Senado vota e Dilma é
afastada da Presidência da República
Da Redação
Hoje em Dia - Belo
Horizonte
Por 55 votos a
favor, o Senado aprovou o afastamento de Dilma por 180 dias
Vinte horas e 34 minutos após aberta a sessão, o Senado aprovou o
afastamento da presidente Dilma Rousseff e a instauração do processo de
impeachment contra a petista por crime de responsabilidade. Dilma recebeu 55
votos pela retirada temporária dela e 22 contra. A repetição desse placar, em
um julgamento futuro dela por crime de responsabilidade, levaria a petista a
ser condenada.
Logo após a decisão na manhã desta quinta-feira (12), fogos de
artífico podiam ser ouvidos em diversos bairros de Belo Horizonte. Dilma será
afastada do cargo por até 180 dias, período em que deverá ser julgada pelo
Senado e o vice-presidente Michel Temer assumirá a Presidência interina do
País. Após o resultado, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),
informou que a presidente será notificada ainda nesta manhã da decisão do
Senado. Caberá ao primeiro-secretário da Casa, senador Vicentinho Alves
(PR-TO), fazer essa comunicação pessoalmente.
O presidente do Senado estima que o julgamento da presidente deverá
ocorrer até setembro. Ela será afastada definitivamente do cargo se houver pelo
menos 54 votos para condená-la. Aliados de Temer gostariam de ter um placar
acima desse número a fim de passar a impressão de que Dilma não terá condições,
já agora, de retornar futuramente ao cargo.
Aceleração
Apesar da articulação, Renan não conseguiu acelerar a votação do
afastamento de Dilma, que ele gostaria de concluir até as 22 horas de
quarta-feira, 11. As manifestações de 71 senadores foram até próximo das 6
horas da manhã. Em seguida, falaram o relator do pedido, Antonio Anastasia
(PSDB-MG), e em seguida o advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, cada
um por 15 minutos. A votação foi rápida, sendo realizada por meio de painel
eletrônico.
Na tarde de quarta, com duas horas de sessão do Senado, o governo
sofrera um importante revés com a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de
ter rejeitado anular o processo de impeachment de Dilma. O recurso era
considerado a última cartada do Palácio do Planalto para evitar o afastamento
da petista pelo Senado, tido como certo até mesmo por senadores governistas.
N/A / N/A
O principal argumento da ação é que houve "desvio de poder" do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ao receber a denúncia do impeachment de Dilma em dezembro por "revanchismo" e "vingança". Oposicionistas comemoraram a decisão. "É o cala-boca definitivo", afirmou o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO). A aposta de aliados de Dilma, segundo o ainda líder do governo na Casa, Humberto Costa (PT-PE), é anular o pedido no mérito.
Conjunto da obra
Durante os pronunciamentos, senadores favoráveis à abertura do processo
contra Dilma se valeram mais do chamado "conjunto da obra" do que do
embasamento jurídico do pedido para afastá-la, isto é, o atraso do Tesouro em
pagar débitos com órgãos públicos, as chamadas "pedaladas fiscais", e
a edição de créditos orçamentários sem aval do Congresso. Houve quem evocasse a
corrupção revelada pela Operação Lava Jato, o abuso no uso de recursos do
BNDES, o enfraquecimento político do governo, a arrogância de Dilma, o retrocesso
na economia e a pressão das ruas.
O senador Zezé Perrella (PTB-MG), por exemplo, acusou a presidente de
"esculhambar" com o setor elétrico e aumentar o preço do combustível.
Para ele, o motivo real do impeachment é que "esse pessoal aparelhou o
País para roubar".
Investigado pela Lava Jato, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves
(MG), evocou o clamor popular pela "ética" para justificar seu voto.
"Foi o povo que fez isso. Foram os brasileiros, em primeiro lugar, que
foram às ruas de todas as partes do Brasil, sem exceção, para dizer um basta
definitivo a tanto desprezo à verdade, à ética e à correção na gestão da coisa
pública", disse ele, que elogiou o parecer do aliado Antonio Anastasia
(PSDB-MG), favorável ao afastamento.
Ex-ministros dos governos petistas também defenderam a abertura do
processo contra a petista. Aliados do passado fizeram discursos vacinados
contra questionamentos de incoerência ideológica. Um deles foi Cristovam
Buarque (PPS-DF), demitido por Lula em 2004. "Por incrível que pareça,
voto pela admissibilidade. Não fui eu que mudei, foi a esquerda que envelheceu.
A esquerda que está há 13 anos no Poder demonstra desapego à democracia",
justificou.
O senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), disse ter cumprido uma
"missão partidária" que não buscou como titular da Previdência no
primeiro mandato de Dilma. Para ele, praticou-se a desordem das contas públicas
para reeleger a presidente em 2014 e garantir o "aparente" apoio no
Congresso.
No discurso mais inflamado de um petista, o senador Lindbergh Farias
(RJ) disse que os senadores sabem que não há crime de responsabilidade cometido
por Dilma e anunciou, em tom de derrota, que não reconhecerá um governo Temer.
"Não tenho a menor dúvida que isso vai passar para a história como um
golpe parlamentar para a democracia brasileira", disse o senador, ao
defender que os colegas não "manchem" suas biografias em razão de
"humores momentâneos".
Único peemedebista a favor da manutenção da presidente até o momento, o
senador Roberto Requião (PR), disse que se está fazendo uma "monumental
asneira" do impeachment da presidente. E criticou o vice. "Meu amigo
Michel Temer assume suportado por série de ideias da 'Ponte para o Futuro' e
reveladas em entrevistas por auxiliares que são as da utopia neoliberal com
corte de gastos, a mesma proposta que fracassou em outros países",
afirmou.
O senador Armando Monteiro (PTB-PE), que deixou o Ministério do
Desenvolvimento para votar a favor de Dilma, disse que o Congresso não teve a
mesma preocupação com o governo com as questões fiscais e citou, inclusive, a
"pauta bomba" que tramitou no Legislativo. "É de se constatar
que hoje, ao percebermos seriíssima preocupação do Congresso com a questão
fiscal ao julgar a presidente, essa não era a postura anterior."


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