Gaitán – foi morto ao sair
de seu escritório no centro de Bogotá, capital. O crime foi cometido por
pessoas que espancaram o agressor até a morte, eclodindo uma onda de destruição
pela cidade. Com milhares em fúria, a polícia não conseguiu reprimir a
multidão. Naqueles dias, de “El Bogotazo”, estavam ali dois jovens
estrangeiros: o argentino Ernesto Guevara de La Serna e o cubano Fidel Castro
Ruz, participando de uma Conferência Internacional.
O conflito de 9 de abril se ampliou a todo o país. A insatisfação pelas
dificuldades da população levou também grupos a invadirem propriedades no
campo. O período, de “La Violencia”, durou de 1948 a 1958. O Congresso foi
fechado, emudecida a imprensa, todas as manifestações proibidas.
Associaram-se interesses para disputar o poder pelas armas. Criou-se o
Exército de Libertação Nacional, liderado por ex-integrantes do Partido
Comunista Colombiano descontentes por sua linha moderada. Em 1964,
organizaram-se as Farc da Colômbia, braço armado do Partido Comunista e, em
1968, o Partido Marxista-Leninista da Colômbia, de orientação chinesa.
Armava-se o palco para a encarniçada luta, que contaria ainda com o
Movimento 19 de Abril, que engrossou um caldo de caos por todo o país. Grupos
armados se espalharam pelo território, que estabeleceram também a indústria do
sequestro, fonte de renda das Farc e do M-19.
As tentativas de restabelecer a paz falharam, até porque também o
narcotráfico já aquecia a beligerância. Os governos do Equador e da Venezuela,
segundo dados da Interpol, intervinham para impedir êxito nos entendimentos,
enquanto as fronteiras eram violadas.
Em maio de 2008, morreu o comandante das Farc, Manuel Marulanda. Em
julho, um comando do Exército conseguiu resgatar a senadora Ingrid Betancourt,
franco-colombiana, em poder dos rebeldes desde 2002, além de três americanos e
onze colombianos.
Em 2016, contudo, assina-se um acordo de paz entre o governo, representado
pelo presidente Manuel Santos, em Cartagena de las Indias, ao passo que
Timoleón Jiménez, apelidado Timochenko, comandante máximo das Farc, pedia
perdão pela tragédia.
No entanto, nada está seguro. A senadora Ingrid Betancourt lembrou: “Há
um ano, Timochenko deu declaração dizendo que não se arrependia de nada. Que
seguiria sendo um guerrilheiro mesmo depois de assinar um acordo”.
Que há de se esperar?
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