Pedaladas fiscais
dispararam sob Dilma, diz relatório do Banco Central
As pedaladas –o uso de dinheiro dos bancos
federais em programas de responsabilidade do Tesouro Nacional– são a base do
pedido de impeachment contra Dilma.
Os números do BC põem em xeque a tese principal da defesa da presidente,
segundo a qual seus antecessores também adotaram a prática.
Por determinação do TCU (Tribunal de Contas da União) o BC calculou os
atrasos em repasses do Tesouro aos bancos federais e ao FGTS (Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço) desde 2001, no governo FHC.
Os valores mostram uma tendência de alta a partir do final do governo
Lula e uma disparada sob Dilma.
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Ao final do governo tucano, a conta do Tesouro a ser saldada com seus
bancos era de R$ 948 milhões –em outras palavras, esse era o valor que, no
atual entender do TCU, deveria ser acrescentado à dívida pública.
Ao final do ano passado, a conta se aproximava dos R$ 60 bilhões,
finalmente pagos, por determinação do tribunal, em dezembro.
Dilma já argumentou que a diferença de valores está relacionada à
expansão da economia brasileira e do Orçamento da União desde a década passada.
Mesmo quando são levados em conta os cenários diferentes, a discrepância de
valores permanece.
Entre 2001 e 2008, o impacto das pedaladas na dívida pública oscilou,
sem tendência definida, entre 0,03% e 0,11% do PIB (Produto Interno Bruto,
medida da riqueza nacional); a partir de 2009, o crescimento é contínuo, até
chegar ao pico de 1% do PIB.
CRIME OU NÃO
A escala das cifras é importante em uma discussão crucial em torno do
processo de impeachment –se a presidente cometeu ou não crime de responsabilidade.
O Tesouro repassa regularmente recursos a seus bancos para a execução de
programas de governo. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, paga o Bolsa
Família, o seguro-desemprego e benefícios previdenciários.
Eventualmente, os repasses são insuficientes para os pagamentos. Nesses
casos, os bancos usam recursos próprios para manter os programas em
funcionamento, e o dinheiro é ressarcido depois pelo Tesouro.
Ao reprovar as contas do governo de 2014, o TCU considerou ter havido,
na prática, empréstimos dos bancos federais ao Tesouro, o que é crime, segundo
a legislação. Para o governo, os atrasos eram práticas normalmente aceitas.
CONTAS MAQUIADAS
A legislação proíbe empréstimos de bancos a seus controladores porque a
transação dá margem a fraudes: o banco terá óbvias dificuldades em cobrar a
dívida e o controlador poderá se valer de dinheiro que pertence a correntistas
e poupadores.
No caso do governo, a acusação é que as pedaladas serviram para maquiar
a escalada insustentável das despesas do Tesouro –só depois da reeleição de
Dilma o governo admitiu que fecharia o ano de 2014 no vermelho.
É visível que o uso do expediente ganhou novos patamares a partir de
2009, quando a administração petista reagiu aos efeitos da crise internacional
com o aumento do crédito e do gasto público.
Naquele ano, foram lançados o Minha Casa, Minha Vida e o PSI (Programa
de Sustentação do Investimento), pelo qual o BNDES, banco oficial de fomento,
passou a conceder financiamentos a taxas favorecidas.
O Tesouro deveria arcar com os subsídios dos dois programas, para evitar
prejuízos da CEF e do BNDES. No entanto, o repasse desses recursos foi sendo
sucessivamente postergado. O mesmo aconteceu com os subsídios do crédito
agrícola, operado pelo Banco do Brasil.
O volume crescente de pagamentos em atraso passou a chamar a atenção de
analistas, mas só foi condenado pelo TCU no exame das contas de 2014. A Folha
questionou o Planalto sobre os dados do BC, mas não houve resposta até a
publicação da reportagem.

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