sexta-feira, 4 de março de 2016

PIB? QUE PIB?




José Antônio Bicalho



Já era esperado e não causou espanto a queda do PIB brasileiro em 3,8% no ano passado, divulgado ontem pelo IBGE (leia matéria do repórter Bruno Moreno nas páginas 8 a 10). Mas prestem atenção a alguns dados que mostram mais fielmente o tamanho da encrenca.
O primeiro, a evolução do PIB trimestre a trimestre, comparado ao mesmo período do ano anterior: -2% no primeiro; -3% no segundo; -4,5% no terceiro e -5,9% no quarto. A conclusão óbvia é a de que a retração vem se acelerando e não se sabe onde irá parar. Mas não é bem assim.
Quando observamos a evolução do PIB novamente trimestre a trimestre, mas desta vez comparado ao trimestre imediatamente anterior, encontramos os seguintes percentuais: -0,8% no primeiro, -2,1% no segundo, -1,7% no terceiro e -1,4% no quarto. Isso significa que a maior aceleração da retração da economia se deu na passagem do primeiro para o segundo trimestre do ano passado, para a partir de então perder velocidade.
Esta leitura é importante porque somente a desaceleração da queda nos permite alguma previsão sobre a inversão da curva recessiva. Quando acontece o contrário, ou seja, quando a economia cai de maneira cada vez mais acelerada, fica impossível calcular até onde se dará o mergulho.
Se seguirmos ao ritmo verificado na passagem do terceiro para o quarto trimestre, em que o fator de desaceleração da queda do PIB foi de 0,3 ponto percentual, demoraríamos cinco trimestres para voltarmos a crescer. Ou seja, voltaríamos à área azul do gráfico do PIB apenas no primeiro trimestre de 2017.
Instrumentos
É lógico que existem instrumentos e maneiras de fazer com que essa passagem da recessão para o crescimento se dê de maneira mais rápida e vigorosa. Ontem, o próprio Ministério da Fazenda, em referência aos números do PIB divulgados, soltou nota na qual prevê a estabilização da economia para o terceiro trimestre deste ano e retorno ao crescimento no quarto trimestre.
O problema é que a economia está contaminada pela deterioração do ambiente político. A insegurança gerada pela possibilidade de uma ruptura do processo democrático simplesmente tirou toda a confiança dos empresários para investir.
A evolução dos investimentos das empresas em capital fixo (máquinas, equipamentos, infraestrutura e modernização) mostra isso e é de impressionar. Estes investimentos, que são parte significativa da composição do PIB, caíram 14,1% no ano passado, e 18,5% no último trimestre.
Os números mostram que ninguém está disposto a investir sem uma perspectiva de recuperação da demanda. Quem deveria sinalizar isso é o governo, que mesmo fragilizado ainda detém em suas mãos as ferramentas para a indução do crescimento, mas que insiste em não ousar na condução da política macroeconômica.

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