domingo, 6 de março de 2016

PODE EXPERNIAR QUE SUA HORA VAI CHEGAR




Ricardo Galuppo




O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode e por força de seu estilo político certamente irá partir para o ataque depois de sentir, na manhã da última sexta-feira, que sua casa, se ainda não caiu, pode ir ao chão a qualquer momento. Pode apelar para a “militância petista”, para o “exército do Stédile”, para “a companheirada da CUT”. Pode, como fez no discurso que proferiu logo depois de prestar esclarecimentos à Polícia Federal sobre as acusações de corrupção que se avolumam contra ele, falar grosso, bater na mesa e mostrar indignação. Ele pode até mesmo ameaçar os adversários dizendo que “se tentaram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo”.
Lula pode e certamente fará o que estiver no seu alcance para tentar, no gogó, salvar sua reputação e preservar a liderança política que construiu ao longo de quatro décadas de uma carreira vitoriosa. Uma carreira que começou no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, em São Paulo, e poderia ter terminado entre os louros que acumulou com um dos presidentes mais populares da história do Brasil. Mas não. Lula tentou se manter à tona. Tentou continuar mandando no país e, como diz a expressão popular, ficar por cima da carne seca.
ONZE CONTÊINERES
Depois de liberado pela PF, Lula reagiu. Partiu para o ataque, mas tudo o que conseguiu, na prática, foi chamar ainda mais atenção para as histórias que, quanto mais luz recebem, mais difíceis de explicar se tornam. Na sexta-feira, ele tentou, além de dizer que ninguém sabe como é dura a vida de um ex-presidente que, no final do mandato, tem 11 contêineres com presentes para levar para casa, até justificar o fracasso da administração Dilma Rousseff. Disse que não deixam a presidente governar.
Ora, ora. Com uma oposição dócil e carente de projetos como é a brasileira, só há duas hipóteses para explicar os tropeços no trabalho de uma presidente a quem Lula se gaba de ter dado duas eleições. Ou ela não quer ou ela não sabe governar. Como ela demonstra um forte desejo de permanecer no cargo, a segunda alternativa — a da inaptidão para o cargo que ocupa — parece a mais provável.

A MESMA VERVE
O destempero de Lula diante de sua condução para depoimento tem explicação — e ela não está, como ele e seus aliados se apressaram em dizer — no fato de ter sido levado à força para prestar depoimento. Com sua lábia e capacidade de convencer e influenciar pessoas, ele tiraria de letra e talvez até convencesse os policiais federais que o interrogaram de que realmente não tem nada a ver com o tal sítio em Atibaia nem com o tríplex no Guarujá. O problema é que o ex-presidente não aparece sozinho nessa história.
Lula sabe perfeitamente que dona Mariza Letícia, que também deve depor na Lava-Jato, e seus filhos Fábio Luiz e Luiz Cláudio, não têm a mesma verve nem demonstram a mesma habilidade em tratar uma versão fantasiosa como se fosse a mais absoluta verdade. Essa, no fundo, talvez seja sua maior preocupação. Lula age como um leão que luta para salvar seu bando travesso da ameaça dos inimigos. O problema é que, como todo leão, ele treme diante de um rato — ainda que seja um ratinho, um camundongo. No caso do ex-presidente, o rato não está na Lava-Jato nem na oposição, a quem ele publicamente culpa por seus dissabores. Ele está, provavelmente, no seu próprio quintal.

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