DAS DEMOCRACIAS
SUL-AMERICANAS
Stefan Salej
As eleições presidenciais na semana passada no Peru, país vizinho e
importante parceiro comercial, mostraram que a democracia tantas vezes violada
neste continente, continua a prosperar e se consolidar. O septuagenário
candidato PPK, Pedro Paulo Kuscinsky, ganhou as eleições com uma diferença de
40 mil votos, em um total de 17 milhões de eleitores. Fração de décimos em
milhões, mas assim mesmo deve ter ganho a eleição (a confirmação final pela
Comissão eleitoral chegará nos próximos dias, porque a eleição não usa urna
eletrônica e então a recontagem de votos é mais demorada.
Antigamente, nestas terras sul-americanas, incluindo-se o Brasil, haveria gritaria de fraude e, de fato, havia muita fraude nas eleições. Aliás, hoje se usam métodos preventivos para não ajudar a oposição a chegar ao poder, não ter a alternância de poder, e o caso da Venezuela é bem emblemático nessa questão.
A eleição peruana tem outra característica: ganhou um peruano
mundialmente conhecido por sua atuação nos bancos internacionais, com idade
incomum para candidatura política (74 anos) e até com cidadania dupla,
norte-americana, à qual teve que renunciar, e peruana. Ganhou da jovem (41
anos) herdeira de pai preso por corrupção e outros crimes, o ex-presidente de
Peru, Alberto Fujimori.
Mas, mesmo ganhando a presidência da República, PPK, como é conhecido no
Peru, terá que se compor com a derrotada representante de fujimorismo, porque
no Congresso peruano ela comanda a maioria, com 73 deputados, contra 18 do
partido do vencedor das eleições presidências. É o fenômeno do presidencialismo
versus parlamentarismo. Presidente sem maioria parlamentar, aliás muito
conhecido no Brasil. Então começam as alianças partidárias, aumenta o papel do
estado na economia, em função da distribuição de cargos e benesses, e começa o
fenômeno da ingovernabilidade, tão comum na região.
No Peru, durante a campanha, discutiu-se muito a influência de
empreiteiras brasileiras na política local. Algumas delas teriam levado o
modelo da “Lava Jato” para o Peru, algo que, apesar de não ser comprovado, foi
muito discutido durante eleições. Com a eleição de PPK no Peru, o
continente ganha um populista a menos e firmam-se mais as correntes de
equilíbrio entre capital e mercado, mas às vezes mais a favor do mercado e
capital, do que de demandas sociais, mas definitivamente fora do populismo
tradicional que ainda domina em alguns países da América do Sul. Para o Brasil,
o Peru equilibrado e desenvolvido pode significar uma parceira econômica, nas
vizinhanças, bem mais conveniente do que percebemos à primeira vista. Inclusive
como nossa potencial abertura para o Pacífico.

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