quinta-feira, 10 de março de 2016

ELE É MUITO GRANDE NÃO TEM COMO ERRAR



  

Bruno Terra Dias*




O cinema e a televisão tornam conhecidos mitos e lendas de outros povos, apresentando-os com naturalidade, a mesma com que um povo culturalmente colonizado assume, como própria, a experiência do dominante. Não se trata de novidade, mas de algo que se constata na história da humanidade.
É assim que super-heróis do século 20, em franquias cinematográficas, prevalecem em bilheterias multimilionárias e a arte autóctone sobrevive em circuitos alternativos. Anti-heróis nacionais enfrentam, como Macunaíma, adversidades importadas, e o que brota do solo nacional aparenta distância que se não reconhece no estrangeiro.
A lenda de Beowulf, levada aos cinemas e às telas dos televisores nos lares brasileiros, se fez assimilar. Nossa juventude, ignorando tratar-se de poema épico medieval, admira-se com os valores de bravura em combate contra o sombrio monstro Grendel, em representação recheada de efeitos especiais do eterno embate entre o bem e o mal. O reino de Hrothgar, cujos melhores combatentes são mortos pelo sombrio Grendel, habitante de ermos que desloca protegido pela noite, será defendido pelo herói vindo de um povo amigo. O monstro será derrotado.
A simplicidade do universal adequa-se a momentos da vida das Nações, indistintamente. Assim foi na Espanha, com o rei Juan Carlos sucedendo a ditadura Franco; na Polônia, com o sindicato Solidariedade e a conquista de uma liberdade ansiada desde a II Guerra Mundial; na Índia, e tantas Nações colonizadas, com Gandhi e mitos da descolonização mundo afora.
Herói e monstro contam histórias de escolhas que os levaram a destinos antagônicos, com enfrentamentos ao final, reeditando antigas contendas, como sói ocorrer entre ditadura e democracia, liberdade e cerceio, garantias retóricas e materiais, cultura e opressão, interditos e violações.
Em momentos definitivos, os enfrentamentos ocorrem em ambientes ambivalentes e pode ser difícil entender as razões de cada um dos envolvidos. É necessário ter ideias claras e princípios bem enraizados na consciência para não se deixar levar por empolgações superficiais e propósitos contraditórios.
Algo, entretanto, fica claro na maioria das vezes: violências, argumentativas ou físicas, são recíprocas, todos ferem e são feridos. A diferença entre o bem e o mal, progressistas e reacionários, nas perspectivas individual e coletiva, não deve ser questão de vencedores e vencidos. Valores superiores, que se não confundem com o imediatismo demagógico e nem com o curto horizonte fascista, prevaleceram entre povos que fizeram de sua experiência um exemplo.
*Juiz de Direito, ex-presidente da Associação dos Magistrados Mineiros ( Amagis)

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