Ministro da Transparência
propõe venda e dissolução de empresas corruptas
Andressa
Anholete/Frame Photo/Estadão Conteúdo
O Ministério da Transparência vai propor ao Congresso mudanças na Lei
Anticorrupção, que prevê acordos de leniência com empresas envolvidas em
esquemas de desvio de recursos públicos, entre elas as empreiteiras
investigadas na Operação Lava Jato. A ideia é impor às companhias interessadas
em manter negócios com o governo a assinatura de "contratos de conduta
controlada", com novas exigências. Em caso de reincidência nas ilicitudes,
elas poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter o controle acionário
vendido.
Os acordos de leniência, espécies de delações premiadas assinadas por
pessoas jurídicas, permitem que empresas acusadas de corrupção continuem
participando de licitações e firmando contratos com o governo federal, Estados
e municípios, desde que cumpram alguns pré-requisitos, entre eles admitir a culpa
nos crimes cometidos, colaborar com as investigações sobre o esquema ilegal e
restituir integralmente os danos ao erário. "Nada disso será subtraído da
lei", assegura o ministro da Transparência, Torquato Jardim, que discutiu
na quinta-feira (23) as alterações com o presidente em exercício Michel Temer,
no Planalto.
Segundo ele, a proposta do governo é acrescentar critérios aos já
previstos no texto em vigor. Para fechar os acordos de leniência, as empresas
terão de assinar os "contratos de conduta", com vigência de até cinco
anos. Uma das exigências será apresentar certidão negativa de débitos
trabalhistas.
A compensação ao poder público pelos prejuízos com corrupção poderá ser
paga não só com recursos da pessoa jurídica, mas com o patrimônio pessoal de diretores
e controladores acusados de agir com "excesso de poder".
"Não é a empresa que vai pagar a dívida e a pessoa física ficar
flanando, feliz da vida, com seu apartamento no exterior, suas obras de arte. O
patrimônio pessoal, seja qual for a formatação jurídica, também responderá
(sic) pela indenização do ato ilícito", comenta o ministro.
Em caso de quebra do contrato, a empresa signatária do acordo poderá ser
acionada na Justiça e sofrer novas sanções. Nos planos do governo, uma das
hipóteses será a alienação do controle acionário em leilão. Outra possibilidade
é extinguir a sociedade. "O juiz pode entender, quando analisar o
processo, que não há como recuperar a empresa, então faz a dissolução, na forma
da lei", explica Torquato.
O ministro disse que as propostas serão apresentadas por meio de emendas
ao projeto de lei que já tramita no Congresso e visa alterar a Lei
Anticorrupção. Segundo ele, o prazo para apresentação e aprovação das medidas
dependerá do processo Legislativo. Temer, no entanto, quer que as sugestões
estejam formatadas em 15 dias para reforçar a "agenda positiva"
planejada pelo governo após três ministros serem tragados pela Lava Jato. A
ideia é mostrar o compromisso em recuperar os recursos desviados da Petrobras e
outras áreas da administração federal.
A Lava Jato começou em fevereiro de 2014 e a maioria das empresas
envolvidas permanece sem nenhuma punição do governo. Atualmente, o Ministério
da Transparência (extinta Controladoria-Geral da União) negocia acordos de
leniência com ao menos 11 empreiteiras, incluindo as maiores do País.
As tratativas vêm se arrastando por vários motivos, entre eles a crise
política, os conflitos com o Tribunal de Contas da União (TCU) e outros órgãos,
além da pressão das empresas para excluir da Lei Anticorrupção algumas regras
que não são de seu interesse.
Em dezembro do ano passado, o governo da presidente afastada Dilma
Rousseff editou medida provisória que cedia a alguns pleitos das construtoras.
Contudo, a norma caducou, voltando a valer o texto original da lei.
"O ministério depositou com a Casa Civil um projeto que revê o
marco legal do acordo de leniência com exigências mais claras, mais severas, de
sorte a responder ao compromisso do governo de apoio inequívoco à Operação Lava
Jato e às instituições que dela fazem parte", disse Torquato na
quinta-feira, 23.

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