Einstein acertou:
cientistas provam que ondas gravitacionais existem
Descoberta, feita 101 anos após teoria do físico, é
a nova favorita para o Prêmio Nobel
Ondas gravitacionais geradas por
colisões de buracos negros foram observadas pela primeira vez pelo LIGO
RIO — Cento e um anos depois de Albert Einstein publicar a Teoria da
Relatividade geral, uma de suas ideias mais revolucionárias acaba de ser
provada. Cientistas anunciaram nesta quinta-feira, dia 11, em Washington, que
dados do experimento LIGO (Laser Interferometer Gravitational-Wave Observatory)
confirmam que as ondas gravitacionais — capazes de ondular o tecido
espaço-tempo — de fato existem.
Em coletiva de imprensa às 10h30 (horário local, o que significa às
13h30 no horário de Brasília), a equipe do LIGO declarou ter descoberto
ondulações no espaço-tempo criadas pela colisão de dois buracos negros maciços,
de 150 km de diâmetro cada um, acelerando à metade da velocidade da luz. As
ondas criadas a partir da fusão dos dois buracos negros viajam a 1,3 bilhão de
anos e esticam o espaço em uma direção e o apertam em outra, são como vibrações
do tecido do universo que fazem tudo "tremer". Apesar de toda a
energia gerada nesse processo, esse fenômeno chega ínfimo à Terra, com cerca de
um bilionésimo do diâmetro de um átomo e precisa de instrumentos extremamente
precisos para ser detectado — um dos maiores méritos do LIGO.
— Nós detectamos ondas gravitacionais — disse David Reitze, diretor
executivo do LIGO, recebendo uma demorada salva de palmas de todos na coletiva.
— Elas foram detectadas em 14 de setembro de 2015 e são exatamente o que
Einstein previu que aconteceria na colisão de dois buracos negros.
A Fundação Nacional de Ciência transmite o anúncio da descoberta, ao
vivo, pela internet. A comunidade científica internacional é unânime em
considerar que a descoberta é uma das maiores das últimas décadas e é a
favorita para ganhar o próximo Prêmio Nobel. O achado é chamado por alguns de o
Santo Graal dos físicos modernos.
Ulrich Sperhake, físico teórico da Universidade de Cambridge que estuda
a relação entre ondas gravitacionais e buracos negros, foi taxativo:
— Isto nada mais é senão o início de uma nova era na astronomia
observacional gravitacional — pontuou.
Processo que mostra
a colisão de dois buracos negros, o que acontece em pouquíssimos segundos -
Divulgação/LIGO
Cientistas mundo afora têm se esforçado, ao longo do último século, para
obter sinais da existência de ondas gravitacionais, mas seus esforços, até o
momento, tinham sido frustrados por falsas evidências e instrumentos que não
eram suficientemente sensíveis para detectar as ondas no momento em que chegam
à Terra.
O sucesso, enfim, veio com o LIGO, projeto fundado em 1992 nos EUA e
dono do mais vultoso patrocínio da Fundação Nacional de Ciência, importante
órgão americano. O experimento reúne um grupo internacional de de mil
cientistas, oriundos de mais de 40 instituições de 16 países, que trabalham no
projeto há 25 anos. Eles têm detectores em Washington e em Louisiana.
ÚLTIMA GRANDE PREVISÃO DE EINSTEIN
Quando Einstein publicou sua Teoria da Relatividade geral, em 1915, ele
mudou para sempre o modo como cientistas veem o universo. A teoria mostrou que a
massa é capaz de curvar o espaço-tempo, um efeito que tem uma infinidade de
implicações. Uma delas é que a luz de estrelas distantes se dobra em torno do
Sol, implicação confirmada por Arthur Eddington durante o eclipse solar de
1919.
A detecção de ondas gravitacionais assinala a última grande predição da
relatividade geral. Ela demonstra que as equações elaboradas por Einstein
estavam corretas. Mas há mais para se descobrir sobre ondas gravitacionais do
que simplesmente provar que elas existem, de acordo com os cientistas. A partir
do achado trazido pela equipe do LIGO, novos instrumentos podem ser construídos
para ajudar a detectar ondas gravitacionais surgidas após a colisão de buracos
negros e outros eventos altamente energéticos em todo o universo.
MESES DE RUMORES AGITARAM CIENTISTAS MUNDO AFORA
Rumores de que a equipe do LIGO tinha detectado ondas gravitacionais têm
circulado pela comunidade astrofísica durante meses. Mas muitos pesquisadores
estavam céticos e temiam que os rumores pudessem ter sido provocados por sinais
sintéticos que são adicionados aos dados para testar procedimentos analíticos
da equipe.
— Após todos os rumores ao longo dos últimos meses, eu certamente espero
que eles anunciem uma detecção neste momento — disse no início desta semana ao
"Guardian" Alberto Sesana, pesquisador do grupo de ondas
gravitacionais da Universidade de Birmingham, na Inglaterra. — Nós temos que
ter em mente que o LIGO é um experimento, e que é o único no mundo que pode
detectar tais fontes. Se eles afirmam ter detectado ondas gravitacionais, isso
não pode ser confirmado por qualquer outro instrumento, e que é sempre uma
questão a considerar. Mas eles têm sido muito cautelosos em fazer isso
corretamente, então estou confiante de que eles têm uma evidência clara e
forte.


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