Eduardo Costa
Como ocorreu em praticamente todas as
manifestações de rua, em Belo Horizonte, desde 1977, estarei trabalhando no
domingo. Esse detalhe me desobriga de reflexões sobre a conveniência de ir ou
não, mas, aumenta a responsabilidade sobre o que dizer, especialmente porque a
cobertura no rádio é ao vivo, de improviso, não permite deslizes, não admite
retoques. Falou; tá falado! E quero dividir com vocês o quanto o sentimento é
de amargura, mais desta vez do que em 2013, 2002, 1984...
Na transição dos anos 70 para 80, do
século passado, levava pedrada na cabeça, corria do cachorro e era atropelado
pelo cavalo da polícia (foram 11 pontos de uma só vez), via espertalhão
discursando, soldados a marchar sem saber direito para onde ir e por que,
idealistas apanhando, mas, havia em meu peito uma certeza – a de que era um
processo, a passagem de um tempo de escuridão para a luz, da tortura para a
esperança e das sombras para a transparência.
Naqueles tempos, vez por outra eu era
destacado para entrevistar um barbudo, sindicalista, que falava com a língua
enrolada, atirava para todos os lados e empolgava por suas posições corajosas.
Era Lula que, de tão carente, um dia ficava no Hotel Wembley (do Zé de
Alencar), outro no Normandy, às vezes na casa do Dídimo, outras com o João
Paulo... Lula era para mim e milhões a representação do brasileiro que nasceu
pobre, foi humilhado, venceu no chão de fábrica e queria desmanchar o poder das
elites, que mandam desde 1500. Certa vez, ouvi Lula dizer:
“Eu conheci o pão pela primeira vez
com 7 anos de idade, até então o café da manhã era acompanhado com farinha de
mandioca e sei o que é desespero de uma mãe diante de um fogão sem gás com
meninos em volta”.
Lula chegou lá, manteve a política
econômica que arrepiava seus pares, combateu a fome, aumentou o salário mínimo,
reduziu a mortalidade infantil, correu o mundo. Eu vi o encantamento dos
indianos e chineses acompanhando visita dele ao outro lado do mundo. Torcia por
ele e custava a me conter diante dos que não aceitavam aquele operário sem dedo
sendo chamado de “o cara” por Barack Obama.
Mas, a mosca azul picou Lula. E ele
passou a andar na companhia dos endinheirados, na política era abraço para
Collor, Sarney, Renan...
O tempo passou, cá estamos de novo nas
ruas. Agora, sem uma só liderança nacional capaz de nos fazer ouvir um discurso
de credibilidade. A esperança venceu o medo, Lula e sua turma mataram a
esperança, e os que sonham com os pobres no poder vão esperar mais 500 anos. Se
fosse para a praça domingo como manifestante, provavelmente levaria um cartaz
com os seguintes dizeres: “Mãe, me dá um colo”.

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