segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O HOMEM DEVE ESTAR ACIMA DE TODAS AS COISAS




Frei Beto




Em agosto de 1945, duas cidades japonesas foram varridas do mapa: Hiroshima e Nagasaki. Mais de 200 mil pessoas perderam a vida atingidas pelas bombas atômicas
lançadas por aviões estadunidenses.

Por detrás das bombas estavam homens graduados nas melhores universidades do mundo. Robert Oppenheimer, que chefiou o Projeto Manhattan, do qual resultaram os
artefatos mortíferos, era físico teórico formado por Harvard, em 1925. Após a catástrofe japonesa, foi acometido de crise de consciência. Mais tarde, posicionou-se a
favor de maior controle na proliferação de armas nucleares, o que lhe custou a acusação de ser espião soviético.
Edward Teller, colega de Oppenheimer no Projeto Manhattan, nascido na Hungria, graduou-se em engenharia química na Alemanha. Canalizou sua inteligência para inventar a bomba de hidrogênio, 750 vezes mais potente que a de Hiroshima. Na década de 1980, destacou-se como mentor do Programa “Guerra nas estrelas”, patrocinado pelo
presidente Reagan.

Se Oppenheimer tivesse recebido uma formação humanista baseada em valores morais, teria chefiado o Projeto Manhattan? Se Teller tivesse recebido uma formação humanista fundada na ética, teria criado a bomba de hidrogênio? E os presidentes Roosevelt e Truman teriam autorizado o Projeto Manhattan e o genocídio nuclear em Hiroshima e
Nagasaki?

Uma verdadeira formação humanista supõe encarnar valores como solidariedade, cooperação, luta por justiça, defesa da dignidade de todos os seres humanos e preservação ambiental.

Dentro de uma universidade, toda a diversidade de disciplinas, da filosofia à medicina, segue o mesmo objetivo de constituir uma instituição voltada a formar mão de
obra qualificada para o mercado, e raramente profissionais em condições de responder às demandas da população.

A universidade precisa sempre se submeter à autocrítica. Perguntar-se se é uma ilha do saber indiferente às reais necessidades do país ou se constitui uma usina capaz
de dotar a nação de ferramentas teóricas e práticas para solucionar os problemas que a afetam.

Os EUA se espelharam no modelo alemão, pois necessitavam de profissionais qualificados para expandir seu parque industrial. Estabeleceu-se estreito vínculo entre
empresas e universidades. O princípio estratégico pedagógico é fortalecer o mercado e a apropriação privada da riqueza.

O caráter desse projeto pedagógico das universidades dos Estados Unidos se encontra bem definido nestas palavras de Marx e Engels: “Todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal a seus ‘superiores naturais’, a burguesia os despedaçou sem piedade, para só deixar subsistir, de homem para homem, o laço frio do interesse. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca. Substituiu as numerosas liberdades, conquistadas com tanto esforço, pela única e implacável liberdade de comércio”.

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