Um país para quem tem
dinheiro
Editorial Jornal
Hoje em Dia
Existem várias coisas no país que funcionam como décadas atrás. Nosso
Código Penal, nossa Lei Trabalhista ou nossa visão em relação à educação são
exemplos. Outro problema histórico brasileiro é a política de juros
astronômicos. Até agora, nenhum governo conseguiu “domar” essa fera e trazer o
custo do dinheiro para patamares dentro da média mundial.
O juro do cartão de crédito bateu o maior valor desde 1995, quando o
Plano Real engatinhava, com uma taxa acima de 450% ao ano. O crédito pessoal
chega a incríveis 155,98% em 12 meses. Não é por acaso que estamos recebendo em
casa cada vez mais ligações de telemarketing dos bancos oferecendo cartões com
as mais variadas vantagens.
Da década de 90 pra cá foram várias as fases da nossa economia: dólar a
menos de R$ 1 ou acima dos R$4, reservas cambiais zeradas ou com mais de US$
300 bilhões, economia em “ritmo chinês” ou em recessão. Mas o que não mudou
significativamente foram os juros. Para pegar um empréstimo desse, somente
estando louco, desesperado ou desinformado.
A lógica do mercado em relação aos juros também é contraditória no nosso
país. Uma das regras econômicas mais básicas é que o preço de uma mercadoria ou
serviço varia de acordo com a oferta e a demanda. Quanto mais gente querendo um
bem, maior o preço. Já quando menos pessoas desejam o produto, o preço tende a
cair para garantir as vendas.
No atual mercado financeiro, países também atingidos por crises, como é
o nosso caso, reduziram as taxas de juros para incentivar pessoas a contrair
empréstimos. Já aqui no Brasil, se pouca gente busca empréstimos por causa da
queda da renda, o juro cresce. Se a população recuperar parte da renda e voltar
a consumir, as taxas são elevadas para evitar a inflação. Não há economista que
consiga uma explicação lógica para essa peculiaridade brasileira.
O que precisa é uma atitude de governo, por exemplo, baixando as taxas
dos bancos que controla, forçando as instituições da iniciativa privada a fazer
o mesmo, assim como foi ensaiado por Dilma Rousseff em seu primeiro ano de
mandato. Pena que durou pouco.
Caso contrário, o Brasil continuará a ser, mais do que um país pobre,
uma nação em que as regras e políticas são voltadas para quem tem dinheiro.
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