'Spotlight' leva Oscar de
melhor filme e DiCaprio finalmente conquista estatueta
Estadão Conteúdo

Foi um daqueles momentos de emoção que vão fazer história no prêmio da
Academia. E o Oscar de trilha sonora vai para... Ennio Morricone, por Os Oito
Odiados. O público levantou-se para aplaudir o veterano compositor dos
spaghetti westerns de Sergio Leone. Em italiano, e com direito a tradutor,
Morricone disse que não existem grandes trilhas sem grandes filmes. E agradeceu
a Quentin Tarantino. Emoção maior na 68.ª festa do Oscar, que se encerrou na
madrugada desta segunda, 29, só o momento mais esperado da noite. O prêmio de
melhor ator. Leonardo DiCaprio polarizou as apostas do ano. Leva ou não leva?
Levou - em sua quinta tentativa, a quarta na categoria de melhor ator, ele
venceu pelo papel como Hugh Glass em O Regresso, de Alejandro
González-Iñárritu.
Antes dele, o próprio Iñárritu ganhou seu segundo prêmio consecutivo como
melhor diretor, depois do primeiro, no ano passado, por Birdman. Iñárritu
agradeceu à Academia e a seu ator, dizendo que DiCaprio colocou sua alma no
personagem do grisly man, que virou um símbolo da tenacidade do homem do Oeste.
O diretor mexicano acrescentou que estamos vivendo um momento histórico -
"Essa geração tem o privilégio de poder acabar com os preconceitos."
Foi muito aplaudido, mas não levou o principal prêmio da noite. O melhor filme
foi Spotlight - Segredos Revelados, de Tom McCarthy, com sua intransigente
defesa do jornalismo investigativo, num momento em que o impresso sofre a
concorrência do online (e da proliferação das redes sociais).
E a Academia não deixou barato. Achou até um comediante afrodescendente para
fazer sua defesa. Afinal, a discussão sobre racismo no prêmio da Academia
atingiu essa edição como nenhuma outra. Chris Rock começou fazendo piada com o
Oscar ‘branco’, mas, à medida que esticava sua piada única, ficava cada vez
mais evidente que o objetivo era livrar o cinemão - a indústria, a Academia de
Hollywood - da acusação de racismo. E Chris Rock insistiu. "Estou aqui
para apresentar o Oscar, também conhecido como prêmio das pessoas
brancas." E mais - "Uau, estou vendo 15 negros trabalhando ali
atrás". Adiante, ele fez a ressalva - "Existem, sim, negros nos
filmes concorrentes". Entraram as imagens de Joy, de David O. Russell.
Jennifer Lawrence empacada diante da câmera, na cena do estúdio. Whoopi
Goldberg, como a encarregada da limpeza, deixa a vassoura de lado e empurra a
garota branca - "C’mon, girl, uma black woman já teria dito seu
texto". Perdido em Marte - quanto custaria salvar um astronauta negro?
Valeria a pena? Não foram piadas de muito bom gosto, mas, mesmo tentando livrar
a cara da Academia, Chris Rock insistiu na posição periférica dos negros na
premiação deste ano.
Ao invés do Oscar de melhor ator coadjuvante, a premiação começou este ano
pelos Oscars de roteiro. As cenas dos filmes indicados que apareciam na tela
eram complementada com um extrato do roteiro, para o público acompanhar o
diálogo e até as marcações de câmera e atores. O recurso não era 100% original
- já foi usado antes -, mas valeu. E venceram A Grande Aposta (roteiro
adaptado) e Spotlight - Segredos Revelados (original). Agradecendo o prêmio, o
diretor e corroteirista Tom McCarthy, de Spotlight, não deixou por menos -
"Esperamos que, com essa premiação, aumente a transparência para casos
como esses envolvendo a Igreja Católica. Com visibilidade como essa, outras
vítimas e envolvidos poderão se pronunciar e ter a coragem de dizer a
verdade".
O melhor coadjuvante do ano passado, J.K. Simmons - Whiplash - veio apresentar
o prêmio para a melhor atriz coadjuvante. Venceu Alicia Vikander, por A Garota
Dinamarquesa. Nenhuma grande surpresa - Alicia venceu o prêmio da categoria no
Sindicato dos Atores. O prêmio de ator coadjuvante saiu quando a cerimônia já
ultrapassava duas horas de duração. Quem jogava suas fichas em Sylvester
Stallone - e no reboot de Rocky, o ótimo Creed - viu Mark Rylance levar o o
prêmio por Ponte dos Espiões. Após garantir que não preparou nenhum discurso,
Rylance elogiou as palavras de Chris Rock durante a cerimônia. "Ele evitou
que aumentasse o mal estar, que vinha crescendo nos último dias. Da mesma forma
que não sou a favor de se distinguir ator principal de ator coadjuvante, não
sou favorável da distinção de raças."
Uma hora de cerimônia e Mad Max - Estrada da Fúria já havia ganhado três
prêmios - melhores figurino, direção de arte e maquiagem. Mais um pouco e viria
a quarta estatueta - melhor montagem. E a quinta - mixagem de som. E a sexta -
edição de som. Já que a Academia não consideraria seriamente premiar a alegoria
visionária de George Miller - afinal, um filme de ação -, pelo menos
atribuiu-lhe os troféus das categorias que sustentavam, como pilares, a
audaciosa proposta estética (operística?) do diretor. E o Brasil nãso chegou
lás., Alê Abreu viu o prêmio animação ser atribuído a Divertida Mente - o
favorito da Pixar - e não a seu belo O Menino e o Mundo.