Nova equipe, receita antiga
José Antônio Bicalho
A equipe econômica anunciada ontem pelo ministro da Fazenda, Henrique
Meirelles, foi muitíssimo bem recebida pelo mercado (leia matéria do Bruno
Moreno nas páginas 4 e 5). Não é para menos. Meirelles fez o que dele se
esperava: aproveitou a carta branca que lhe foi dada por Michel Temer e montou
um time de qualidade técnica insuspeitável e surpreendente.
Meirelles sabe que o principal neste primeiro momento será criar
expectativa positiva. Se conseguir incutir nos agentes do mercado e nos
empresários confiança nas ações da equipe econômica, tudo ficará mais leve.
Inclusive a aprovação das propostas de reformas estruturais que deverão ser
enviadas ao Congresso.
A convocação da equipe de notáveis persegue, portanto, o objetivo
inicial de gerar otimismo, o que é indispensável para quebrar a dinâmica
recessiva. Deu certo na bandeirada de saída. Mas dará no médio e longo prazos?
Qualidade técnica é garantia de sucesso? Não quero posar de corvo, mas
continuo cético.
O perfil da equipe (veja infográfico na página 4) e, principalmente, do
presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, levam a crer que teremos ainda um
ciclo longo de aperto monetário. A inflação, embora já mostre sinais de
desaceleração, ainda está alta. E até por conta de uma necessidade de
autoafirmação da nova equipe, eles deverão ser duros no controle da liquidez.
Não há como prever quando a taxa básica de juro iniciará a trajetória de
queda, mas é certo que esse ponto de inflexão ainda está longe, a coisa de,
digamos, uns dois ou três trimestres. Além disso, torneiras alternativas que
poderiam irrigar o crédito, sendo a mais óbvia e eficiente delas a redução do
compulsório, continuarão fechadas.
Se não será pelo crédito, poderíamos pensar numa saída para a crise pelo
investimento. Ok, privatizar a infraestrutura é um objetivo declarado do
presidente em exercício e do novo ministro da Fazenda. Mas, além de não ser
rápido, é pouco para recolocar em marcha uma economia complexa e pesada como a
do Brasil.
Para que os investimentos ganhassem a dimensão necessária para mover a
economia, precisaríamos incluir no pacote a modernização e a ampliação do
parque industrial. Mas isso significaria aumentar os gastos do governo com
financiamento (via BNDES e bancos públicos), o que por hora está absolutamente
descartado.
Se não é pelo crédito nem pelos investimentos, ainda nos restariam as
importantes cadeias de exportação para atuar como mola propulsora da
economia. Sim, não fosse o mundo em crise e a China desacelerando.
Então, não temos saída? De minha parte, não as vejo, pelo menos enquanto
reinar a atual equipe econômica de notáveis, mas extremamente conservadores,
convocada por Meirelles. Pelo tamanho da encrenca em que nos metemos, apenas
uma gestão flexível, criativa, adaptada a realidade e distante dos dogmatismos
seria capaz de nos guindar para fora do buraco.
Um pouco mais de velocidade na queda dos juros, uma pitada de redução
dos compulsórios, algum capital para a renovação do parque de setores
estruturantes da indústria, um dólar mais ajustado para os exportadores, um
naco das reservas internacionais para financiamento da infraestrutura. Se bem
conjugados os ingredientes, poderíamos ver o bolo crescer. Mas não é
essa a receita usual da atual equipe econômica. Independentemente do bom
currículo dos cozinheiros, o prato será amargo e duro de engolir.

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