quarta-feira, 18 de maio de 2016

EQUIPE DE NOTÁVEIS, PORÉM, CONSERVADORES



Nova equipe, receita antiga

José Antônio Bicalho 



A equipe econômica anunciada ontem pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, foi muitíssimo bem recebida pelo mercado (leia matéria do Bruno Moreno nas páginas 4 e 5). Não é para menos. Meirelles fez o que dele se esperava: aproveitou a carta branca que lhe foi dada por Michel Temer e montou um time de qualidade técnica insuspeitável e surpreendente.
Meirelles sabe que o principal neste primeiro momento será criar expectativa positiva. Se conseguir incutir nos agentes do mercado e nos empresários confiança nas ações da equipe econômica, tudo ficará mais leve. Inclusive a aprovação das propostas de reformas estruturais que deverão ser enviadas ao Congresso.
A convocação da equipe de notáveis persegue, portanto, o objetivo inicial de gerar otimismo, o que é indispensável para quebrar a dinâmica recessiva. Deu certo na bandeirada de saída. Mas dará no médio e longo prazos? Qualidade técnica é garantia de sucesso? Não quero posar de corvo, mas continuo cético.
O perfil da equipe (veja infográfico na página 4) e, principalmente, do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, levam a crer que teremos ainda um ciclo longo de aperto monetário. A inflação, embora já mostre sinais de desaceleração, ainda está alta. E até por conta de uma necessidade de autoafirmação da nova equipe, eles deverão ser duros no controle da liquidez.
Não há como prever quando a taxa básica de juro iniciará a trajetória de queda, mas é certo que esse ponto de inflexão ainda está longe, a coisa de, digamos, uns dois ou três trimestres. Além disso, torneiras alternativas que poderiam irrigar o crédito, sendo a mais óbvia e eficiente delas a redução do compulsório, continuarão fechadas.
Se não será pelo crédito, poderíamos pensar numa saída para a crise pelo investimento. Ok, privatizar a infraestrutura é um objetivo declarado do presidente em exercício e do novo ministro da Fazenda. Mas, além de não ser rápido, é pouco para recolocar em marcha uma economia complexa e pesada como a do Brasil.
Para que os investimentos ganhassem a dimensão necessária para mover a economia, precisaríamos incluir no pacote a modernização e a ampliação do parque industrial. Mas isso significaria aumentar os gastos do governo com financiamento (via BNDES e bancos públicos), o que por hora está absolutamente descartado.
Se não é pelo crédito nem pelos investimentos, ainda nos restariam as importantes cadeias de exportação para atuar como mola propulsora da economia. Sim, não fosse o mundo em crise e a China desacelerando.
Então, não temos saída? De minha parte, não as vejo, pelo menos enquanto reinar a atual equipe econômica de notáveis, mas extremamente conservadores, convocada por Meirelles. Pelo tamanho da encrenca em que nos metemos, apenas uma gestão flexível, criativa, adaptada a realidade e distante dos dogmatismos seria capaz de nos guindar para fora do buraco.
Um pouco mais de velocidade na queda dos juros, uma pitada de redução dos compulsórios, algum capital para a renovação do parque de setores estruturantes da indústria, um dólar mais ajustado para os exportadores, um naco das reservas internacionais para financiamento da infraestrutura. Se bem conjugados os ingredientes, poderíamos ver o bolo crescer. Mas não é essa a receita usual da atual equipe econômica. Independentemente do bom currículo dos cozinheiros, o prato será amargo e duro de engolir.

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