Deputados dizem não saber
quem colocou projeto de anistia do caixa 2 em pauta
Estadão Conteúdo
O relator da ementa, deputado Aelton Freitas, também disse desconhecer o
texto
Após a confusão causada pela tentativa de votar um projeto que pode
anistiar a prática de caixa 2 em campanhas, deputados diziam desconhecer o
projeto e não saber como a proposta foi colocada em pauta na sessão da Câmara
desta segunda-feira (19).
Na ausência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que hoje está no exercício da Presidência da República, coube ao deputado Beto Mansur (PRB-SP) comandar a sessão da Câmara. O substituto natural seria o vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão, que estava na Casa, mas não subiu à Mesa diretora para conduzir os trabalhos.
Quando a discussão do projeto foi encerrada, Mansur tergiversou sobre quem seria o responsável por colocar o assunto em pauta.
"Vocês têm que perguntar por que o projeto entrou na pauta para os líderes. Foi pedido para que eu viesse tocar a sessão. Eu vim. Eu desconheço o projeto, desconheço o substitutivo", afirmou.
Apontado como relator da emenda que iria especificar o que é crime de caixa dois eleitoral, e abrir uma brecha para a anistia, o deputado Aelton Freitas (PR-MG) também disse desconhecer o texto.
O líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), e do PSD, Rogério Rosso (RJ), também afirmaram que não sabiam por que o projeto estava na pauta.
É prerrogativa do presidente da Câmara colocar os projetos em votação. Nos bastidores, a articulação da votação do projeto foi creditada a Maia, mesmo ele não estando formalmente na presidência da Casa nesta segunda.
Maia, no entanto, se reuniu com parlamentares à tarde, no Palácio do Planalto. O assunto teria sido tratado nesse encontro, do qual participaram nomes como o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). (Isadora Peron)
Na ausência do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que hoje está no exercício da Presidência da República, coube ao deputado Beto Mansur (PRB-SP) comandar a sessão da Câmara. O substituto natural seria o vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão, que estava na Casa, mas não subiu à Mesa diretora para conduzir os trabalhos.
Quando a discussão do projeto foi encerrada, Mansur tergiversou sobre quem seria o responsável por colocar o assunto em pauta.
"Vocês têm que perguntar por que o projeto entrou na pauta para os líderes. Foi pedido para que eu viesse tocar a sessão. Eu vim. Eu desconheço o projeto, desconheço o substitutivo", afirmou.
Apontado como relator da emenda que iria especificar o que é crime de caixa dois eleitoral, e abrir uma brecha para a anistia, o deputado Aelton Freitas (PR-MG) também disse desconhecer o texto.
O líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), e do PSD, Rogério Rosso (RJ), também afirmaram que não sabiam por que o projeto estava na pauta.
É prerrogativa do presidente da Câmara colocar os projetos em votação. Nos bastidores, a articulação da votação do projeto foi creditada a Maia, mesmo ele não estando formalmente na presidência da Casa nesta segunda.
Maia, no entanto, se reuniu com parlamentares à tarde, no Palácio do Planalto. O assunto teria sido tratado nesse encontro, do qual participaram nomes como o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). (Isadora Peron)
Câmara põe em votação
projeto para tentar salvar alvos da Lava Jato
O plenário da Câmara dos Deputados tenta votar de surpresa na noite desta
segunda-feira (19) projeto gestado nos bastidores da Casa que visa abrir uma
brecha para anistiar políticos que hoje são alvos da Operação Lava Jato.
O texto estabelece na legislação uma punição específica e direta para o
crime de caixa dois eleitoral, que é o uso de dinheiro nas campanhas sem
declaração à Justiça.
Deputados que articularam a manobra almejam dois objetivos: conseguir a
anistia por prática de caixa dois cometida até agora, com base no princípio de
que lei não retroage para prejudicar o réu; e inibir a atual inclinação da
força-tarefa da Lava Jato -e do juiz federal Sérgio Moro- de tratar como
corrupção pura e simples o recebimento de dinheiro que não esteja na
contabilidade eleitoral.
Em resumo, a intenção é essa: aprovada a lei, os casos seriam
enquadrados na nova legislação sobre o caixa dois -e não como recebimento de
propina-, mas só haveria punição daqui pra frente.
O projeto entrou na pauta de votações desta segunda sem convocação
explícita dos deputados para analisar o tema e sem apresentação prévia do
texto.
A maioria dos deputados dizia não saber o que seria votado e muitos
fizeram questionamentos à Mesa. O deputado Beto Mansur (PRB-SP),
primeiro-secretário da Casa, presidia a sessão e se recusou a responder aos
deputados. Disse apenas que a inclusão de um projeto de última hora obedece ao
regimento.
BANDALHEIRA
BANDALHEIRA
Para concretizar a manobra, foi incluída na pauta um projeto de lei de
2007 sem relação direta com o tema. Os deputados defensores da medida iriam,
durante a votação, incluir uma emenda com a anistia.
Devido às divergências, a sessão foi suspensa por volta das 21h30 para a
tentativa de um acordo.
Participaram das articulações em torno desse projeto, entre outros,
deputados do PSDB e do PP, esse último o principal partido com parlamentares
implicados na Lava Jato. Houve aval do presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), responsável final por aquilo que é levado à votação.
Embora ele estivesse interinamente na presidência da República nesta
segunda, devido à viagem de Michel Temer aos Estados Unidos, nunca um projeto
desse porte iria a voto sem a sua anuência. A Folha não conseguiu falar com ele
até o momento.
"O que está se tramando aqui esta noite é uma bandalheira, uma
maracutaia, um trambique. Queremos saber quem são os partidos que estão
redigindo essa emenda na calada da noite, escondidos do povo brasileiro",
discursou o deputado Ivan Valente (PSOL-SP). "A Câmara dos Deputados não
pode ser emasculada por um ato dessa natureza", reforçou Miro Teixeira
(Rede-RJ).
Outro que reclamou foi o deputado Jorge Solla (PT-BA), apesar de
deputados afirmarem que petistas participaram das negociações. "Estão
querendo apagar a corrupção do passado."
Um dos principais temores dos deputados diz respeito à lista divulgada
em março com o nome de mais de 200 políticos que teriam recebido recursos da
Odebrecht. Os executivos da empreiteira negociam acordo de delação premiada com
a força tarefa da Lava Jato.
ANISTIA
Entre os deputados que participaram das conversas de bastidor sobre o
projeto está o ex-líder da bancada do PSDB Carlos Sampaio (SP), que é egresso
do Ministério Público.
Ele defende a aprovação integral do texto enviado pelo Ministério
Público Federal no pacote legislativo chamado "As Dez Medidas contra a
Corrupção", em análise em comissão especial da Câmara.
No texto, o MPF propõe a responsabilização dos partidos políticos e a
criminalização específica do caixa dois. Embora não tenha uma tipificação
exclusiva, a prática já é hoje passível de punição com base na legislação
existente.
Sob o argumento de que o Ministério Público Federal jamais defenderia
uma medida livre políticos envolvidos em crimes, Sampaio diz não ver
possibilidade de anistia.
"Há chance zero de isso acontecer, não é nem chance pequena ou
irrisória, é zero", afirmou, argumentando que a Justiça poderá continuar a
condenar os políticos envolvidos na Lava Jato com base em outra legislação.
Segundo ele, a necessidade de votação agora se dá para que haja real
possibilidade de uma punição mais dura aos candidatos que utilizarem caixa dois
nas eleições de outubro.
Nos bastidores, deputados têm demonstrado muito receio com o que
consideram uma tentativa da Justiça Federal e do Supremo Tribunal Federal de
criminalizar a política, tratando o recebimento de doações eleitorais não
declaradas à Justiça como recebimento de propina, ou seja, corrupção.
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