Márcio Doti
Está ficando muito difícil saber
exatamente o que causa ou não vergonha no Brasil dos nossos dias. Ouvir os
rompantes de inocência e arrogância da presidente Dilma e do ex-presidente Lula
sobre o sítio em Atibaia, e tudo o mais que cerca o líder petista, é algo de
envergonhar. É inaceitável que ainda exista espaço para essas manifestações sem
que a elas corresponda um panelaço ou um grande alarido. Pelo visto, não é
apenas o mosquito da dengue, chikungunya e do zika que sobrevive a despeito de
fazer tão mal e causar tantos danos sem que dele se incumba com competência a
sociedade e o estado brasileiros.
Segundo o jornalista investigativo
argentino Hugo Alconada Mon, só uma pressão social será capaz de acabar com a
corrupção sistêmica no Brasil e no resto da América Latina. Parece incrível que
um país tão grande, com tanta gente indignada pela corrupção, comprovada por
competentes operações policiais, ainda seja um país onde a meia dúzia que
defende os responsáveis pelo quadro tão feio seja capaz de reagir. E de fazer
isto com contundência muito maior do que os milhões de atingidos e
prejudicados.
Imagina que agora militantes vão às
ruas vestindo camisas onde estará escrito: “Lula é meu amigo, mexeu com Lula,
mexeu comigo”. Tal e qual no caso do notório Aedes aegypti, onde o governo
ensaia uma satisfação à sociedade mandando às ruas as Forças Armadas com
folhetos em que se leem advertências, apelos, chamamentos à campanha de
eliminação de ambientes onde possam se instalar os ovos, as larvas e depois
decolar os mosquitos assassinos.
Repetem-se tentativas de décadas que
foram passando à medida em que o mosquito avançava mais forte e perigoso. E
ninguém tem vergonha de ir às ruas com medida tão tímida, insuficiente, incapaz
de deter o avanço das asas que contaminam agora com uma doença muito cruel. O
papel nada diz sobre os milhões negados às pesquisas, às ações de combate aos
focos, ao trabalho repressivo que ficou de lado porque os guichês oficiais
estavam ocupados mandando dinheiro para financiar grandes empreiteiras e coisas
parecidas.
SOBRAM VÍCIOS
Depois de uma reunião com Lula, Dilma
saiu com um discurso pronto para ser propalado aos quadro cantos, que o seu
criador é inocente e já preparando o terreno para sua sucessão, afirmando que o
mundo precisa de um líder como Lula.
A partir de hoje, reabrem-se os
plenários, sobretudo, os de Brasília, para um tempo em que, tal e qual no caso
do Aedes aegypti, pode sobrar incompetência, indiferença, ausência completa de
compromisso com o que é interesse público.
Cada um que tranque suas janelas,
feche as suas portas, esconda-se debaixo da cama. Há nos ares um mosquito
armado de doenças tal e qual sobram vícios nos ambientes da política, da administração
pública e das instituições brasileiras.

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