Simplicidade e emoção
marcaram a cerimônia da Olimpíada do Rio
Estadão Conteúdo
Hoje em Dia - Belo
Horizonte
Simplicidade e emoção marcaram a cerimônia da Olimpíada do Rio, na noite
desta sexta-feira, no estádio do Maracanã. Como anteciparam os organizadores, a
festa teve menos efeitos especiais, apostando mais na gambiarra para divulgar
uma mensagem de diversidade social e na necessidade de se preservar a natureza.
Cerca de 50 mil pessoas assistiram ao espetáculo, alternando aplausos
emocionados (para a atacante Marta, o cestinha Oscar e os carregadores da tocha
olímpica, Gustavo Kuerten, Hortência e Vanderlei Cordeiro de Lima) com vaias
vigorosas (para a delegação da Argentina e o presidente em exercício Michel
Temer).
A diversidade cultural e social do Brasil foi lembrada já no início,
quando uma estampa do artista Athos Bulcão foi projetada no palco, símbolo da
reinvenção das tradições de arte geométrica indígena, dos padrões de estampas
africanas e da azulejaria portuguesa. A proposta era clara: as diferenças devem
estimular a união e não provocar guerras.
O tom de preservação pacífica foi traduzido logo no início da cerimônia
quando, depois da contagem regressiva, o palco do Maracanã foi tomado por cerca
de mil pessoas, que formaram uma enorme figura com o formato do símbolo da paz.
Suspenso, o objeto foi girado até se transformar na representação de uma
árvore. A mensagem foi clara: ao transformar o símbolo da paz no de uma árvore,
o Brasil concilia dois elementos essenciais para a preservação da vida.
Simplicidade e talento, marcas que acompanham a carreira do cantor e
compositor Paulinho da Viola, responsável pela belíssima execução do Hino do
Brasil, ao som apenas de cordas. Foi a deixa para começar a representação da
história do País, inicialmente habitado apenas por índios e, com a chegada dos
portugueses, introduzido no chamado mundo conhecido. Novamente, os recursos de
gambiarra permitiram uma encenação de forte apelo visual, com as naus dos
europeus representados por aparelhos formados apenas por ferro.
A transformação das florestas em campos de cultivo de agricultura foi o
motivo para a coreógrafa Deborah Colker, diretora de movimento da cerimônia,
exercitar seu talento em coreografias que desafiam a gravidade - dançarinos
ocuparam o palco em rodas gigantes movimentadas apenas pelo peso de seus
corpos, simbolizando os escravos africanos. Era o momento de começar a mostrar
a diversidade que marca a sociedade brasileira, com bandeiras vermelhas
representando a onda de imigração vindas do Oriente Médio e Ásia.
A cerimônia de abertura de uma Olimpíada é essencialmente um espetáculo
criado para a televisão, que não apenas tem a vantagem do foco como dos efeitos
especiais. Foi o que aconteceu no segmento seguinte, quando é retratada a
grande urbanização nacional: a imagem dos bailarinos saltando de um prédio para
outro só foi visível no telão do Maracanã. Também momento seguinte, um dos mais
emocionantes da cerimônia, contou com o uso da tecnologia: quando o avião 14-Bis,
comandando por Santos Dumont deixou o palco do Maracanã para, em belas imagens,
sobrevoar o Rio.
O Rio que foi delineado, então, em curvas físicas, como as da modelo
Gisele Bündchen, que desfilou pelo palco (e não foi alvo de uma tentativa de
assalto) e também curvas melódicas, na apresentação do clássico Garota de
Ipanema, tocante momento para se lembrar (e homenagear) do maestro mestre Tom
Jobim. E, como o Rio não é formado apenas pela Zona Sul, o morro surge na voz
do samba de Zeca Pagodinho assim como no funk de Cristian do Passinho,
verdadeira febre no Rio.
Morro e Zona Sul se uniram, em seguida, no carnaval, a mais autêntica
festa coletiva do Brasil, personalizada em Jorge Ben Jor interpretando seu
clássico País Tropical. A festa se espalhou pelas arquibancadas com os
voluntários fantasiados saindo pelas laterais.
A diversidade estava bem revelada, mas faltava reforçar o outro pilar da
cerimônia: a preocupação com o futuro do planeta com a extinção de rios e
florestas. No telão, o adensamento de cidades tão distintas como Rio e Amsterdã
revelou a extensão da problema em todo o mundo. Um problema tão grave revelado
por imagens de destruição exibidas no telão. A trilha sonora, porém, era
conhecida: a que marcou o filme Central do Brasil, de Walter Salles. Era a
senha para se ouvir a voz poderosa de Fernanda Montenegro que, em parceria com
também poderosa atriz Judi Dench, declamou os versos de A Flor e a Náusea, de
Carlos Drummond de Andrade, anunciando caminhos da esperança por meio do
reflorestamento.
Caminhos formados pelos atletas que vieram ao Brasil e que, naquele
instante, iniciavam seu alegre desfile, iniciado, como de costume, pela Grécia,
país onde nasceram os jogos olímpicos, e encerrado pelos anfitriões nacionais.
Causou enorme comoção a chegada de atletas refugiados de seu país, um exemplo
da força do esporte acima das diferenças políticas. Também emocionante foi a
ovação que recebeu o grupo de países independentes. E a pregação da tolerância
sofreu apenas um revés, com a poderosa vaia dirigida ao atletas argentinos.
Apupos que incomodaram o presidente Mauricio Macri, em imagem exibida pelo
telão.
Pela primeira vez em uma abertura olímpica, os competidores receberam
uma semente e um recipiente para colocá-la. Torres de espelho foram montadas com
espaços onde cada recipiente foi guardado, somando cerca de 2 mil sementes que
formarão a Floresta dos Atletas, no Parque Radical, em Deodoro.
Imprensa internacional
elogia beleza da cerimônia de abertura dos Jogos do Rio
Rodrigo Gini
Hoje em Dia - Belo
Horizonte
BBC exaltou a beleza da cerimônia de abertura dos Jogos do Rio
O show de luzes, cores e criatividade do Brasil ao receber o mundo para
a 31ª edição dos Jogos Olímpicos mereceu elogios da imprensa em todo o mundo.
Se havia o temor de que o orçamento mais baixo comprometesse o espetáculo e
deixasse a desejar na comparação com as edições mais recentes (Londres e
Pequim), aos olhos do mundo o Maracanã recebeu um momento mágico, mesmo para
quem teve antes a honra de sediar a Olimpíada. E as redes sociais se encheram
de elogios de quem olhava com desconfiança.
"Não sei quanto a você, mas nós estamos bastante impressionados com
a festa de abertura do Rio-2016. Uau!", exaltou no Twitter a inglesa BBC.
Para a Gazzetta dello Sport, a parte inicial da cerimônia foi
"intensa" e ajudou a "afastar medos e tensões no templo do futebol".
O espanhol Marca falou num "tremendo espetáculo de luzes e sons em que
brilhou a beleza de Gisele Bündchen.
E se os vizinhos argentinos, tradicionais rivais esportivos, poderiam
demonstrar algum ciúme por verem o Brasil ser o primeiro país sul-americano a
receber uma Olimpíada, esteve longe de ser o caso. "O Rio vibrou com uma
festa repleta de música, cores e esporte. Foi um início à altura da Cidade
Maravilhosa. Houve ritmo e beleza a cada passo no mítico palco do
Maracanã", estampou a capa da edição digital do Clarín.
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