Políticos têm patrono
O número 72 do
Jornal da Associação Nacional dos Escritores (ANE) traz interessante artigo de
José Carlos Brandi Aleixo, da Academia Mineira de Letras, sobre Tomás More.
Muito oportuno, aliás, pois corresponde ao quingentésimo (quinhentos anos) do
aniversário de publicação de “A Utopia”, em Lovain, cidade belga, em 1516. O
autor se refere ao fato de estar exatamente agora se registrando também o
cinquentenário do filme “A Man for All Seasons (no Brasil, “O Homem que não
Vendeu a Alma” ), de Fred Zinnmann, que ele considera excelente.
Filho de pais
abastados, More formou-se advogado, casou com Jane Colt, de cuja união nasceram
quatro filhos. Viúvo, esposou Lady Alice. Exemplar chefe de família, seu lar
acolhia genros, noras, netos, amigos e jovens que precisavam de orientação.
Elegeu-se ao Parlamento, recebeu o título de cavaleiro, tornou-se presidente da
Câmara dos Comuns e foi escolhido por Henrique VIII para chanceler, admirado
“pela integridade moral, competência, sutileza de pensamento, afabilidade e
cultura ímpar”.
Participou em
Flandres de negociações, em nome da Inglaterra, sobre tratados comerciais e
diplomáticos, mais se aproximando do sábio Erasmo de Roterdam, de quem já era
amigo, autor de “A Educação de um Príncipe Cristão”. Na Antuérpia, onde existia
uma Feitoria portuguesa, aproximou-se do navegante lusitano Rafael Hitlodeu,
que viajara com Américo Vespúcio. Uniram seus interesses aos dos autores
helênicos e romanos que estudaram a organização política dos povos.
More somava
experiências e convivia com o que havia de mais lúcido na intelectualidade
europeia, mas não se curvava a interesses e desígnios do poder. Afastava-se,
assim, de seu protetor, Henrique VIII, que pretendia assumir, como assumiu, a
chefia da Igreja da Inglaterra, desafiando Roma. Não aprovando o divórcio do
soberano, acontecimento decisivo naqueles meados do século XVI, demitiu-se
Tomas da chancelaria. Encarcerado por mais de um ano na temível Torre de
Londres, registrava suas dores e sacrifícios. Finalmente condenado à forca, não
desanimou.
Escreveu: “Os homens
fizeram os reis para os homens e não os homens para os reis, colocaram chefes à
sua frente e para que pudessem viver comodamente ao abrigo das violências e dos
ultrajes; o dever mais sagrado do príncipe é velar pela felicidade do povo
antes de velar pela sua própria; como um pastor fiel,deve dedicar-se ao seu
rebanho e conduzi-lo às pastagens mais férteis (...). A dignidade real não
consiste em reinar sobre mendigos, mas sobre homens ricos e felizes”.
Dirigiu-se ao
carrasco, ao ir à forca: “Ajuda-me a subir ao cadafalso porque para descer não
darei trabalho”. Ainda: “Morro servidor fiel do rei, mas de Deus em primeiro
lugar”.
Para epitáfio,
deixou redigido: “Não odioso à nobreza, nem desagradável ao povo, mas temido
por ladrões, assassinos e heréticos”.
Reverenciado,
inclusive por Lênin, que lhe ergueu monumento próximo ao Kremlin, João Paulo
II, em outubro de 2000, proclamou-o “Patrono dos governantes e dos políticos”.
Seria bom que estes melhor o conhecessem.
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