A vida não é descartável
Antonio Anastasia
O mundo acompanhou chocado, nessa última semana, a repercussão de mais
um atentado ocorrido, dessa vez, em Orlando, nos Estados Unidos. Se engana quem
pensa que aquele ataque – ainda sob investigação das autoridades – foi apenas
uma violência contra uma casa noturna, um grupo ou a um país específico.
Foi um ataque à sociedade livre, plural e tolerante. Uma demonstração de
ódio e extremismo. Ficamos nos sentindo ainda mais pequenos quando assistimos
cenas como essa. Tristes ao vermos a troca de mensagens entre as vítimas e seus
familiares, momentos antes da tragédia. Impotentes, pensando que qualquer
solução pontual – por maior que seja – ainda será pequena para evitar outros
casos desse tipo que, infelizmente, tornam-se cada vez mais frequentes.
Da mesma forma, nos indignamos quando observarmos a realidade
brasileira. O alto índice de violência que hoje assola nossa Nação é espantoso
e desumano. Só no ano passado foram mais de 58 mil vítimas de mortes violentas.
Números que podem ser comparados aos da Guerra Civil na Síria e mesmo ao
Conflito de Darfur, de extermínio étnico. Além disso, foram registrados mais de
47 mil casos de estupros só em 2014 em nosso país. É vergonhoso, triste,
chocante.
Por algumas vezes já utilizei esse espaço para falar das intervenções
que o Estado brasileiro pode começar a adotar para que vejamos essa curva da
violência diminuir. Ações que envolvam a atitude firme e planejada do Governo
Federal. Nesse sentido, tem sido positiva a sinalização do novo ministro da
Justiça e Cidadania, Alexandre de Moraes, que já se reuniu com secretários de
Segurança Pública dos Estados e tem demonstrado preocupação e articulação a fim
de que a União assuma suas responsabilidades e lidere um Plano Nacional para redução
da violência.
Da mesma forma, é positivo o debate que envolve – em âmbito mundial – a
redução do número de armas, com a proibição da sua comercialização livremente.
Não acredito que possa ser normal se vender armas como se vende água. Da mesma
forma, é aplaudível e necessária a criminalização da homofobia, o aumento da
inteligência dos órgãos de segurança, o combate efetivo ao tráfico de drogas, o
aumento de pena para crimes de estupro... ações essenciais.
O mais importante em toda essa discussão, no entanto, e sei da
dificuldade – uma quimera, quase uma utopia, mas que precisa ser nossa obsessão
–, é adotarmos uma nova cultura de paz. Uma cultura de valorização do outro
como ser humano, que tem o direito de viver e de ser respeitado como indivíduo.
De tolerância. De diálogo.
A vida não é descartável. Precisa ser valorizada no Brasil, nos Estados
Unidos, na Síria, na Ucrânia, no Sudão, em todo o mundo. Desculpo-me pela
pieguice. Mas quero terminar com uma estrofe daquele que considero ser o “hino
mundial da paz”. Porque acredito fielmente que essa mudança para uma cultura
mundial da paz começa por cada um. Na reflexão e na tomada de atitude
individual, em ações do nosso dia a dia, na relação com os outros em todos os
ambientes que frequentamos. Em casa, no trabalho, nas praças, no bar, no
trânsito... na vida.
“Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único. Espero
que um dia você junte-se a nós. E o mundo viverá como um só” – John Winston Ono
Lennon (1971). Bom Domingo.
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