José Antônio Bicalho
Já era esperado e não causou espanto a
queda do PIB brasileiro em 3,8% no ano passado, divulgado ontem pelo IBGE (leia
matéria do repórter Bruno Moreno nas páginas 8 a 10). Mas prestem atenção a
alguns dados que mostram mais fielmente o tamanho da encrenca.
O primeiro, a evolução do PIB
trimestre a trimestre, comparado ao mesmo período do ano anterior: -2% no
primeiro; -3% no segundo; -4,5% no terceiro e -5,9% no quarto. A conclusão
óbvia é a de que a retração vem se acelerando e não se sabe onde irá parar. Mas
não é bem assim.
Quando observamos a evolução do PIB
novamente trimestre a trimestre, mas desta vez comparado ao trimestre
imediatamente anterior, encontramos os seguintes percentuais: -0,8% no
primeiro, -2,1% no segundo, -1,7% no terceiro e -1,4% no quarto. Isso significa
que a maior aceleração da retração da economia se deu na passagem do primeiro
para o segundo trimestre do ano passado, para a partir de então perder
velocidade.
Esta leitura é importante porque
somente a desaceleração da queda nos permite alguma previsão sobre a inversão
da curva recessiva. Quando acontece o contrário, ou seja, quando a economia cai
de maneira cada vez mais acelerada, fica impossível calcular até onde se dará o
mergulho.
Se seguirmos ao ritmo verificado na
passagem do terceiro para o quarto trimestre, em que o fator de desaceleração
da queda do PIB foi de 0,3 ponto percentual, demoraríamos cinco trimestres para
voltarmos a crescer. Ou seja, voltaríamos à área azul do gráfico do PIB apenas
no primeiro trimestre de 2017.
Instrumentos
É lógico que existem instrumentos e
maneiras de fazer com que essa passagem da recessão para o crescimento se dê de
maneira mais rápida e vigorosa. Ontem, o próprio Ministério da Fazenda, em
referência aos números do PIB divulgados, soltou nota na qual prevê a
estabilização da economia para o terceiro trimestre deste ano e retorno ao
crescimento no quarto trimestre.
O problema é que a economia está
contaminada pela deterioração do ambiente político. A insegurança gerada pela
possibilidade de uma ruptura do processo democrático simplesmente tirou toda a
confiança dos empresários para investir.
A evolução dos investimentos das empresas
em capital fixo (máquinas, equipamentos, infraestrutura e modernização) mostra
isso e é de impressionar. Estes investimentos, que são parte significativa da
composição do PIB, caíram 14,1% no ano passado, e 18,5% no último trimestre.
Os números mostram que ninguém está
disposto a investir sem uma perspectiva de recuperação da demanda. Quem deveria
sinalizar isso é o governo, que mesmo fragilizado ainda detém em suas mãos as
ferramentas para a indução do crescimento, mas que insiste em não ousar na condução
da política macroeconômica.
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