Com as mãos sujas de
petróleo
Opinião Jornal Hoje
em Dia
Paulo Paiva*
Esta semana a Câmara de Deputados deu mais uma demonstração de seu divórcio da Nação e de seu compromisso com a impunidade ao tentar votar lei anistiando os crimes de caixa 2 cometidos até 2014. A resistência de poucos e atuantes deputados evitou que mais uma nódoa viesse manchar o parlamento brasileiro, na calada da noite.
Não foi um fato isolado, mas sim uma evidência adicional às tantas
outras que foram e estão sendo tramadas para desqualificar e constranger a Justiça
e limitar a ação da Operação Lava Jato.
Para não subestimar essas artimanhas é de bom alvitre, para usar uma
expressão em desuso, recordar o que aconteceu com a operação Mãos Limpas, na
Itália. Um aparente crime comum levou o Poder Judiciário italiano a descobrir,
acidentalmente, um amplo cartel de corrupção envolvendo todos os partidos
políticos e grandes empresas fornecedoras de serviços ao governo. Um caixa
comum recolhia uma percentagem do que era pago, como sobre preço, para a
execução de obras e a dividia em partes pré-determinadas aos partidos
políticos, como propina. Quanta semelhança.
Por um bom tempo, na Itália, a população mobilizada acompanhou e deu
suporte às ações do Ministério Público e dos juízes. O avanço das investigações
e condenações resultou na prisão de importantes agentes públicos e políticos e
na desorganização do sistema partidário existente. Novos partidos foram criados
e, em 2008, Silvio Berlusconi foi eleito presidente do Conselho de Ministros.
Sob sua liderança o parlamento aprovou leis limitando a ação da operação Mãos
Limpas. Ao longo do tempo a população italiana foi perdendo o entusiasmo e
deixando de apoiar o esforço do Poder Judiciário em revelar e punir a
corrupção. Triste fim.
Comparando com a experiência italiana, fica a lição: somente a população
alerta e mobilizada, com suporte da imprensa livre e atenta e das redes sociais
atuantes, poderá inibir e frear movimentos que visem barrar as investigações e
condenações dos corruptos, e garantir o saneamento do sistema político
brasileiro. Olho neles!
(*) Professor
associado da Fundação Dom Cabral. Foi ministro do Trabalho e do Planejamento e
Orçamento no governo FHC
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