segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

NINGUÉM INVESTE




José Antônio Bicalho


 
Na semana passada ficamos sabendo o tamanho do estrago da crise na indústria mineira. Na sexta-feira, o IBGE divulgou a queda de 7,9% na produção física em Minas (2015 contra 2014), contra um recuo médio nacional de 8,3%. Trata-se de um indicador importante, mas menos que o divulgado poucos dias antes pela Fiemg, que mede a evolução do faturamento (que no final das contas é o que verdadeiramente importa). Pelas contas da Fiemg, as indústrias de Minas faturaram 15,9% menos no ano passado que em 2014, enquanto a queda média nacional foi de 8,9%.

A explicação para que o faturamento tenha caído mais do que a produção física está na mineração. Ao longo do ano, a Vale pôs em marcha sua estratégia de compensar a derrocada dos preços do minério com aumento dos volumes produzidos. Produziu muito, mas nem de longe o suficiente para manter o caixa do ano anterior (o que será confirmado no balanço do último trimestre de 2014 da empresa, a ser divulgado nesta ou na próxima semana). Daí o volume geral da indústria mineira não ter caído tanto quanto o faturamento.

A crise é grave e está sendo mortal para indústrias das cadeias dos setores mais atingidos, como o automotivo, o siderúrgico e o de máquinas e equipamentos, nos quais várias já fecharam as portas. Sobre esse momento ruim, as perspectivas para este ano e, principalmente, as alternativas para se sair da crise, conversei com Lincoln Gonçalves, presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Fiemg.

Matriz de desenvolvimento

O ponto central da virada, segundo Lincoln, seria uma mudança radical do foco da matriz de desenvolvimento para o investimento em infraestrutura (já abordada nesta coluna por diversas vezes). “O problema é que não há sinalização nesse sentido e isso é desesperador e desmotivador para os empresários”, afirma Lincoln.
Ele advoga que a matriz focada no consumo e no crédito está esgotada (o que a coluna concorda apenas em parte), e que as medidas isoladas de injeção de crédito na economia, em curso ou em gestação no Ministério da Fazenda, gerarão um “voo de galinha” (com o que não há discordância).

Mas de onde viria o dinheiro para aumentar o investimento em infraestrutura? Da agilização dos processos de concessão e de um grande esforço de atração do capital internacional para grandes e médios projetos. Os números ainda não foram fechados pelo governo federal, mas a Fiemg calcula que os investimentos em infraestrutura no ano passado não teriam ultrapassado os 0,5% do PIB, e que ficarão entre R$ 35 e R$ 50 bilhões. Lincoln defende uma alavancagem desses investimentos, se possível ainda para este ano, para algo entre 1,5% e 2% do PIB, numa ordem entre R$ 150 bilhões e R$ 200 bilhões.

Conversamos ainda sobre a urgência de uma agenda política bem definida que garanta o encaminhamento das reformas previdenciária e tributária, “porque o ajuste fiscal depende delas”, como o complemento necessário para recuperar o clima de otimismo entre os empresários. E otimismo é a palavra-chave para fazer a roda voltar a girar.

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