Grampos abalam República e
põem em xeque seu futuro
Orion Teixeira
Impressiona a apatia, frieza e o silêncio do presidente do governo
provisório, Michel Temer (PMDB), ante os abalos avassaladores provocados por
gravações telefônicas que ameaçam sua gestão, a República e o futuro dela. A
primeira das revelações derrubou em menos de 24 horas, na segunda-feira (23),
seu ministro do Planejamento e presidente nacional interino do PMDB, Romero
Jucá, um de seus homens de sua estrita confiança. Nessa quarta (25), foi a vez
do presidente do Senado, Renan Calheiros, e do ex-presidente da República
(85/89), José Sarney (ambos do PMDB), serem flagrados em confissões não
premiadas nem republicanas.
Pela sequência, as delações não premiadas insinuaram que, depois deles,
a bola da vez seria o senador mineiro, Aécio Neves (PSDB), mais uma vez citado
de ser beneficiário de algum esquema. Tudo leva a crer que, se todos os
políticos brasileiros fossem investigados, nenhum escaparia de algum malfeito
que o tornaria inelegível e alvo de processo de cassação, outros de prisão. Na
política, ninguém chega ao poder porque é corrupto ou porque nasceu assim, mas
permanecer nele faz de boa parte culpada, ou pelo menos, omissa, ou ainda,
cúmplice desse sistema que sustenta a República. Ninguém move uma palha sequer
para mudá-lo ou extingui-lo.
Deixar como está, fingir que não é comigo e nada fazer é negligenciar
responsabilidades à espera de um abalo ainda maior e, talvez, mais trágico. As
jornadas de junho de 2013 foram bastante significativas a respeito de uma
insatisfação que, de uma hora para outra, pode reemergir como aquela, porém,
dessa vez, de forma mais contundente.
Os consecutivos malfeitos e parcialmente revelados lançam suspeitas,
mais de uma vez, até sobre ministros da mais alta corte do país, o STF,
apontando uma grande operação política que tinha, como objetivo maior, o
impedimento da presidente Dilma Rousseff (PT), hoje afastada por 180 dias para
seu julgamento político.
De seu lado, Dilma e aliados vão usar as gravações para reforçar a
defesa e sustentar a tese de que o impeachment foi um golpe parlamentar contra
a presidente. É improvável que alcancem o efeito desejado de ou paralisar o
processo ou inocentá-la de eventuais crimes administrativos que não justificariam,
até onde se sabe, a pena de morte política. Com certeza, servirão para o
julgamento jurídico dos envolvidos pela Suprema Corte, depois que a
Procuradoria Geral da República usá-las para abrir novos inquéritos.
Ninguém duvida que a economia é uma questão emergencial a ser tratada,
mas não é a única prioridade. Também não se pode reduzir a ação de governo a
isso nem ignorar o desleixo como a política tem sido praticada no país desde a
redemocratização em 1985 (sabido que antes não havia política nem democracia).
O Brasil de hoje é todo uma emergência só e não pode ser tratado com frieza,
apatia e omissão. Do contrário, comemorar vitória, como fez Michel Temer, sobre
o resultado da aprovação da nova meta fiscal na madrugada dessa quarta-feira (25),
poderá dar-lhe sobrevida, deixando-o, ao mesmo tempo, refém de um Congresso
Nacional que cobra, cada vez mais caro, pelo pedágio de um sistema que não é
republicano nem democrático.

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