A opinião pública apática
Manoel Hygino
Por mais que se queira ou se quisesse, não se poderia deixar de
focalizar os acontecimentos que marcam o grave período político que
atravessamos. A hora não admite omissão e, para salvar o que de bom e exemplar
sobrou do caos, tem a nação de unir-se em defesa da nobreza e da dignidade na
ação política.
Não se há de permitir que os vendilhões do templo, os desonestos, os
larápios aproveitadores de oportunidades se sirvam das benesses e facilidades
que a administração da coisa pública facilita. É hora e vez de os brasileiros
se unirem em torno de seus ideias e de princípios para gerir. Enfim, tempos uma
república, res publica.
Em seu “Refletindo o Direito e a Justiça”, o desembargador Rogério
Medeiros Garcia de Lima (nascido em São João del-Rei e ex-juiz de Direito da
Comarca de Montes Claros) focaliza os problemas que enfrentamos hoje e que, em
alguns casos, apenas dão continuação ao que vem de outras eras, mas deveria ter
sido extirpado dos costumes.
Para o magistrado, no Brasil existem “duas éticas”: uma para a
população, outra para a elite. A primeira austera e a segunda, condescendente.
Rogério Medeiros observa: “Qualquer país – ressalve-se – convive com a
corrupção. Sendo impossível erradicá-la, pode-se contê-la em limites razoáveis.
Tal contenção, evidentemente, não vem ocorrendo em nosso país”.
Acrescenta: “O fenômeno não é exclusivamente nacional. Ocorre em outros
países, sobretudo nos subdesenvolvidos. Entre nós, como em toda a América
Latina, mesclam-se caudilhismo e corrupção. Escrevia Jacques Lambert: “Se está
encerrada a era do caudilhismo, pelo menos na maior parte da América Latina, os
hábitos adquiridos deixaram traços duradouros na vida política de países que
durante tanto tempo ele dominou”.
“Pode-se pensar, por exemplo, que a longa persistência do caciquismo
tornou mais difícil o desaparecimento de um estado de espírito - de que, certa
ou erradamente, todos se queixam na América Latina – que levaria muitos homens
públicos a considerar normal o enriquecimento dos que detêm o poder”.
A pergunta que faço: será este o estigma da hora que atravessamos? A
sucessão de escândalos, de denúncias, as delações de gravações com acusações a
“ilustres” homens da res publica se não surpreendem, nos deixam estarrecidos.
Embora, como comenta Medeiros, “Alvissareiramente se espraiam candentes
clamores por ética na vida pública, em todos os níveis federativos. As lutas
contra as transgressões da moralidade administrativa ocupam grande parte das
notícias dos meios de comunicação social. Aviventam, diariamente, os valores
morais, os quais vão sendo paulatinamente incorporados às ordens jurídicas de
vanguarda”.
O papel das atuais gerações tem, portanto, relevância muito especial.
Chegaram a hora e minuto de se esforçarem para que os cidadãos, por todos os
meios, virem a tenebrosa página da história. Os sendeiros estão abertos e cabe
à sociedade agir decisivamente. Temos de remover o que impede de se atuar em
benefício da nação e de cada cidadão.
Se Bilac Pinto condenou um passado que ainda é presente, expresso em apenas duas linhas, temos de riscá-los definitivamente de nossas práticas: “o que torna mais grave esse fenômeno – da corrupção política e administrativa - , que ocorre em todos os níveis do governo, é a apatia da opinião pública diante dele”.
Se Bilac Pinto condenou um passado que ainda é presente, expresso em apenas duas linhas, temos de riscá-los definitivamente de nossas práticas: “o que torna mais grave esse fenômeno – da corrupção política e administrativa - , que ocorre em todos os níveis do governo, é a apatia da opinião pública diante dele”.
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