Jefferson diz que prazo de
Cunha 'se esgota' após votação do impeachment
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Igo Estrela e Daniel
Marenco
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O ex-deputado
Roberto Jefferson, delator do mensalão, no Congresso Nacional, em Brasília
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O ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou, na noite desta
segunda-feira (11), que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), deve deixar o comando da Casa e ser preso logo após uma eventual
aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff.
"Ele sabe que a missão dele se exaure, a missão dele será
completada. Depois de apertar o botão do painel da votação, ele vai ser
afastado pelo STF, não tenho dúvidas disso. Este é o momento do suspiro
dele", afirmou.
"Todo mundo que tem compromisso com ele, PSDB, DEM, vai dizer:
'Viemos até aqui à beira da sua sepultura, mas não podemos pular com
você'."
O delator do mensalão, ex-presidente do PTB, foi entrevistado pelo
programa "Roda Viva", da TV Cultura.
"É uma tolice bater na Justiça [como fez Cunha], tem que ser
humilde. Confrontar uma instituição democrática, que tem sido correta com o
país, isso vai dar problema", disse. "A sentença [contra o presidente
da Câmara] vai ser muito forte; por muito menos eu peguei sete anos."
Condenado no esquema do mensalão, Jefferson teve a pena perdoada pelo STF no final do mês passado e
pretende voltar à vida pública.
Na semana passada, por exemplo, ele esteve na Câmara dos Deputados pela primeira
vez desde que deixou a prisão –em Brasília, chamou Eduardo Cunha (PMDB-RJ) de
"herói" e disse que pediria votos pelo impeachment da presidente
Dilma Rousseff.
"Eu volto para me reconciliar com a opinião pública nacional",
afirmou. Ele disse que melhorou depois da condenação e que quer
"peregrinar" pelo país.
"Errei, paguei um preço –andei com más companhias, virei bandido,
mas mantive o código de ética, o bandido tem código de honra."
"Não sou menos inteligente que o Pedro Corrêa, o José Dirceu, o
Valdemar Costa Neto. Mas sou menos corajoso, tenho limite", disse.
"Olha aonde eles chegaram, com o petrolão. É uma audácia
enlouquecida."
Segundo Jefferson, foram feitas propostas de corrupção que ele não
aceitou –sem detalhar quais foram. "Eu disse 'Isso dá pijama de listra e
capa de revista'", brincou. "Nosso limite estava nos R$ 4 milhões de
caixa dois na eleição de 2004."
Ele disse que a situação atual não tem relação com o golpe de 1964, que
depôs João Goulart. "Não havia corrupção", disse, citando
"ameaças comunistas" da época.
Jefferson também negou a tese do Planalto de que o impeachment seria um
golpe. "O golpe saiu do doutor Hélio Bicudo? Isso é conversa pra boi
dormir", afirmou, dizendo que o PT roubou para se perpetuar no governo e
hoje "rouba para se perpetuar roubando".
O delator do mensalão classificou a nomeação de Lula como ministro-chefe
da Casa Civil de Dilma como uma tentativa de livrar o ex-presidente do alvo do
juiz Sergio Moro, que comanda as operações da Lava Jato.
"Eu penso que já estaria decretada a prisão do Lula [sem a nomeação
e seus desdobramentos no STF]. Por isso o pânico da Dilma em entregar o termo
de posse, os diálogos revelados com o Jaques Wagner, com o presidente do PT.
São diálogos dramáticos", disse.
Ele definiu o hotel Royal Tulip, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva montou um "QG" para tentar salvar o
governo, como "novo lupanar" brasileiro e elogiou a atuação do Poder
Judiciário.
"Nada disso ficaria descoberto em uma CPI, porque a oposição não
faria o que a Lava Jato, o que o Poder Judiciário, constitucionalmente,
fez", afirmou. "As empreiteiras são paraestatais, porque vivem
dependendo delas. E a oposição está amarrada com elas também."
Jefferson disse confiar que o Congresso vai aprovar o impeachment de Dilma.
"Por 7% a comissão, que é a elite do Congresso, não fez dois terços; o
plenário vai fazer."
Ele disse que se sabe, no Congresso e na opinião pública, que Dilma
"afrontou" a Lei de Responsabilidade Fiscal, a despeito de as
pedaladas fiscais, que embasam o pedido na Câmara, serem "sutis".
"O que move o sentimento [e o processo de impeachment] é a corrupção –que
gerou inflação, desemprego", disse.
Segundo o ex-deputado, "vamos ter uma guerra de torcida de futebol
até domingo [dia da votação do pedido do impeachment no plenário] e depois
vamos seguir".
"Há líderes capazes de tocar e pacificar o país", citando os
tucanos Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra e Michel Temer.
"O PT tem um quinto da sociedade [em referência às intenções de voto do ex-presidente Lula ] –que
faz barulho, é a minoria que grita, mas daqui a pouco se resolve; os outros
quatro quintos estão do outro lado", disse.
"O PT não cooptou a Justiça e as Forças Armadas, é a diferença do
Brasil para a Venezuela. O exército vermelho tem um limite."
Sobre um eventual governo Temer, Jefferson disse confiar que ele será
bem-sucedido, especialmente porque montará um bom ministério. "Temer não
vai fazer time de pelada, vai fazer seleção e não é seleção para perder de
7x1."
"Apoio do PTB ele tem de graça, queremos apoiá-lo na
transição."
Jefferson disse que o vice-presidente Michel Temer "fez muito bem
em dar o troco" no governo, com o desembarque do partido da base aliada e o
áudio, revelado nesta segunda, em que ele ensaia um pronunciamento pós-eventual
impeachment.
"Ele [Temer] foi muito maltratado com o PT, o PT não quer alguém
que lhe faça sombra, ele quer prostitutos que possa alugar".
Sobre a presidente Dilma Rousseff, o ex-deputado disse que não acha
"que ela seja dolosa, desonesta, mas protege desonestos; é como aquela mãe
que sabe que o filho é desonesto e bota panos quente".
O ex-deputado também falou sobre outros personagens: Alckmin
–"fortíssimo candidato"–, Aécio –"vai ter dificuldades em
superar" os concorrentes internos– e Lula –"ele não vai escapar dos
acertos com a Justiça".

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