Recursos Ociosos
Paulo Haddad
Em 1965, a economia brasileira vivenciava um processo de estagflação,
uma combinação de uma economia estagnada com inflação elevada e crescente,
somada à desorganização das finanças públicas. Tornava-se necessária a
elaboração de uma estratégia de desenvolvimento a fim de que, com o controle da
inflação, houvesse uma retomada de crescimento econômico com a geração de mais
renda e mais emprego para a população. Nos anos em que Juscelino Kubitschek
ocupou a Presidência da República (1956 – 1961), o Brasil havia adotado um
bem-sucedido modelo de crescimento, baseado em um processo de substituição de importações
industriais. Já em 1962, a economia brasileira se destacava no cenário
internacional com a estrutura industrial mais moderna e dinâmica entre os
países do Terceiro Mundo.
A estratégia de desenvolvimento, concebida e implementada a partir de
1965, se fundamentou na articulação e na integração entre objetivos de curto
prazo (a estabilização monetária) e objetivos de longo prazo (modernização da
economia com crescimento acelerado). Ou seja, um programa de equilíbrio
macroeconômico de curto prazo (PAEG) com um plano decenal de desenvolvimento
econômico e social. A economia passou a crescer, desde 1968, a taxas superiores
às recentes taxas da China, num contexto de inflação civilizada. Foi o
resultado da execução de um conjunto de reformas econômicas e institucionais
sob a inspiração analítica do ministro do Planejamento Roberto Campos e do
ministro da Fazenda Otávio Gouveia de Bulhões e consubstanciadas na
Constituição de 1965.
Um fato merece destaque. A economia brasileira se encontrava com uma
grande capacidade ociosa de produção em quase todos os setores que emergiram da
substituição de importações. Alguns estavam operando com menos de 30% de seu
potencial produtivo. A disponibilidade de recursos ociosos (mão de obra
desempregada ou subempregada, máquinas paradas, infraestruturas econômicas
subutilizadas) era imensa, à espera da expansão da demanda de consumo de
investimento e de exportações para sua indispensável utilização. Vale dizer, o
PIB potencial brasileiro era bem maior do que o PIB efetivamente realizado.
Neste segundo semestre de 2016, observa-se a formação de um bolsão de
recursos ociosos gerados nas entranhas da recessão econômica desde 2014. É
possível ter mais ousadia na formulação e implementação da política econômica,
mesmo quando a expansão dos gastos públicos anticíclicos está comprometida
pelos elevados déficits e endividamento do governo e por uma política monetária
expansionista, refém de um processo inflacionário, com taxas bem acima das
metas consensualizadas?
É claro que a resposta é positiva. A revitalização da economia passa por
vários caminhos alternativos e complementares: mudanças infraconstitucionais
nos sistemas tributário e previdenciário, a construção de um orçamento de base
zero articulado com um plano de desenvolvimento, aceleração operacional dos
processos de concessões e de privatizações, programas de refinanciamento
prioritário para setores intensivos de mão de obra ilíquidos, a reestruturação
das relações financeiras entre o Tesouro Nacional e o Banco Central, etc.,
etc., etc. Sim, são muitos eteceteras quando se observam cuidadosamente as
experiências de superação das crises que envolveram países em condições
estruturais isomorfas às do Brasil.

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