O Estado Democrático de
Direito
Manoel Hygino
Tinha-se como certo o afastamento definitivo da presidente da República,
no julgamento a que foi submetida no Senado Federal. Em verdade, eram dois
julgamentos: um pelo poder político, nos termos da Constituição e legislação
portanto, diante do descumprimento à Lei Orçamentária e à Lei de Responsabilidade
Fiscal; o segundo, pelo povo do país, inclusive certamente alguns dos milhões
que votaram pela segunda vez na presidentA, permitindo a continuação da rede de
corrupção que fere a economia do país e o envergonha.
Os longos debates, acirrados e até insultuosos, deram ideia da exaltação
dos ânimos, mas também do desespero de alguns parlamentares na Casa Alta do
Congresso. Seguramente, todavia, o julgamento não se encerrou esta semana,
embora já tenha entrado para a história.
O tema e os problemas terão sequência, porque a marcha das investigações
sobre os escândalos abrangidos pela corrupção prosseguirá. A novela das
iniquidades cometidas contra a nação e o povo não estará concluída enquanto não
se esclarecerem todas as nuances dos crimes perpetrados contra os cofres
públicos e no âmbito das empresas estatais. A sociedade quer conhecer mais e
precisa de mais para considerar sepultada de vez esta fase lúgubre da vida
nacional.
O Brasil quer conhecer exatamente quanto se emprestou ou “doou” às
nações deste continente e da África durante os anos mais recentes, em que
condições se fizeram as operações, em que ponto se acha a quitação das dívidas,
porque certamente ainda existem. Não se nega solidariedade, mas persiste a
regra de “amigos, amigos, negócios à parte”. Há milhões de brasileiros à míngua
em todo o território e obras públicas imprescindíveis paralisadas ou sequer
iniciadas, permanecendo os respectivos projetos nas gavetas.
Muito existe a aprender e me lembro da declaração que Ângela Merkel,
primeira-ministra da Alemanha, deu à imprensa quando Rousseff anunciou
sugerir-lhe medidas para enfrentar a crise entre os países do bloco europeu. A
Merkel foi clara e enfática: “Essa senhora vem à Alemanha nos dizer o que temos
de fazer? Ora, a Alemanha vai bem obrigada, apesar de tudo. Mas vou aproveitar
para dar um conselho a ela... Antes de vir aqui reclamar das nossas políticas
econômicas, por que ela não diminui os gastos do governo dela e também os juros
exorbitantes no Brasil? Se eu posso emprestar dinheiro a juros baixos e o meu
povo pode ganhar com juros absurdos lá no país dela, não vou ser eu que direi
ao meu povo que não faça isso. Ela que torne a especulação no seu país menos
atraente”.
Temos pela frente uma imensidão de problemas, a começar pela expulsão dos
maus brasileiros dos quadros dirigentes do país. Apoiamos Norberto Bobbio,
citado pelo advogado Aristóteles Atheniense: “O escândalo é a corrupção, que
vem a público. Portanto, se há corrupção, que haja escândalos. Dar publicidade
à corrupção é sinal de robustez e não de fragilidade do sistema político”.
Corroboramos o conselheiro nato da OAB e presidente da AMLJ: “A
subsistir o quadro atual, a nossa democracia, antes de ser um sistema político,
não passará de um ‘arranjo’ que se presta a satisfazer interesses pessoais com
o uso da máquina pública”.
E, de arranjos, estamos fartos.
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