Manoel Hygino
Aconteceu em fevereiro e já fiz um
primeiro comentário. O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro,
acatando pedido do Ministério Público, mandou recolher “Minha Luta”, o livro de
Hitler, ficando ainda proibida sua venda, exposição e divulgação. Desde o mês
anterior, seria lançada pela Centauro e em março próximo pela Geração. A
sentença ressaltava que o livro “tem o condão de violar a lei penal, pois
fomenta a prática nefasta da intolerância a parcela determinável das pessoas
humanas”.
A Centauro fizera uma edição
brasileira em 2001, sendo processada em 2005. Setenta anos após a morte do
autor, o livro caiu em domínio público e o estado alemão da Baviera publicou
uma edição crítica, talvez induzindo a Centauro a voltar aqui ao projeto de
quinze anos antes.
Com a derrota na primeira grande
guerra, a Alemanha, poderosa, e os alemães, orgulhosos, entraram numa situação
de angústia e humilhação. Havia uma psicose coletiva. Lionel Richard definiu: a
nação perdeu o sentido de continuidade histórica e a vontade de dominar os
acontecimentos. Caira no vazio buscando uma ordem sem condição de alcançá-la.
Em 1933, no primeiro mês, Hitler fora
convidado a chanceler pelo presidente da República, Hindenburgo. A partir de
fevereiro, nazistas organizaram um sistema de repressão, contando com a
colaboração de dezenas de milhares de funcionários zelosos da defunta República
de concordância e com adesão por passividade, de milhões de cidadãos,
desesperados com a ineficácia do regime.
O livro de Hitler tem dois volumes. O
título original, em português, do primeiro, era como “Quatro anos e meio de
luta contra mentiras, estupidez e covardia”. O autor pretendia criar na
Alemanha, um outro tipo de Estado, alicerçado com a ideia de raças humanas,
adotando o conceito do homem forte, o alemão ariano.
O povo, sofrido e carente de
incentivo, comprou o livro e suas ideias. Em 1933, o rendimento foi superior a
1 milhão de marcos, dos quais 10% de direitos autorais.
Em 24 de março de 1933, são dados
plenos poderes a Hitler pela Câmara dos Deputados. O jornal nazista “Volkischer
Beobachter”, no dia seguinte, anunciou: “O sistema parlamentar capitula diante
da nova Alemanha (...) Um grande empreendimento começa! Chegou o dia do
Terceiro Reich”. Naquela data, aliás, dezenas e milhares de alemães já estavam
encerrados em um campo de concentração”.
A tomada do poder por Hitler
consumava-se. A menina holandesa, colega de Anne Frank, Nannete Blitz Jonig, em
seu “Eu sobrevivi ao holocausto”, fez um retrato do projeto de Hitler:
“O Estado nazista chegou ao poder a
partir de um discurso e atitudes radicais desde o início. Claramente, foi um
Estado construído para acabar com as diferenças e dominar as pessoas por meio
de um discurso com uma perigosa ideologia. Esses feitos de horror (descritos
por Nanette) que os nazistas estavam praticando eram aceitos e apoiados por
grande parte da população alemã, em virtude de um pano de fundo de crescimento
econômico. A minha vida em Bergen-Belsen, a nulidade em que os alemães estavam
transformando os judeus na Segunda Guerra Mundial, era uma consequência dessa
perigosa ideologia”.

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