Uma crise que afeta a todos
Júlio Delgado
A apreciação do processo de impeachment da presidente afastada Dilma
Rousseff deu mais alguns passos no Senado esta semana. Na Câmara dos Deputados,
a expectativa é que o pedido de cassação de Eduardo Cunha avance a partir de
segunda-feira e seja concluído até o final do mês. Dessa forma, os principais
entraves da pauta política nacional caminham para encontrar solução definitiva.
Em relação às medidas para recuperar a economia, entretanto, a história
é diferente. Dúvidas e divergências podem travar temas como o teto para gastos
públicos e a renegociação das dívidas dos Estados. E se o ajuste das contas
fracassar, o cenário econômico deve ficar ainda pior.
As propostas do governo federal para a crise atendem a necessidades
emergenciais do governo central, mas elas impõem regras que retiram a autonomia
administrativa dos governadores. Assim, desconsideram aspectos sazonais e
características específicas de cada região do país. Um erro que pode custar
caro aos cidadãos.
A grave crise enfrentada atualmente pelo Rio Grande do Norte na área de
segurança é um exemplo prático. É inegável que o governo local precisará
aumentar os gastos no setor para conter o aumento da violência. Mas se aderir à
proposta de renegociação apresentada pelo presidente interino Michel Temer,
essa alternativa será descartada. O Estado ficará impedido de contratar
policiais, por exemplo.
Vale lembrar que a situação econômica dos municípios também é
extremamente crítica, embora não seja tratada como prioridade por Brasília. Nos
últimos dias, visitei grande parte das cidades mineiras para encontros políticos
e participar de convenções partidárias visando as eleições de outubro. O
cenário é extremamente crítico.
Existem muitos casos, tanto em Minas quanto no resto do Brasil, de bons
prefeitos que desistiram de candidatar-se à reeleição porque enfrentam
problemas sérios em suas gestões. Obras importantes estão paralisadas e
programas sociais imprescindíveis funcionam precariamente porque faltam
recursos para pagar as contas.
Em outra ponta do problema, muitos prefeitos correm o risco de
desrespeitar a Lei de Responsabilidade Fiscal e ter que enfrentar a Justiça ao
final do mandato. Alguns por deixar dívidas para seus sucessores, outros por
usarem mais de 60% das verbas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM)
para pagar salários.
O verdadeiro culpado por esse estado de caos nas cidades é o Executivo federal. Mais de 90% dos municípios brasileiros, principalmente de pequeno e médio porte, dependem totalmente das verbas da União para sobreviver. Só que o dinheiro não chega até as prefeituras.
O verdadeiro culpado por esse estado de caos nas cidades é o Executivo federal. Mais de 90% dos municípios brasileiros, principalmente de pequeno e médio porte, dependem totalmente das verbas da União para sobreviver. Só que o dinheiro não chega até as prefeituras.
O governo federal deve R$ 43 bilhões aos municípios brasileiros
referentes a restos a pagar. São dívidas de obras já executadas pelas
prefeituras e não pagas pela União. Além disso, existe débito de quase R$ 800
milhões do FPM de 2016, os valores das contrapartidas federais para os
programas sociais estão defasados e não há empenho do Palácio do Planalto para
corrigir distorções do sistema tributário que podem favorecer os municípios.
As forças políticas do Congresso Nacional estão fazendo um esforço
imenso para destravar a pauta e agilizar a discussão de matérias de interesse
da sociedade. Mas a equipe de Temer também precisa demonstrar sensibilidade.
Colocar a faca no pescoço dos governadores como condição para dar fôlego
financeiro aos Estados não é um caminho sensato. Ignorar a falência das
prefeituras também pode provocar conseqüências sérias.
A crise afeta a todos. Se tentarmos resolver apenas as dificuldades de
caixa do governo federal, a conta será transferida para a população. Serviços
básicos ficarão ainda mais comprometidos. E o desenvolvimento ficará cada vez
mais distante.

Nenhum comentário:
Postar um comentário