Nação com N maiúsculo
Manoel Hygino
Desde que me entendo por gente, ouço a respeito da reforma política, sem
a qual a nação não encontrará seu melhor rumo e sua gente não alcançará a
felicidade possível. Com o fim do período populista na gestão nacional, crê-se
mais uma vez que se abrirão perspectivas à ansiosamente esperada reforma, tentada
sempre e nunca alcançada, vendida a granel no mercado dos interesses
subalternos.
Percebem, os brasileiros que sentem e pensam, que estamos no ápice de
uma crise, que só não evoluiu mais tragicamente porque o povo do país, que
mantém uma guerra cotidiana para sobreviver (apenas amenizada pela efemeridade
das vitórias esportivas), não deseja a violência máxima entre irmãos.
A nação acompanha envergonhada a interminada sucessão de escândalos, que
alcançou o cume com a divulgação dos casos apurados ou em apuração pela Lava
Jato. O conceituado advogado José Anchieta da Silva argumenta sobre as razões
maiores da mudança pretendida, que tem de ser ampla e profunda, sem os
atropelos e empecilhos ditados por razões malsãs.
Para ele, além de outras reformas como a tributária, previdenciária e
sindical, o que se busca é um “projeto que visa consolidar nossa democracia.
Não pode ser trabalho de gabinete”. Aí, a receita... Para quê? Para tornar
“mais acreditados os poderes Legislativo e Executivo, fazendo-os representativos.
É caminho pavimentado para uma nova organização do Estado, valorizando, também,
o poder Judiciário, que continua, do ponto de vista orçamentário, refém do
poder Executivo”.
No pico de respeito do país está o Judiciário, que tampouco escapa às
desconfianças de um povo que não se acostuma e nem quer a troca de favores,
benesses e gentilezas. É preciso mudar, e mudar muito.
As razões, Anchieta explica:
“A Nação se envergonha, a cada noticiário, das novas revelações, dando
conta da corrupção que campeia, envolvendo políticos e agentes públicos. O
exercício de cargos ou funções públicos, obtidos a partir do voto ou da outorga
de confiança, corresponde a um sacerdócio e a população não pode perder a
crença no Estado”.
Não pode, mas estamos conscientes de que nos mantemos à beira do
precipício, a despeito de medidas, só paliativas, experimentadas.
Passo a palavra, novamente, a Anchieta. “Toda desonestidade com o
dinheiro público corrói as raízes de instituições que não podem cair no
descrédito. Quanto à corrupção, o texto legal por vir deve ser implacável, de
modo a não permitir ambiguidades que criem dificuldade ao poder Judiciário no
julgamento de casos concretos”.
Ainda: “A reforma política deverá levar para o âmbito dos partidos
políticos a séria questão dos comportamentos de seus afiliados, barrando
candidaturas comprometidas com falcatruas, resolvendo-se, no foro partidário, a
tormentosa questão das fichas dos candidatos”.
Estamos às vésperas de uma nova eleição, a primeira municipal após a
Lava Jato: “A reforma política, para ser duradoura, não pode perder a
oportunidade de exigir a pregação permanente da bandeira da ética na política”.
O N da Nação, enfim merece ser escrito com maiúscula.
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