Temer não receia ser
‘impopular’. E os russos?
Josias de Souza
Sob Dilma Rousseff, praticaram-se tantas barbaridades econômicas que não
sobrou alternativa ao governo provisório de Michel Temer. O que vem por aí será
uma mistura de apertos com reformas indigestas. O ministro Henrique Meirelles
(Fazenda) ainda não aviou a receita. Alega que é preciso ter segurança no
diagósticoa antes de prescrever o medicamento. Após concluir o acurado
levantamento das necessidades do paciente, mandará reforçar o purgante.
Ciente do que está por vir, Michel Temer repetiu em entrevista ao Fantástico
o que dissera ao PSDB: se for confirmado no cargo, não cogita candidatar-se à
reeleição em 2018. “Não é a minha intenção. Aliás, não é a minha intenção, e é
a minha negativa. Eu estou negando a possibilidade de uma eventual reeleição,
até porque isso me dá maior tranquilidade, eu não preciso praticar gestos ou
atos conducentes a uma eventual reeleição. Eu posso ser até —digamos assim—
impopular. Desde que produza benefícios para o país, para mim é suficiente.''
Beleza. Temer não se incomoda de “ser impopular''. Agora só falta
perguntar a opinião dos russos do Congresso. Deputados e senadores são os
mesmos. E 2016 continua sendo um ano eleitoral. Se a coisa for bem feita, “os
benefícios para o país” demorarão a aparecer. Antes, virão as críticas. E a
maioria dos congressistas não costuma ter sangue-frio para segurar maus
indicadores e a impopularidade deles decorrente.
Temer leva algumas vantagens sobre Dilma. Ele gosta de política, não tem
a pretensão de se imiscuir na gestão da economia, rompe o ciclo de inação e
fala português, não dilmês. Mas um pedaço da plateia, expressando-se no idioma
das panelas, informou na noite passada que não está gostando do que ouve e
enxerga. A entrevista de Temer foi gongada com um panelaço, o primeiro
dedicado ao presidente interino. O barulho metálico soou em pelo menos cinco
capitais.
Por ora, a única coisa que a sociedade aprova sem titubeios é a Operação
Lava Jato. Nela, o PMDB ainda se apresenta como sócio do PT no assalto à Petrobras
e adjacências. Ao empurrar investigados para dentro de sua equipe, Temer
indicou que seu governo seminovo está mais próximo do problema do que da
solução.
Inquirido sobre a situação do ministro Romero Jucá (Planejamento), Temer
recobriu-o de elogios. Realçou que o personagem ainda não é réu no STF. “Não
temos que pensar que o investigado vive uma espécie de morte civil'', disse. E
se o ministro virar réu? “Aí eu vou examinar”. Nessa matéria, todos os que
superestimaram sua invulnerabilidade deram-se mal.
Temer jura que não será candidato em 2018. Deveria encurtar seus
horizontes. Talvez não consiga prever o que está por vir na próxima semana.
Melhor cuidar dos minutos, que as horas passam.

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