EXPECTATIVAS E INCERTEZAS
Paulo Haddad
O que leva a economia de um país a paralisar? Por que a economia brasileira está estagnada e, desde 2014, passou a apresentar taxas negativas de crescimento? Por que assistimos impotentes ao rápido avanço das taxas de desemprego numa economia que transita da recessão para a depressão?
Do lado real de nossa economia, os fatores determinantes do crescimento estão presentes na atualidade, em intensidade e qualidade indispensáveis, embora com pontos de estrangulamentos detectáveis.
A nossa base de recursos naturais é ampla e diversificada, diferenciando
o Brasil na economia globalizada e favorecendo a estruturação de cadeias
produtivas poderosas a partir de vantagens comparativas e competitivas para um
crescimento econômico mais acelerado. Avança e progride a nossa formação de
capitais intangíveis (humano, intelectual, institucional, empreendedorismo,
etc.) necessários à realização de um processo de desenvolvimento sustentável no
país, a partir de investimentos na qualidade de vida e bem estar de nossa população.
Muitas vezes esses potenciais se encontram latentes ou ofuscados por ciclos
esporádicos e inconsistentes que abafam nossos processos de crescimento
econômico e de desenvolvimento sustentável, mas não é pela sua ausência que
estamos fracassando.
O que estaria, pois, inibindo a nossa expansão econômica e induzindo o
empobrecimento dos grupos sociais mais desalentados? Ora, como já dizia Keynes
em 1936, as nossas principais decisões econômicas de consumir, de produzir e de
investir dependem de nossas expectativas de médio e de longo prazo e do
prognóstico mais provável sobre o futuro que possamos formular. Dependem também
da confiança com a qual fazemos esse prognóstico. Se esperarmos grandes
mudanças e transformações, mas não tivermos certeza quanto à forma com que elas
possam ocorrer, nosso grau de confiança será, então, fraco.
Assim, se a economia passa por um período de relativa estabilidade nas
regras do jogo que não se contrapõem aos imperativos de uma economia de
mercado, e sendo esperado que persistam, as expectativas podem simplesmente
adaptar as tendências observadas no passado para construir uma distribuição de
probabilidades sobre o estado futuro da economia. Nesse contexto, não sabemos
apenas o que sabemos, mas temos boas chances de saber o que não sabemos. E as
expectativas se organizam coerentemente de forma adaptativa.
A situação muda completamente quando através de um conjunto de
intervenções governamentais na economia permeadas por ações voluntaristas
inconsistentes e erráticas que têm a capacidade de desestruturar os
instrumentos econômicos e os mecanismos institucionais de incentivos
paradigmáticos à iniciativa privada e ao comando e controle das políticas
públicas. Nesse contexto, não sabemos o que não sabemos e as instituições e agentes
econômicos passam a se embrenhar num campo dominado por incertezas, sequenciais
e crescentes, que culminam na total perda de rumo.
Mesmo se considerarmos todas as informações disponíveis sobre as
variáveis econômicas prevalecentes, não conseguiremos formar expectativas
racionais sobre o que fazer porque as incertezas sobre a evolução das políticas
econômicas também tornam precárias as bases sobre as quais temos que fazer os
nossos cálculos sobre as receitas e as rendas esperadas, assim como sobre as
condições de empregabilidade. Enquanto isto, a crise econômica vai se
aprofundando e passando à margem das imensas potencialidades de desenvolvimento
da economia brasileira. Os recursos escassos e os fatores de produção se tornam
ociosos; a demanda agregada se encolhe; a perda da qualidade de vida avança
sobre as famílias dos trabalhadores.
Não se trata, contudo, do fracasso da economia brasileira por falta de
esforço e energia de sua população. Mas do fracasso de políticas econômicas
construídas sobre os alicerces de ideologias historicamente desatualizadas e
sobre os interesses tristes e mesquinhos de partidos políticos com elevada
propensão a se corromperem. A economia e a sociedade brasileira clamam, pois,
por grandes transformações que tenham intensidade suficiente para reverter
expectativas sombrias e reduzir incertezas avassaladoras.

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