Reforma do ensino médio
prevê aula com profissional sem licenciatura na área
Igor Patrick
CRÍTICAS – Estudante do 7º período de física da PUC Minas, Elves
Moreira, questiona as mudanças previstas na Medida Provisória
Além das críticas de educadores quanto à forma como as mudanças no
ensino médio propostas pelo governo federal serão implantadas, um artigo da
Medida Provisória (MP) anunciada na última quinta-feira promete gerar ainda
mais polêmica. Dessa vez, entre os profissionais e estudantes das
licenciaturas. O texto abre brechas para a contratação de pessoas de “notório
saber” e, em casos específicos, até mesmo sem diploma superior para darem
aulas.
Por meio da assessoria, o Ministério da Educação (MEC) se limitou a
informar que a “medida é restrita ao ensino profissional”. Já fontes ligadas ao
Ministério da Educação informaram que a mudança visa é reduzir o déficit de
professores.
O que muda
Na prática, quem domina a parte técnica de uma área do conhecimento
poderá lecionar sem a necessariamente ter o título específico de uma
determinada graduação. Engenheiros e economistas, por exemplo, poderão atuar
como professores de matemática. No meio acadêmico, educadores e alunos estão
preocupados.
A possibilidade decepcionou Elves Moreira, que cursa o 7º período de
física na PUC Minas. “Se uma escola acredita que uma pessoa só precisa
do conhecimento puro para entrar em uma sala, não vai haver mais subsídio
para a função de professor. É desanimador. Na física eu faço matérias comuns à
engenharia, à química, mas também estudo metodologias e processo pedagógico.
Isso deixará de ser um diferencial”, avalia.
Elves teme que a mudança desanime quem busca a carreira de licenciatura
e aumente a evasão. “É muito comum no quarto, quinto período as pessoas
abandonarem o curso por causa da dificuldade. Quem continua é porque ama a
profissão. Mas se ela não for rentável, muita gente vai migrar para o
bacharelado”.
Perplexidade
Coordenadora do Instituto de Ciências Humanas da PUC Minas, Carla
Ferretti também está preocupada. Segundo ela, o texto da Medida Provisória foi
recebido com “perplexidade pelos colegas” e demonstra um erro de avaliação do
governo quanto ao significado da palavra “educação”. Carla acredita que, caso o
texto seja aprovado, os anos de luta pela valorização do educador serão
prejudicados. “É banalizar a condição de professor e desconsiderar todo o
esforço de treinar os alunos em didática, em metodologias pedagógicas. É uma
afronta do MEC, que deixa a escola sensível a todo tipo de influência externa,
já que ninguém sabe o que o Ministério entende como notório saber”.
Os professores universitários, segundo a coordenadora, não descartam uma
mobilização coletiva, caso o texto siga inalterado para o Congresso Nacional.
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Qualidade
Por outro lado, o presidente do Sindicato de Escolas
[/TEXTO]Particulares de Minas Gerais (Sinep), Emiro Barbini, comemora. Para
ele, a flexibilidade ao contratar um profissional representa mais qualidade aos
cursos à medida que atrai pessoas com muito conhecimento, mas impedidos de
ingressarem na docência.
“Em disciplinas fundamentais como português, vamos priorizar um
professor com formação em licenciatura de letras, mas nada impede um bancário
de dar aulas de matemática financeira. São pessoas tecnicamente bem informadas
e experientes. É um grande ganho para os alunos”. Ele reforça, porém, que as
escolas deverão “complementar a formação” dos profissionais de “notório saber”.
De acordo com o Ministério da Educação, a base específica para o ensino
médio começará a ser discutida no próximo mês e deverá ser finalizada até
meados do ano que vem
MP é publicada com trecho polêmico sobre disciplinas
Um dia após o anúncio da Medida Provisória, o Ministério da Educação
(MEC) voltou atrás e garantiu artes, educação física, filosofia e sociologia na
grade curricular do ensino médio. Porém, ainda ontem, a MP que reforma os anos
finais da educação básica foi publicada em edição extra do Diário Oficial da
União, retirando a obrigatoriedade dessas disciplinas. De acordo com a pasta,
caberia à Base Nacional Curricular Comum (BNCC) definir se elas serão ou não
mantidas no currículo.
O secretário de Educação Básica do MEC, Rossieli da Silva, alegou que o
“mal entendido” em torno da dispensa das matérias foi porque a pasta distribuiu
aos jornalistas uma versão preliminar da MP, e não a redação final, que ainda
precisava de “ajustes técnicos”. Em nota, ele afirma que “não está decretado o
fim de nenhum conteúdo”.
Porém, o que foi publicado segue destacando que artes e educação física
serão indispensáveis aos ensinos infantil e fundamental, sem mencionar a
obrigatoriedade ao ensino médio.
O único trecho da MP que ficou diferente do divulgado na quinta-feira
trata da implementação das mudanças do ensino médio, que será 50% comum e 50%
específico, de acordo com a ênfase que o aluno escolher: linguagens,
matemática, ciências da natureza, ciências humanas ou ensino técnico. O texto
prevê que os conteúdos comuns deverão ser aplicados no segundo ano letivo após
a definição da BNCC.
*Com agência Estado
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